Na mitologia do sudeste asiático, Kuntilanak é um fantasma vampírico de uma mulher que morreu enquanto grávida. No longa Original Netflix “Kuntilanak: O Espelho do Mal”, a entidade é apenas uma versão pior de Samara, da franquia “O Chamado”. Dirigida por Rizal Mantovani – que já realizou três outros filmes sobre essa lenda – a produção segue na linha de “O Terceiro Olho”, o último terror indonésio distribuído pelo serviço de streaming, e parece uma mistura de ideias de longas diferentes, sendo nenhuma delas original.
A história se passa em um orfanato cuja dona e cuidadora viaja, deixando a sua sobrinha, Lydia (Aurélie Moeremans) cuidando das cinco crianças que moram ali. Para surpreender a matriarca, Glenn (Fero Walandouw), namorado de Lydia e estrela de um reality show sobre fantasmas, leva de presente um espelho em boas condições que encontrou durante as gravações de seu programa. Não demora para que as crianças comecem a ter pesadelos e visões com um espírito no espelho, que logo identificam como uma kuntilanak que planeja levá-los para o seu mundo sobrenatural.
O maior problema com “Kuntilanak: O Espelho do Mal” se revela bem cedo. Após uma cena inicial de terror, que termina com um rastro de sangue levando ao espelho, o longa imediatamente se torna um tipo de comédia infantil, incluindo efeitos sonoros cômicos de fundo toda vez que algum personagem fala algo engraçado. O restante da produção toda tem essa confusão tonal que oscila entre “Espelhos de Medo” e “Detetives do Prédio Azul” e é até difícil entender se deveria ou não ser dirigida ao público infantil, porque apesar do humor, também tem visuais perturbadores e, como esperado, uma quantidade exagerada de jump scares.
Apesar de direção confusa, o resto da técnica não deixa a desejar. A fotografia é decente, no padrão da onda de terror “revivalista” dos últimos anos, e o design de produção constrói itens memoráveis – como o espelho homônimo – e ambientes macabros. A maior decepção em questão de conceito é a vilã principal do filme, já que seu visual é apenas uma assombração genérica, com o vestido branco, cabelos caindo sobre o rosto e, obviamente, uma boca enorme que se expande em um vácuo negro através uma computação gráfica horrível. O restante dos efeitos presentes no longa, porém, são realizados de maneira prática e com maquiagem, o que é uma surpresa agradável.
O roteiro, escrito por Alim Sudio, poderia funcionar como uma comédia-terror se feito de maneiro menos conflitante, mas ainda assim apresenta diversos pontos fracos, como o personagem de Miko (Ali Fikry), a criança que convenientemente está lendo um livro sobre kuntilanaks e não perde a oportunidade de explicar o filme sempre que possível, ou o personagem de Glenn, que apresenta um reality show de casas assombradas mas que só parece existir para tapar buracos no script.
Além disso, a trama focada em um grupo de crianças parece feita para embarcar no sucesso de “It – A Coisa” e “Stranger Things”, mas enquanto os personagens dessas produções são diferentes o suficientes, os de “Kuntilanak” não são muito desenvolvidos ou cativantes, apesar das atuações decentes. O roteiro também sofre com a falta de originalidade, utilizando de todos os clichês possíveis de assombrações: cadeira que balança sozinha, monstro embaixo da cama, um gato que dá susto (duas vezes), uma aparição debaixo de um pano, o fantasma saindo do espelho do mesmo modo que a Samara sai de uma tela e a TV com chiado, saída diretamente de “Poltergeist”.
“Kuntilanak – O Espelho do Mal” é uma produção confusa, que não sabe se quer ser um filme para toda a família ou um terror psicológico. Mesmo com uma técnica passável, o longa falha em impressionar e, assim como “O Terceiro Olho”, parece só uma mistura de fórmulas de filmes de sucesso, regurgitadas em uma história redundante e supérflua.
https://www.youtube.com/watch?v=3yxIVVs5lTE
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