A Cia catalã La fura dels Baus trouxe ao Rio de Janeiro, no último final de semana, um espetáculo intenso que mistura tecnologia, diversão e interação. Fundada em Barcelona em 1979, a companhia é mundialmente conhecida por estabelecer novos padrões para a experiência teatral. Afinada com timing mundial, o grupo traz nesse espetáculo, de maneira lúdica e até didática, um forte questionamento sobre nossos valores e crenças.
M.U.R.S., que em catalão significa “paredes”, é o primeiro Smart Show do mundo, e tem o expectador como protagonista no jogo cênico. A plateia interage com o número de forma ativa, presente e também através dos celulares. Ao chegar todos são orientados a baixar o aplicativo do espetáculo e a se conectar com a rede wi-fi local. E então começa o jogo! O cenário montado no (grande) Armazém da Utopia – localizado no Boulevard Olímpico – é dividido em 4 alas temáticas, que representam características de cidades do futuro (Smart Cities). Pelo celular cada participante é orientado a se dirigir para uma ala onde diversas atividades interativas são desenvolvidas. O espetáculo em vários momentos se assemelha a recreação ou jogos online. O clima é muito descontraído, e a participação é tanta que periga sair ralado ~~ como essa que vos escreve! ~~.

Após todos os expectadores participarem das atividades em todas as alas o contexto muda drasticamente. O ambiente se torna hostil, estimulando hora o sentimento de coletividade, hora os impulsos individualistas em busca de segurança e proteção. A atmosfera festiva dá lugar ao barulho e ao caos, ao mesmo tempo que o app passa dar instruções de procedimentos em busca da melhor saída para tamanha confusão. A crítica feita considera o desequilíbrio no crescimento das ditas “cidades inteligentes”, levando a um grande conflito de interesses que promovem a desordem e a luta.
O avanço da performance coloca os expectadores em situações de conflito (em meio a brincadeira, é lógico), mostrando como é fácil perder o senso crítico e atingir aos nossos iguais pelo simples fato de pertencerem a grupos diferentes, ou compartilharem de pensamentos diferentes. O espetáculo mostra o quanto podemos nos tornar fruto de um grande processo de alienação, julgando certo aquilo que não (necessariamente) é do nosso interesse: aquilo que não considera o coletivo, que não visa melhores condições para a maior parte da população. E, nesse ponto, o timing (global) é perfeito!
No momento crítico cada ala experimenta uma dinâmica diferente, fazendo com que os participantes saiam com vivências muito particulares, mesmo tendo participado do mesmo espetáculo. Incrível!
O cenário aparentemente simples conta com uma estrutura central a partir da qual o espaço se divide. As paredes que dividem tais espaços são também telas para projeções que fazem parte de todo o espetáculo. A estrutura utilizada na performance é funcional e interativa, mostrando a complexidade por trás do alinhamento de todos os apetrechos envolvidos (que vão dos cenários aos nossos smartphones). A trilha e a iluminação também desempenham um papel fundamental, estimulando os participantes a partilharem das sensações e propostas do número.

~~ Como expectadora essa experiência foi uma das mais intensas (em termos de imersão e participação) que já pude vivenciar. Além do sentimento bacana de participar de um número tão maneiro, irado, caraca uhullll!!! Deu também aquela sensação de que é muito importante estar alerta e vigiando as próprias atitudes, pensamentos e ideias. Reforçou (para mim) o quanto somos fruto daquilo que temos acesso – seja em termos de informação ou oportunidade – fazendo com que nossos julgamentos sobre o outro devam ser menos cruéis e superficiais. Eu acredito que cada um que participou do espetáculo digeriu as informações de uma forma diferente… Aqui é um relato particular (e muito entusiasmado)~~.
A vinda de M.U.R.S. para o Brasil é fruto da parceria entre a Cielo, o Ministério da Cultura e a Kabuki Produções. A concepção da performance teve a colaboração do Open Systems da Universidade de Barcelona e do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
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