O nome “novo cinema iraniano” foi dado, no ano de 1999, ao cinema revolucionário que se instituiu no país. Cineastas locais motivaram-se após a revolução de 1979, instaurada por eventos que culminaram na Revolução Islâmica, fazendo do Irã uma república baseada nos preceitos religiosos do Islamismo, reforçados pelas autoridades. Passaram então a tratar de questões sociais, políticas e poéticas de seu país e, a partir de então, os aspectos da cultura local são externadas ao ocidente através das produções cinematográficas desses cineastas.
O Irã é considerado um dos 12 países que mais produzem filmes em todo o mundo. Em um retorno aos valores tradicionais, através do populismo, da teocracia baseada no monoteísmo, da anti-idolatria e do puritanismo, tomava forças um combate ao imperialismo que reinava ali. Atualmente o governo vem perdendo sua legitimidade e nota-se uma crescente insatisfação com relação ao regime por parte da população, ainda que apática politicamente de forma geral.
Além do controle moral, o Estado intervém ainda no campo financeiro, com o objetivo de permitir apenas um “cinema islâmico”, conceito que surgiu na sombra do movimento anti-ocidente. Esse cenário reflete-se na obra cinematográfica do país, que se importa não apenas com a arte ou o lucro, mas com o ato de refletir nas telas uma ideologia. Além do cenário exterior, alguns filmes destacam-se na própria sociedade islâmica, devido ao fato de que tratam de problemas internos do país. Um cinema crítico, de significações políticas, é realizado de forma metafórica na maioria das vezes, ou até mais aberta, como tem acontecido recentemente. Essa crítica social é feita de forma aparentemente ingênua devido à escolha de crianças para os papéis principais, uma vez que leis severas com relação ao conteúdo dos filmes são instituídas no país, proibindo que existam filmes de temáticas “adultas” e não tão inocentes. Ainda assim, filmes considerados burladores dessas regras pelo estado, são justificativa para a perseguição e aprisionamento de cineastas.
O cofinanciamento de outros países continua permitindo, ainda que de forma restrita, uma liberdade cinematográfica aos cineastas que fazem estes filmes com foco político e ideológico. Os grandes destaques dessa geração que insiste em produzir filmes apesar do contexto em que seu país se encontra, são os diretores Abbas e Kiarostami Mohsen Makhmalbaf. A obra de Kiarostami estende-se desde o início da década de 1960 até a atualidade (encerrada recentemente com seu falecimento). Nos variados temas que tratou como a morte, a juventude, a mulher na sociedade; experimentou inovações tecnológicas ao longo de sua carreira. Sua obra não limita-se a estúdios apresenta características intrísecas: a autorreferencialidade e a reflexividade. Na maior parte dos filmes de Kiarostami, há um limite muito tênue entre ficção e documentário, que explora isso de uma maneira muito natural. Os atores muitas vezes interpretam eles mesmos, como em “10” (2002) onde um país é passado à limpo dentro de um carro guiado por uma mulher que expões sua relação com filho e amiga e sua generosidade para com demais figuras cotidianas ou excluídas da sociedade.
Em sua vasta obra alguns filmes ainda ganham destaque excepcional, como “Close-Up” (1990), no qual um homem finge ser um famoso diretor de cinema para enganar uma família rica, porque, se não o fizesse, esse homem seria esquecido pela história; um filme singelo sobre a infância, “Onde fica a casa do meu amigo?” (1987) e o ganhador da Palma de Ouro de Melhor Filme em 1997, “Gosto de Cereja”. Makhmalbaf tem sua obra dividida em cinco fases, sendo todas elas permeadas por temáticas relacionadas ao meio em que se encontra, tais como o fundamentalismo religioso – presente em sua primeira fase – que evolui para uma fase de posicionamento político e de caráter reflexivo acerca da realidade social do país. Tabus e polêmicas como adultério e suicídio fazem parte de sua terceira fase, onde lança seu primeiro sucesso. É a partir da quarta fase do autor que ele torna-se um dos cineastas iranianos mais reconhecidos pelo ocidente, e conquista o público internacional com filmes como “Salve o cinema” (1995) ao fazer uma homenagem ao cinema. Em 2000 lança “Alfabeto afegão”, que, juntamente com “Kandahar” (2001), defende a liberdade de expressão e condena a censura islâmica.
Por Letícia Vilela
*Referência bibliográfica: MELEIRO, Alessandra. O novo Cinema Iraniano. In: BATISTA, Mauro; MASCARELLO, Fernando (orgs.). Cinema mundial contemporâneo. Campinas: Papirus, 2008.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.