O ator Josemir Kowalick volta ao cartaz com o espetáculo “Amor em 79:05”, na Giostri Livraria Teatro. A reestreia acontece no dia 7 de março, sábado, às 21 horas. A montagem é uma adaptação do diretor Elias Andreato para o livro homônimo de Vinícius Márquez, cuja estreia foi em 2016.
Com abordagem contemporânea, a montagem apresenta um escritor de meia idade em momentos de solidão, vivenciando o amor em seus múltiplos sentidos. “Amor em 79:05″ mostra os sentimentos, as frustrações, os desejos e as derrotas da personagem sob intensa égide poética.
E em pleno momento criativo, o homem imagina seu encontro com um jovem e belo rapaz (vivido por Eduardo Ximenes) e relata um cotidiano fictício desse relacionamento homoafetivo. Ele expõe as dificuldades da relação, alternando devaneios, discussões e momentos de ternura. As imagens são difusas. O jogo entre imaginação e realidade sugere também a possibilidade de ser o jovem quem escreve a história.
“O que fica claro na peça é a certeza de que o artista é capaz de todas as fantasias. Para falar de uma dor é preciso inventar uma história”, comenta o diretor Elias Andreato.
A presença desse jovem em cena não tira o caráter de monólogo da peça, pois sua presença é quase etérea. Os diálogos não chegam a ocorrer, são solitários. A presença do interlocutor – imaginário ou não – reforça o sentido das palavras e atinge de forma eficaz aquele a quem são destinadas. “O jovem representa a presença da ausência nesse momento de amor e dor”, explica Josemir Kowalick. “Esse rapaz pode representar também um desejo do escritor, projetado em sua cama”, completa o diretor.
Andreato argumenta que “Amor em 79:05″ discute a relação do tempo com o amor e a solidão. “O texto mostra a intensidade de um relacionamento, independente da opção sexual, e nos faz pensar nas relações afetivas que, hoje, são tão efêmeras, quando não se valoriza o contato direto, quando a tecnologia pode substituir a intensidade do toque, do olhar próximo”. Ele completa: “há falta de tempo para falar de si, das angústias; muitas pessoas querem mesmo é provar publicamente, nas redes sociais, o quanto são felizes”.
A trilha sonora original do espetáculo – assinada por Fábio Sá – traz duas canções com letras de Elias Andreato, interpretadas (em gravação) por Josemir Kowalick. O diretor também criou o cenário (o quarto do escritor) com poucos objetos: poltrona, cama e persiana (esta possibilita frestas e transparências sem delimitar ou fechar o ambiente). A cenografia é composta também por projeções que reportam à natureza, sugerindo um universo lúdico em contaste com as dores expostas pela personagem. A ficha técnica tem aindaLeo Sgarbo no figurino, Rodrigo Alves “Salsicha” na iluminação e Daniel Torrieri Baldi na produção.
Para Josemir Kowalick, a montagem propõe cumplicidade com o público, ao apresentar questões afetivas inerentes a todas as pessoas de forma sensível e, ao mesmo tempo, dura e direta.
“Sempre é importante falar de amor, em todos os tempos, principalmente agora”.
Este é um momento ímpar para Josemir Kowalick em 29 anos de carreira como ator e diretor teatral, 19 deles dedicados também à docência em artes cênicas. Seus trabalhos mais recentes foram “Ator Mente” (de Steven Berkoff, direção de Marco Antônio Pâmio), “Abajur Lilás” (de Plínio Marcos, direção de André Garolli), “Os Anjos da Praga” (de Marcelo Marcus Fonseca) e “Pano de Boca”(de Fauzi Arap, direção de Marcelo Marcus Fonseca). O artista lembra também com afeto que dirigiu ator e crítico teatral Alberto Guzik (1944-2010) em “O Monólogo da Velha Apresentadora”, sua última incursão em cena.
Sobre o livro, por Elias Andreato – Quando li o livro de Vinícius Márquez pensei em todos os amores que perdi e tantos que não tive coragem de viver intensamente por medo ou preconceito meu ou dos outros. Senti um profundo desprezo por mim mesmo. Chorei até sentir dó de mim. Busquei Oscar Wilde, Clarice Lispector e Pessoa, quando diz que a vida chega a ranger… A dor de quem ama é imensa… Mas a felicidade do enquanto dure é eterna. Mesmo sendo a solidão o fim de quem ama, preciso me arriscar mais e não importa a idade do meu coração. E daí se eu ouvir um não? Quero amar e isto basta. Amar ainda é melhor do que não amar e não ser amado. O teatro sobrevive há séculos falando de amor. Como artista, tenho estudado esta matéria obcecadamente… Não é possível que eu fique de recuperação para sempre.
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