Discutir o feminino em cena é uma pedida que traz inúmeras possibilidades. As questões ideológicas e políticas que envolvem o universo histórico de “ser mulher” são pautas atuais (e nem um pouco recentes) que, com o decorrer das décadas, trazem resultados animadores desfrutados por todas (das que lutam às que criticam a luta).
A bem da verdade, a voz e a busca por equidade nos diversos ciclos sociais se torna cada vez mais iminente. O protagonismo destas pautas, no entanto, não se dá sem muito ativismo e força de vontade de mulheres que se expõem – seja em contextos políticos (reforçando que aqui não tratando do âmbito partidário), de ativismo ou mesmo de trocas com outras tantas de experiências e histórias tão ímpares. Essas relações se traçam e enquanto por um lado enriquecem e tornam as causas ainda mais latentes, por outro inspiram para a criação de diversas manifestações artísticas engajadas.
Aqui na Woo! já tratamos de alguns casos como o espetáculo “Oito mulheres” todo produzido e executado por mulheres, ou o “Eu quase morri afogada várias vezes” do coletivo “As Minas”. E nessa linha empoderadora, um grupo de atrizes que se conheceram no tablado vêm presenteando o Rio de Janeiro com um número completamente fora dos padrões usuais de teatro. “Mulheres de Buço” é um grupo composto por atrizes e musicistas que descobriram na música uma forma de levar sua mensagem engajada a mais e mais cabeças pensantes.
Inicialmente o grupo de atrizes começou a criar funks e viram nessa vertente musical uma possibilidade interessante. Aos poucos as criações passaram a ser muitas e a passear por outros gêneros. A parceria se desenvolveu e como caminho improvável (considerando que o encontro se deu no tablado) as manas começaram a apresentar-se em shows potentes, chegando a realizar cerca de 28 apresentações no ano de 2016. No entanto, após essa primeira temporada de apresentações perceberam que poderiam agregar ao trabalho que vinham desenvolvendo o teatro que pulsava em todas elas.
Então, desde março de 2017, as “Mulheres de Buço” estão em cartaz no tablado com um trabalho autoral que agrega música e teatro com aquele ativismo que amamos. O processo de criação do trabalho decorre das experiências trocadas com outras mulheres e também das vivências das ocupações (provando por A+B que muito longe do vandalismo, esses foram espaços de trocas ricas sob diversas óticas, inclusive a cultural).
O espetáculo traz uma proposta de representatividade dentro de uma atmosfera do que denominam como peça-show. No enredo, atrizes estão se preparando para entrar em cena. No camarim passam então a dividir seus medos e dúvidas, transbordando questões pertinentes à vida dessas atrizes/personagens, mesclando as inquietações reais com a arte apresentada no palco. O cenário (camarim) cria uma atmosfera íntima, que pretende trazer os expectadores para este lugar, como se a troca findasse por ser estabelecida entre todos os presentes, em um fluxo que se reforça na pegada “show” do espetáculo.
O contexto social, no qual nos inserimos, caminha por um lado para o retorno à repressão. A tendência que se observa é a de reforço da cultura de mulheres como bibelôs (“belas, recatadas e do lar”). Por outro lado, na contramão, há o esforço de grupos que impõem a igualdade como fator base para uma sociedade minimamente justa. O quão mais se caminha para frente, mais se torna inevitável rejeitar passos largos para trás… Quando se percebe que todos os espaços podem ser ocupados também por mulheres, se torna difícil calar com tantos limites se impondo como parte de um padrão moral e ético. Estas falácias aprisionam! E ver a mobilização de grupos como as “Mulheres de Buço” não só fortalecem as pautas, como inspiram das menores atitudes às propostas maiores (em qualquer esfera). E por isso, como elas bem colocam, são “Divas, bagaceiras e do Open bar”. Afinal, podemos passear nos ambientes (e da forma) que quisermos, certo?
O trabalho vem se desenvolvendo de forma independente, e devido ao sucesso estendeu sua temporada até o dia 04 de junho. Valendo a visita para se divertir com essas minas empoderadas e cheias de boas causas.
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