Logo no título do filme “Brazyl – Uma Ópera Tragicrônica”, temos a primeira das muitas brincadeiras, ironias e alfinetadas sobre o que vamos ver durante sua exibição.
O diretor José Walter Lima adapta e filma o material diretamente de seu próprio texto teatral “Brazyl – Poema Anarco-Tropicalista” em tudo que ele tem de crítica e também anacronismo, embora seja de 2019, ou seja, nem tão distante assim.
Pois trata-se literalmente de teatro filmado, e é nítido os cortes estranhos, aparecimento dos microfones nas cenas, e enquadramentos equivocados em que às vezes o ator ou atriz que está interpretando fica à margem da imagem — e tudo bem, porque a arte se presta a experimentalismos e parece evidente a intenção do diretor de distorcer as percepções ao usar diversos tipos de artes para apresentar e expandir o escopo do seu filme.
Então temos animação, uma profusão e alquimia de cores, explosões de tintas e desenhos geométricos, sem formas, que embalam a narrativa como partes de um sonho ou pesadelo tanto coletivo como particular dos intérpretes, seja em seus delírios de grandeza, momentos de desespero, ou discriminação, que são férteis no decorrer da narrativa.
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O longa traz um panorama da política nacional do período iniciado de 1930, 2018 para cá, passando por alguns fatos históricos da formação do Brasil como o conhecemos, partindo da pantomima para o discurso sobre os espectros que surgiram nesses anos difíceis que reverberam até agora em nosso país.
Porém, sobre o meio e a mensagem…
Panfletário ao extremo e exagerado além da caricatura, não raro escancara sem pudor os personagens políticos típicos surgidos ou exponenciados nestes quatro anos: juízes preconceituosos e sacripantas, candidatos e eleitos ignorantes e desprezíveis, de forma a deixar a coisa toda indigesta.
E é compreensível o esforço do texto e do filme, pois quando temos eleitos por voto popular, portanto de forma democrática, candidatos que falam abertamente serem a favor da tortura, terem a intenção de fuzilar adversários, que se gabam da imunidade parlamentar, entre outras demonstrações grosseiras do pequeno ao grande poder, e mesmo assim, são eleitos com tantos votos, o diretor pode entender que não há limites para ser expositivo e clamar para que o brasileiro se veja em seu absurdo civil.
Porém, a mensagem é literalmente de pregar para convertidos, pois na ânsia de atirar a todo tempo para só um lado, acaba esvaziando a mensagem que ao longo do filme vai se tornando banal, a ponto de não haver mais surpresas sobre qual ato hediondo e preconceituoso um policial, juiz, político ou “cidadão de bem” irá perpetrar.
Há o entendimento de que o brasileiro precisa cada vez mais pensar a política de forma mais analítica e menos com a bile, pois o confronto a todo momento só produz baixas, não termina a guerra ideológica que se admite, cega mais um lado do que o outro, mas impede de que haja qualquer forma de coesão.
Entende-se que o exagero pode ser bem vindo, mas qualquer canal do Youtube sem o mínimo de pretensão política consegue performar em grande parte mesmo que de forma menos técnica que os atores, os sketches que são realizados de forma aleatória, de forma pouco diegética, e sempre declamados, nunca de forma natural.
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Discursos sobre o capitalismo selvagem, a máquina de moer homens e mulheres que é a nossa burocracia, nossas idiossincrasias, preconceitos absurdos, ignorância até dos mais letrados…
Está tudo no filme, mas faltou depurar, faltou fazer cinema.
Só o diretor sabe o sacrifício que foi para lançar um filme com tamanho discurso tão forte, pena que seja tão específico, direcionado e não dê margem justamente ao entendimento da complexidade e multilateralidade do nosso país.
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