Quem viveu a infância e adolescência nos anos 80 e 90, certamente percebeu que hoje, na indústria gamer, a nostalgia é um grande negócio. Alguns dos inúmeros remakes no mercado são mais que necessários, enquanto outros pecam. Eis que um remake que seria muito bem vindo, seria o clássico “Age of Empires” – jogo de estratégia em tempo real (ou RTS, de real-time strategy) que redefiniu o gênero, quando foi lançado em 1997.
O primeiro jogo da franquia foi um sucesso. Sequências vieram, mudanças – para melhor ou para a pior – ocorreram e, a longo prazo, a série ficou um tanto esquecida, mais voltada em remasters e expansões do excelente “Age of Empires 2”, com as quais só os fãs mais fiéis se importavam.
Não que os RTS sejam um grande gênero da indústria gamer hoje em dia, mas “Age of Empires: Defitive Edition” poderia ser, como muitos remakes ou remasters atuais, uma grande oportunidade de reapresentar o jogo para as novas gerações. E é essa a principal falha deste lançamento.
Para quem não sabe – ou não lembra, afinal, falamos de uma franquia com mais de vinte anos de existência – “Age of Empires” consiste no controle de diferentes civilizações, cada qual com suas forças e fraquezas pelo controle do mapa. Ou do mundo (e insira uma risada maligna aqui).
Com sua civilização escolhida, você cria construções, treina unidades, recolhe recursos e gerencia tudo da melhor forma possível para atingir seu objetivo. Há vários modos de jogo, que variam um tanto o objetivo: desde aniquilar completamente cada unidade de seu inimigo até dominar construções especiais ou pontos estratégicos do mapa.
Definitivamente Nada de Novo
“Defintive Edition” não é uma remasterização. É um remake: foi feito um jogo do nada, baseado em algo que já existia. Assim, haveria uma grande oportunidade dos desenvolvedores pegarem as inúmeras falhas do jogo original para entregarem um produto melhor.
É visível que o objetivo do estúdio Forgotten Empire é recriar a experiência original do jogo de 1997 o mais fielmente possível, mas aí vemos com a ajuda deste lançamento que ficar com a cabeça presa no passado pode nos impedir de eliminar seus erros. Até fãs da série poderiam concordar que o primeiro “Age of Empires” envelheceu mal. Dito isto, há também acertos e algumas mudanças muito bem vindas, mas estas não tiram o peso negativo que explicamos a seguir.
O grande defeito do Age original é seu pathfinding (ou pathing). Basicamente, isto é o que define o caminho que as unidades fazem, quando o jogador comanda que elas se movam do ponto A para o ponto B na tela. Com suas unidades, elas se esbarram toda hora, se estão indo para o mesmo ponto do mapa. Assim, tarefas essenciais do jogo como recolher recursos e controlar unidades militares pelo mapa vira um pesadelo histórico. Se você joga com um time aliado que por acaso anda pela sua área do mapa, se prepare para gritar com a tela de frustração ao ver suas unidades se esbarrando sem chegar ao destino.
Já as unidades controladas pelos adversários do computador, no caso de barcos ou arqueiros, continuam com aquele movimento de dar um tiro e imediatamente se afastarem: uma tática impossível para a gente, logo, extremamente injusta.
Além do pathing um tanto terrível, a experiência também é um tanto danificada quando se joga contra o computador: o oponente virtual varia de uma incompetência nada desafiadora até o imbatível, sem uma curva de dificuldade realmente orgânica. E adivinhem! O “AoE” original tinha justamente tal defeito. Aspectos assim dão às vezes a sensação de que o jogo sofreu um grande “copiar/colar” do original.
Nem o modo Campanha recebeu muitas novidades – fora a estranha narração de voz do briefing de cada missão. A coisa poderia ficar muito mais interessante se houvessem algumas Campanhas inteiramente inéditas. Algumas fases consistem em andar com suas unidades pelo mapa, capturando itens e matando inimigos, tirando toda a graça de criar suas forças, gerenciar e então atacar. De fato, é tudo um tanto repetitivo, e este remake não faz nada real para nos tentar tirar da mesmice. Nos resta esperar que os jogadores botem as mãos na massa e lancem na internet mapas customizados.
Em boa parte dos defeitos mencionados acima, podemos simplesmente resumir que boa parte deles poderão ser evitados (ou ao menos atenuados) se você for jogar somente com jogadores humanos. Basta conectar pela Live e ter sua partida na internet, sem se preocupar com a inconsistente inteligência artificial de “AoE”.
A maior qualidade de “Age of Empires: Definitive Edition” é sua direção de arte. Gráficos em alta definição, relativamente simples, mas belos, com uma sensação de movimentação mais fluída dos elementos na tela: unidades, cenário, mar parecem todos bem definidos. Não são gráficos dignos de um jogo AAA (ou triple A – um jogo vindo dos grandes estúdios, como dizemos das mega produções Hollywoodianas), mas fazem bem o trabalho e mantém-se surpreendentemente fiéis ao material original.
Outro elemento artístico que brilha neste remake é a música. A excelente trilha sonora do primeiro “Age of Empires” e de sua expansão “Rise of Rome” foi completamente regravada com orquestra completa, dando novas nuances às músicas, que finalmente se tornam os hinos bélicos e bem arranjados que pareciam tão simples quanto viciantes em suas versões originais.
No que diz respeito ao som: os efeitos estão ok, com as mesmas falas das unidades próximas das originais, e muito mais claras, desta vez.
Uma novidade super bem-vinda no lançamento é a possibilidade de controlar manualmente o zoom na tela. Isso ajuda muito o jogador, quando ele precisar ver mais ou menos do que acontece na tela. O jogo também adicionou a possibilidade de criar mais unidades de uma vez, no sistema de fazendas… E seriam mais destes pequenos ajustes, com uma inteligência artificial mais robusta, que poderiam ter feito da experiência imperdível. Será que com atualizações o estúdio corrigirá estas falhas? Será que eles estão guardando um jogo realmente atual para o anunciado “Age of Empires IV”?
O Veredito
O que não se pode negar de “Age of Empires: Definitive Edition” é que ele realmente preservou o feeling do jogo original. Talvez até demais em certos aspectos, como evidenciamos acima, mas o jogo, com todas suas falhas ainda continua viciante. E o vício dependerá da sua paciência para com seu lado ruim, que (infelizmente) foi preservado com precisão cirúrgica. Uma coisa que este lançamento tem de vantagem, é definitivamente a possibilidade de que certas falhas de mecânicas sejam devidamente reajustadas com o passar do tempo, em atualizações. Ou pelo menos, rezamos para que assim seja. Se você quer desafiar amigos, o jogo é com certeza uma boa pedida, com gráficos e trilha sonora belíssimos.
Em “Definitive Edition”, definitivamente o não é uma experiência para atrair novatos, que provavelmente vão preferir até o próprio remaster de “Age of Empires 2”, que é igualmente desafiante, mas não sofre das falhas mecânicas que este remake herdou do clássico de mais de vinte anos. Uma pena (ou não) que não estamos mais em 1997.
Age of Empires: Definitive Edition está disponível agora para Windows 10.
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