Pouco antes de um grande jogo, a estrela do time de futebol americano do colégio local é brutalmente assassinada dentro de casa. Logo após a concretização do crime, toda a cidade recebe pelo celular um vídeo daquele jovem prodígio espancando um colega de time gay em um trote que saiu totalmente do controle. Em pouco tempo, Caleb (Burkely Duffield), a vítima da agressão, é acusado de ser o autor do crime e é rapidamente estigmatizado pelos outros estudantes.
Porém pouco depois, uma outra estudante é assassinada quando é revelado um podcast anônimo seu fazendo declarações racistas e endossando a ação de supremacistas em “defesa da raça branca”. Entretanto, por que Caleb seria o responsável por esse novo homicídio? Nisso, a pequena cidade onde “Tem Alguém na Sua Casa” se passa se vê mais uma vez no escuro, em especial a jovem Makani (Sydney Park), que também possui um segredo obscuro, tornando-a uma vítima em potencial desse serial killer.
Teoricamente, há uma premissa interessante na base do novo filme do diretor Patrick Brice: um assassino que, ao fazer justiça com as próprias mãos, expõe os cantos podres da “juventude promissora” de uma pacata comunidade rural da Heartland estadunidense. Não é nenhuma proposta inovadora – muito menos sutil –, mas há algo que possa ser explorado dentro de um filão de “terror social para jovens”. Afinal, como pode haver uma juventude promissora se algumas das tradições e dos pensamentos mais retrógrados e condenáveis de seus antecessores ainda estão tão vivos, mesmo que na surdina?
Todavia, à medida que novos assassinatos vão ocorrendo, a discussão no centro do roteiro de Henry Gayden (baseado no livro de Stephanie Perkins) caminha muito mais na direção de um debate sobre a tal da “cultura do cancelamento”, como se o serial killer fosse, na verdade, um serial canceller descontrolado que sai matando pessoas que fizeram coisas ruins, sem se dar ao trabalho de diferenciar comportamentos recorrentes de erros pontuais no passado. Novamente, não deixa de ser uma discussão relevante num momento em que se têm movimentos sociais e iniciativas populares que promovem mudanças sistêmicas relevantes sendo jogados no mesmo balaio que “treta” de Twitter acerca de declarações fora de contexto ou postagens de dez ou mais anos atrás que nem refletem mais o pensamento de quem as publicou. O longa, portanto, procura defender algo “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”: comportamentos retrógrados e odiosos devem ser combatidos fortemente, porém não dá para sair condenando todo mundo sem o mínimo de critério. Afinal, todos, até mesmo por ignorância ou imaturidade, são passíveis de errar.
Logo, o problema de “Tem Alguém na Sua Casa” não é necessariamente os assuntos que aborda, mas sim a maneira errática com que faz isso. A morte que estabelece a virada do roteiro, por exemplo, é completamente vazia, pois em nenhum momento há um maior empenho dos realizadores em contextualizar o vício em analgésicos da vítima. É apenas um motivo para ela ser assassinada e indicar que talvez o serial killer não tenha muita noção do que está fazendo. Pior ainda, como não há nenhum envolvimento do espectador com a vítima, sua morte é apenas patética e alvo de risos involuntários.
O mesmo ocorre no final, quando o filme descamba para o ridículo durante a revelação da identidade do serial killer. Apesar de, em tese, contribuir para a discussão empenhada pelo roteiro sobre quando uma possível boa ação foge de seu propósito e se torna danosa, esse momento é muito mal conduzido por Patrick Brice, tornando-se uma grande patacoada.
Se essa abordagem rasa e atrapalhada dos debates no centro da narrativa já impede o filme de alçar voos mais altos, a sua direção anônima típica dos enlatados da Netflix faz de “Tem Alguém na Sua Casa” algo decididamente esquecível. A fotografia é profissional, mas sem um pingo de criatividade; a trilha sonora tem algumas músicas boas, mas parece que foi selecionada por um algoritmo a partir de uma playlist indie de um serviço de streaming qualquer; até mesmo a cena de uso de drogas se restringe à combinação batida de música de festa genérica com câmera lenta.
Ainda assim, apesar de servir mediocridade em vários aspectos (inclusive nas sequências de horror que não assustam ninguém), “Tem Alguém na Sua Casa” pelo menos conta com um elenco competente (em especial os protagonistas Sydney Park e Théodore Pellerin) e cumpre o seu papel de filme descartável sem causar grandes danos à paciência do espectador.
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