Aqui o gênero e a sexualidade não importa e não importará!
Cada dia que passa descubro tantos artistas talentosos que às vezes me perco em escolher sobre quem gostaria de falar e indicar. Mas hoje reuni nessa matéria, alguns cantores nacionais que estão quebrando os tabus e o preconceito através da música, em diferentes ritmos. Tem rap, tem funk, tem mpb e tem o Brasil musical de várias maneiras.
Não é exatamente uma seleção musical, mas uma seleção de artistas de peso que estão conquistando seu espaço através da internet e colocando “a cara no sol” para dar voz à quem não tem. Mais do que músicos e cantores, eles são representantes de uma identidade plural, vasta, e sua relevância é a música, não seu gênero ou sexualidade. Listei os que gosto, que venho acompanhando parte da trajetória, e com muito carinho compartilho com vocês, mesmo que já possam conhecê-los pelas redes sociais da vida.
[divider]MC Xuxu[/divider]

Eu já morei um bom tempo em Juiz de Fora (MG), e foi lá que ouvi pela primeira vez o nome “Xuxú”. Também foi lá que a vi pela primeira vez antes de ser MC e já em seu processo pessoal de mudança. Para quem não conhece Xuxú Vieirah ou MC Xuxú, é uma cantora de funk, mineira e travesti com muito orgulho.
Ela começou a fazer sucesso quando lançou no You Tube a música “Um Beijo”, uma “versão” funk de “Hello” do DJ Martin Solveig e a banda canadense Dragonnete, que hoje supera a marca de 1,8 milhões de views no canal da MC. O sucesso que trouxe em sua letra “Um beijo pra quem é DJ, um beijo pra quem é MC. Um beijo para quem é do bem. Um beijo pras travesti” rendeu tanto, que ela começou a rodar o país para se apresentar em festas gays e apareceu em vários programas.
Mais do que uma cantora, ela também é símbolo de luta por igualdade para a comunidade LGBT. Um de seus bailarinos é meu amigo e estudou comigo muitos anos, onde pude acompanhar por sua trajetória em se assumir e enfrentar o preconceito de perto. Oscilando entre o bom humor gay e a seriedade dos temas que lhe rodeiam, MC Xuxú segue sua carreira com alguns singles já lançados e muitas apresentações. Abaixo coloquei a música “Desabafo”, que nem é o melhor clipe dela, mas tem uma proposta/mensagem massa demais! Se liga na letra.
[divider]Jaloo[/divider]

Esse som é novidade pra mim, reconheço. Recentemente vi seu clipe no You Tube e fiquei curioso sobre quem é e sobre seu som. O canto paraense, nascido em Castanhal, se considera não-binário, que para os desavisados é quando a pessoa não possui uma identidade masculina, nem feminina, podendo ser uma combinação dos dois ou nenhum deles.
Jaime Melo surgiu no maravilhoso movimento tecnobrega do Pará e há mais ou menos 6 anos ele começou a lançar uma série de vídeos com versões de famosas músicas como “Back To Black” da Amy Winehouse. De lá pra cá ele lançou um EP em 2014, intitulado “Insight” com 3 músicas autorais e uma versão de “Oblivion”, da cantora Grimes. Assim como a cantora Pitty declarou em seu Twitter, acabou sendo uma nova obsessão minha.
Misturando tudo e mais um pouco, no ano passo chegou “#1”, o primeiro álbum do artista com 12 faixas refletindo a personalidade do Jaime no personagem Jaloo, produzido por ele mesmo com o selo Stereomono da Skol Music. Vale lembrar que não é só as músicas que são cheias de referências rítmicas, seus clipes são uma explosão de cores com a cultura pop e a vanguarda entrelaçadas. Bom, escolher o clipe para deixar aqui foi f*d@, mas vou deixar a Insight.
[divider]Rico Dalasam[/divider]

Se você nunca tinha ouvido falar em um rapper brasileiro e gay, já pode mudar seus conceitos porque Rico Dalasam é, até o momento que escrevi essa matéria, o único que fala abertamente sobre isso. Ele lança aqui no Brasil a união da luta negra e LGBT no movimento musical Queer Rap, que já vinha sendo difundida mundo a fora.
Nascido e criado em Taboão da Serra, cidade da região metropolitana de São Paulo, ele sentiu na pele a rejeição por ser negro e por ser gay, algo que hoje ele transforma em música. Ele frequentou as mesmas batalhas de MCs, no metro de Santa Cruz, na ZS de São Paulo, onde nomes como Emicia e Projota estavam no mesmo processo. Sua história pessoal é de uma riqueza de contrastes reais e incríveis que uma busca no Google te ajuda a descobrir.
“Aceite-C” foi o primeiro single lançado em 2014 para a estreia de seu EP “Modo Diverso”, lançado no ano passado. Em uma entrevista para o Portal Virgula ele disse que já havia um tempo que tinha chegado a definição de que a aceitação move o rejeitado, mas indo além, a rejeição move quem se aceita, seja negro, gay, policial e/ou religioso. Segundo Rico a aceitação é o melhor caminho para o respeito e em suas próprias palavras: “Seja quem for que ouça esse som, se aceite mais, sem atravessar o samba de ninguém”. A música e o clipe de “Aceite-C” você confere abaixo, mas vale também conferir Riquíssima clicando aqui.
[divider]Johnny Hooker[/divider]

Numa madrugada de insônia da vida, muito comum pra mim, resolvi entrar no You Tube para ver uns clipes diferentes e eis que me surge a sugestão dessa figura incrível que tem um som que é a cara do Brasil, sendo uma icônica e questionadora imagem. Foi assim que Johnny Hooker chegou aos meus olhos e ouvidos cantando “Quem me protege é o meu Orixá! O meeeeeeu Orixá!”. E já fui logo baixando o álbum.
O pernambucano John Donovan, aos 28 anos, já tem uma longa trajetória entre música, cinema e televisão. Ele já participou da novela das sete, “Geração Brasil (2014)”, onde sua música “Alma Sebosa” fez parte da trilha, participou do aplaudido e premiado longa “Tatuagem (2013), que teve a sua música “Volta” e foi vencedor do 26º Prêmio da Música Brasileira como Melhor Cantor na categoria Canção Popular. E isso são só algumas coisas que estou citando.
Seu álbum de estreia “Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!”, lançado no ano passado é uma mistura de glam rock, tropicalismo e pop bem brasileiros. Segundo ele, sua principal inspiração é sua “Santíssima Trindade” formada por David Bowie (o Painho), Madonna (a Mainha) e Caetano Veloso (o Espírito Santo). Porém, é inegável outras referências como Cazuza e Michael Jackson, por exemplo. Escolhi deixar aqui o clipe incrível de “Amor Marginal” eu foi trilha da novela “Babilônia (2015)”, mas aquela que citei lá em cima, no qual o conheci, chama-se Segunda Chance.
[divider]Lineker[/divider]

Um belo dia, no ano passado, estou descendo a minha timeline do Facebook e vejo uma figura magra, platinada, com luz neon e penso: ou vai ser incrível ou uma bosta. Apertei o play e foi incrível! Essa foi a primeira vez que escutei e assisti o performer, cantor, diretor e bailarino mineiro cantando “Leite”.
Natural de Bambuí (MG), hoje residente em São Paulo, Lineker não se configura em apenas uma arte, mas estabelece forte interligações entre elas, enquanto em suas músicas ele transita do rock ao brega. Em 2012 lançou seu primeiro disco, “eLe”, com releituras de importantes obras da música popular brasileira como “Capoeira”, de Jorge Bem Jor, e “Comportamento Geral”, de Gonzaguinha. Em 2014 ele lançou o single e o clipe “Gota Por Gota”, que particularmente adoro e acho o clipe superdivertido. No ano seguinte veio Leite e enfim o EP “Verão”, que poder sei baixado gratuitamente no site dele, com canções de novos compositores da MPB.
Além de inúmeras formações acadêmicas e uma vivencia cultural desde criança, seu espírito transgressor, para quem se sente “transgredido”, veio embalar essa nova geração na luta pela liberdade do próprio corpo, do próprio ser.
- [divider]As Bahias e A Cozinha Mineira[/divider]
Essa banda foi uma das surpresas dos últimos dias e nem iria entrar nessa lista, mas depois que procurei e conheci a história, a proposta e ouvi o albúm, eu só conseguia pensar: C@r@lh* que sensacional, vai entrar sim! Mas você se pergunta: O que “As Bahias” tem a ver com a “Cozinha Mineira”. Relaxa que tudo vai ser muito bem explicado agora.
O projeto da banda começou no final de 2014 dentro da Faculdade de História da USP (Universidade de São Paulo), onde Assucena, natural de Vitória da Conquista (BA), se uniu a paulistana Raquel, que morou anos em Salvador e cantava em trios elétricos e ao mineiro Rafael Acerbi Pereira, que toca violão e guitarra. Mas tem mais coisas em comum, as Bahias, como são conhecidas na faculdade, são transexuais e usam as músicas para lutar contra o machismo e a homofobia.
O álbum “Mulher” lançado em novembro do ano passado, no meio das #meuamigosecreto e #meuprimeiroassédio, traz músicas plurais, fortes e tem uma arte de capa que mais autoexplicativa seria impossível. Suas principais referências são o Clube da Esquina e a cantora Gal Costa, mas no meio do balaio tem muito mais. Com letras poeticamente leves, mas tratando de pesados temas, deixo vocês ao som de “Apologia Às Virgens Mães”, mas o CD completo pode ser ouvido aqui.
Pois é, quem vê cara não vê qualidade, quem dirá coração. O fato é que a música sempre foi símbolo de lutas e conquistas, e assim continuará sendo. Existem tantos outros artistas que é complicado falar de todos numa só matéria, afinal Liniker, Caio Prado, a drag Gloria Groove, Karol Conká, Banda Uó e tantos outros são igualmente importantes para essa nova geração da música brasileira. Haverá outras oportunidades…
Eu vou ficando por aqui, e se curtiu compartilha a matéria com geral, afinal o que é bom precisa ser divulgado. Agora se você é preconceituoso, dorme com esse SOM! Beijos molhado e abraços apertados. Até semana que vem.
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