Parceiro de Raul Seixas, Edy Star foi ícone da contracultura gay no Brasil
Edy Star foi o grande nome do Glam Rock brasileiro, onda que tomou de assalto o hemisfério norte na primeira metade dos anos 1970, mas no Brasil não fez tanto barulho assim. Daria para dizer que Edy foi o nosso Marc Bolan. O cantor sofreu acidente doméstico há dias e morreu em hospital de São Paulo (SP), aos 87 anos, vítima de insuficiência respiratória, insuficiência renal aguda e pancreatite aguda, segundo o G1.
Nascido Edivaldo Souza, foi um dos bastiões da contracultura brasileira dos anos 70. Passou a infância e adolescência passadas na Bahia natal (natural de Juazeiro) e teve os últimos anos vividos em São Paulo. Gay assumido já nos anos 50, rompeu rótulos, expressou a liberdade, sempre levantando a bandeira da causa LGBTQ. Foi parceiro de composição em um dos primeiros sucessos de Gilberto Gil, “Procissão” (1965). No entanto, Edy conseguiu o crédito de coautor da música apenas nos anos 2010, após acordo com Gil.
O ponto principal de sua jornada foi quando se mudou para o Rio de Janeiro, onde atuou em shows em boates da marginalizada região central. Em 1971, se juntou a Raul Seixas, Miriam Batucada e Sérgio Sampaio na gravação do álbum “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das 10”, um dos títulos mais anárquicos da discografia brasileira, cercado de lendas a respeito das gravações que teriam sido feitas na “surdina”, longe das vistas dos executivos da gravadora CBS.
Foi na Cidade maravilhosa que gravou seu primeiro álbum solo, “…Sweet Edy…”, de 1974. Foi com esse trabalho que Edy mergulhou no Glam Rock que já fazia a cabeça dos britânicos e norte-americanos, mas traduzido para o contexto tropical. O disco trazia músicas inéditas de medalhões da MPB como Caetano Veloso, que contribuiu com o afoxé “O Conteúdo”, Gilberto Gil, que lhe forneceu “Edyth Cooper”, estabelecendo uma comparação com Alice Cooper, e Roberto Carlos em parceria com Erasmo Carlos o presentaram com “Claustrofobia”. De Renato Piau e Sérgio Natureza veio a faixa-título e a sugestiva “Bem Entendido” (na época, até mais do que hoje, “Entendido” era uma gíria para homossexual). Do amigo Raul Seixas, “Moleque Maravilhoso”.
No teatro Edy fez parte da montagem brasileira de “Rocky Horror Show”, com tradução de Jorge Mautner, no papel de Frank-N-Furter, improvisando bastante atendendo a pedidos (como se precisasse).
No início dos anos 1990, Edy Star se mudou para a Espanha, onde viveu por quase duas décadas. Lá ele fazia shows em um prostíbulo de luxo em Madri. Em 2009, de volta ao Brasil, participou da Virada Cultura de São Paulo no palco “20 Anos Sem Raul”, em que executou Sessão 10 na íntegra. Resgatou a carreira musical, em 2017, com o álbum “Cabaré star”, produzido por Zeca Baleiro com Sérgio Fouad. O trabalho de estúdio contou com nomes como Caetano Veloso, Ney Matogrosso – grande inspiração de Edy pela sua postura transgressora à frente do trio Secos & Molhados – e Filipe Catto.
O último álbum de Edy, ‘Meu amigo Sérgio Sampaio” (2023), foi lançado há dois anos e reconectou o artista a um universo de marginalidade no qual ele sempre esteve mergulhado de forma mais ou menos profunda.
Edy Star deixa álbum inédito, gravado no ano passado com o repertório de Raul Seixas e a participação do cantor Edson Cordeiro.
Imagem: Divulgação/Edy Star (via Instagram: @staredystar)
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