Paulo José é um dos maiores artistas brasileiros que se possa pensar. Não apenas em qualidade, como logo é reconhecido, mas também pela abrangência de seu trabalho. Sua colaboração para as artes cênicas é bastante numerosa, e se estende por um período de tempo também bem extenso. Dessa forma, tratamos de um artista que começou no teatro, ainda na década de 50, e que mantém realizando memoráveis trabalhos, como em “O Palhaço”, de Selton Mello. Pode não ser uma de suas atuações mais marcantes ou reconhecidas, mas é inegável a sensibilidade que envolve esse papel e a interação que deteve com Selton Mello quando em cena. Metaforicamente, é uma bela mistura do que é clássico com o que é novo, com a nova geração.
É nessa intenção que “Todos os Paulos do Mundo” se desenrola. Mais do que uma cine-biografia poderia ser, ou mesmo um documentário mais usual, se mostra como uma grande ode a Paulo José, uma homenagem. Contar sua história e nos oferecer um pouco do homem por trás das cenas é importante e existem algumas pinceladas disso, mas o foco é em sua carreira artística, em seu legado. Tal ideia fica clara logo pelo título da obra, que parodia um antigo filme da década de 60, “Todas as Mulheres do Mundo” , atuado pelo homenageado ator, e que faz isso também através de seu pôster. Assim, o filme se apoia principalmente em colagens de significativas passagens de personagens interpretados por Paulo José. A montagem é muito perspicaz no que tange a isso, misturando o mais antigo com o mais novo, e até oferecendo algumas rimas visuais com base nisso. Uma ou outra filmagem contemporânea, já retratando o atual Paulo José existem também, mas na medida certa, de forma auto-contida. Vale também mencionar que como é um longa curto, é uma fórmula que não cansa e que encontra equilíbrio naquilo que ela própria se propõe.
Além disso, a narração que aparece vez ou outra é de texto do próprio Paulo José. Escrito de maneira ensaística e poética, reflexões sobre a carreira de ator e sua trajetória pessoal são colocadas com muita delicadeza e sensibilidades. Quem as lê, aliás, são atores conhecidos, proporcionando um bonito apelo por parte dos realizadores. Fernanda Montenegro, Selton Mello e outras icônicas figuras da atuação brasileira interpretam tais passagens, lembrando também que são pessoas que tiveram algum tipo de relação com Paulo José. Isso, é claro, sem mencionar a metáfora de um texto de um ator que é lido por outros atores.
Assim, “Todos os Paulos do Mundo” é sólida e intimista homenagem a um forte contribuidor para a arte brasileira. Utiliza os recursos certos na medida certa e tem a duração perfeita para aquilo que apresenta. Talvez quem não conheça o personagem aqui retratado tenha problemas para entender o que se passa, mas isso não diminui a obra. É possível aproveitá-la apenas com as informações que se encontram no próprio filme. Se cada ator brasileiro relevante, dentro do cinema, do teatro e da televisão recebesse algo assim, teríamos uma grande coleção de longas que serviriam de ode para eles.
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