Em tempos de líderes brasileiros tão repugnantes e insignificantes, é reconfortante conhecer a história de uma figura como Sérgio Vieira de Mello. A sua vida e carreira mostram que o Brasil pode ser protagonista internacional em áreas importantes como os direitos humanos e a mediação de conflitos. Ele, que no começo dos anos 2000 foi Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, levou o Brasil a ser reconhecido por defender a diplomacia e a justiça, algo que o atual governo de Jair Bolsonaro fez questão de destruir ao se aliar com regimes ditatoriais e ao cometer outras barbaridades com repercussão internacional. Para celebrar Vieira de Mello e esquecer um pouco da atualidade destrutiva, nada melhor que assistir a cinebiografia “Sergio”, disponível na Netflix.
No filme de Greg Barker, Sérgio (Wagner Moura) é enviado para o Iraque para monitorar a ocupação americana logo após a queda de Saddam Hussein. Visto com bons olhos pela Casa Branca e pelo Secretário-Geral da ONU, à época Kofi Annan, por ter conseguido excelentes resultados em conflitos no Camboja, em Kosovo, Ruanda e Timor-Leste, o diplomata brasileiro é a única opção para a missão. Além disso, ele era uma estrela da diplomacia, sendo considerado, inclusive, para suceder Annan no posto de Secretário-Geral. Toda essa questão política e social é costurada, através de flashbacks, com o romance que Sérgio teve com a argentina Carolina Larriera (Ana de Armas), o que confere à película um ar romântico e delicado em momentos em que a tensão precisa ser aliviada ou suspensa.
As ótimas atuações de Wagner Moura (que enche seus gestos e expressões de ternura) e de Ana de Armas (sempre competente em construir dramaticamente suas personagens), assim como a química que os dois possuem por já terem trabalhado juntos em “Wasp Network” — no qual também fazem par romântico — são responsáveis por esse romantismo durante os flashbacks citados acima, que mostram como o casal se conheceu e como foi seu tempo junto antes do desafio de entrar em um país prestes a explodir. A montagem da brasileira Claudia Castello é na maior parte do tempo certeira nesses momentos, devido as essas idas e vindas entre o passado e o presente. No entanto, em um trecho específico no início do longa, ela confunde o espectador ao cortar secamente uma importante cena que só será retomada no fim do terceiro ato, isso pelo simples artifício dramático, que é interessante, mas poderia ter sido feito de forma menos brusca. Nada tão grave que atrapalhe o seu bom trabalho, entretanto.
Se a montagem, as atuações e o roteiro estão dentro de um bom padrão de qualidade, o trabalho de direção de Greg Barker é no máximo razoável, já que o cineasta não consegue criar rimas visuais ou, em outras palavras, “escrever” com sua câmera. Ele apenas apresenta os habituais planos e contra planos nos diálogos e outras obviedades acadêmicas, mostrando que sua caixa de ferramentas é limitada. Além disso, sua escolha de manter a câmera na maior parte do tempo perto do rosto de seus personagens, ou no máximo em primeiro plano, pode até ser interessante para captar os detalhes das atuações dos protagonistas, todavia traz à tona uma linguagem excessivamente televisiva com o exagero empregado.
Portanto, “Sergio” acaba se tornando apenas um bem-vindo pontapé inicial para as pessoas mais jovens que não conhecem os feitos de Sérgio Vieira de Mello (para se aprofundar, é interessante ler o livro de Samantha Power, que serviu como base para o roteiro: “O homem que queria salvar o mundo: uma biografia de Sergio Vieira de Mello”), porque, afinal, lhe falta poder cinematográfico para que se mantenha na memória das pessoas com o passar do tempo. Ainda bem que, em contrapartida, seu personagem principal nunca será esquecido.
Vídeo e Imagens: Divulgação/Netflix
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