Chegou a vez de uma das estreias mais esperadas do ano, “Gladiador 2”, a continuação que ninguém pediu, mas passou a gerar curiosidade sobre que o diretor Ridley Scott iria trazer após os eventos épicos do primeiro filme que selou o destino do general Maximus, interpretado de forma magnânima pelo ator Russel Crowe que inclusive foi agraciado entre outros prêmios, com o Oscar de melhor ator no longínquo ano de 2001, além do espetáculo ter sido o ganhador do Oscar de melhor filme.
Com uma produção grandiosa conturbada por conta da greve dos roteiristas e atores de Hollywood, o diretor acostumado a realizar filmes grandiosos traz um elenco com grandes nomes de diferentes gerações para contar a história que planejou, considerando o legado que construiu no filme anterior, que já se tornou um clássico moderno e referenciado no cinema como parte da cultura pop, tamanha influência que “Gladiador” consolidou desde sua estreia há mais de vinte anos.
E é aí que temos o primeiro senão, pois o primeiro filme fecha uma história coesa e que faz sentido dentro de um contexto parcialmente histórico manipulado pelo diretor, belamente filmado, fotografado e musicado para uma sequência de eventos com alguns anos à frente onde parece que pouca coisa mudou na política e nos modos de Roma.
O senso novelesco e cheio de frases de efeito continua lá, agora é protagonizado por Lucius, filho de Lucilla e neto de Marco Aurélio, o garoto que era fã de Maximus e que, em trailers recentes, descobre-se que é filho do herói enviado para longe logo após os eventos finais do filme anterior para sua proteção, pois antes como agora continuam as tramoias, manipulações e traições em Roma com a escalada da insatisfação do povo.
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É a oportunidade para mais uma vez o diretor Scott e os roteirista David Scarpa e Peter Craig nos lecionarem sobre o estado das coisas e a mesma constatação do filme anterior de que as pessoas mudam, mas tudo continua o mesmo, pois se antes tínhamos o covarde e tinhoso Commodus, interpretado de forma formidável por um jovem Joaquim Phoenix (Coringa 1 e 2), agora temos dos imperadores desequilibrados.
As comparações tornam-se inevitáveis e sem suspense é possível constatar que em todos os sentidos, em menor ou menor grau, essa continuação é inferior ao primeiro filme, o que já é regra na maioria das vezes cinematograficamente falando.
Onde alguns podem ver aumento de escala e escopo do que está em risco dessa vez, tem-se um exagero em termos de desafios para o novo gladiador, pois se Maximus enfrentava um tigre, seu filho enfrenta um rinoceronte, se antes eram bigas, agora há navios em um Coliseu alagado(!) com tubarões, isso e o incessante aumento de tramas que não necessariamente chegam a algum lugar, diversos personagens que inclusive estavam no primeiro filme, porém que nesse não geram nenhum impacto diferente, servem só referências que desperdiçam os talentos dos envolvidos.
Quanto aos novos personagens, o que tem maior destaque até pelo talento é o do grande Denzel Whashington, interpretando o malicioso e manipulador Macrinus, o novo senhor dos gladiadores, um mercador que abraça com vontade e muita canastrice na maioria das suas aparições, mas é um sujeito tão sem sutileza que é difícil que alguém que pense de forma coesa possa ser enganado, contudo ele deixa um gosto bem saboroso e divertido de se ver na tela.
Esqueçam os emocionados que já apostam em mais uma indicação ao Oscar para Denzel, o que até pode ocorrer, mas sem merecimento, pois ele já fez mais e melhor.
Agora vamos falar do elefante na sala (ou no cinema), Paul Mescal, jovem ator com enorme responsabilidade de uma forma ou de outra substituir o “gladiador original”.
Pois bem, é competente e, se me permitem a piada, se Russel era “Maximus”, Paul é “Medius”, pois é notável o esforço e concentração do novo astro, mas é inegável que lhe falta altivez e a autoridade que havia no protagonista anterior.
Entende-se que é um jovem, não tem a mesma vivência e experiência do seu pai general e gladiador romano, simplesmente não vê além do roteiro; seja porque uma turma de gladiadores decidiria segui-lo, ou porque é um escravo como os outros, não um experiente guerreiro.
Há muito momentos repetidos do primeiro filme, inclusive há outro general e herói romano insatisfeito na figura do Acacius, de Pedro Pascal, que está estranhamente apagado desde sua primeira aparição no filme, mas que não tem muito a fazer além de lamentar sobre o estado das coisas — seu casamento com Lucilla também não acrescenta tanto à trama e mais parece um subterfúgio esquecível ao longo do filme.
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Quanto aos irmãos imperadores, porque o filme precisava ser maior que o anterior em tudo, surgem sem saber de onde vieram, mas tem nos seus jovens interpretes o astro em ascensão Joseph Quin (“Stranger Things” e do futuro “Quarteto Fantástico”) e Fred Hechinger uma defesa digna, novamente com o pouco que lhes deram, em versões mais infantis e surtadas que o Commodus do filme anterior.
É a sequência pelo espetáculo, pela bilheteria, pela franquia, diverte em alguns momentos, porém em tempos tão conturbados em termos de filmes e interesse dos espectadores, é irregular, mas passa de ano somente pela tentativa do seu diretor em imprimir uma grandiosidade cinematográfica em tempos tão difíceis.
Imagem Destacada: Divulgação/Paramount Brasil
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