O Sonho Americano, Versão Irlandesa.
Devido à temporada de premiações, como acontece no início de todo ano, os cinemas brasileiros começaram a receber os grandes indicados e entre eles está “Brooklin”, que chegará às salas de exibição no dia 11 de fevereiro. Dirigido pelo irlandês John Crowley, o filme é baseado no romance escrito por Colm Tóibín, com o roteiro adaptado por Nick Hornby.
O dramático romance gira em torno da jovem irlandesa Ellis Lacey (Saoirse Ronan) que, com ajuda de sua irmã, Rose (Fiona Glascott), e do Padre Floot (Jim Broadbent), se muda de sua terra natal e vai morar no Brooklyn, nos Estados Unidos, para tentar realizar seus sonhos e ter uma vida melhor. No início de sua estadia, ela sente falta de casa e tudo se torna muito difícil devido à nova realidade. Mas aos poucos ela vai tentando se ajustar ao novo estilo de vida, até que um dia conhece Tony (Emory Cohen), um encanador italiano, e se apaixona por ele. Com o passar do tempo, ela começa a se encontrar dividida entre os dois países, entre o amor e o seu dever.
Vamos começar falando que o longa foi muito bem feito e tem uma história interessante, mas não é nenhuma novidade. E aí ficamos com a pergunta na cabeça: Indicado ao Oscar de Melhor Filme? Por se tratar de uma versão do sonho americano, porém, num formato irlandês, esse provavelmente foi o principal motivo para a indicação. “Brooklin” é uma ótima produção, mas não é um filme para concorrer à principal indicação do prêmio.
O roteiro de Nick Hornby é bem delicado em suas nuances e apresenta personagens bem característicos, com um humor leve e revigorante na medida certa. Sua personagem principal é a clássica heroína romântica, sonhadora e sofredora. A menina que se torna mulher sem deixar de lado sua singular “inocência”. Os demais personagens servem de gatilho para a transformação e a construção da identidade da protagonista.
Na direção de John Crowley, já premiado algumas vezes na Europa, não há recursos cinematográficos para deixar o espectador “vibrando”. Bem focado no que gostaria de mostrar e como gostaria de fazê-lo, ele se preocupou em ser cuidadoso para contar a fragilidade daquela menina. Há, ainda, uma estranha presença de planos televisivos. Nada que possa de fato incomodar e pode passar completamente despercebido para grande parte do público.
Um dos destaques do filme é a fotografia de Yves Bélanger. Mesmo que manipulada para a Irlanda sempre pareça um pouco “fria e vazia”, enquanto Nova Iorque, mesmo no inverno, tem uma cor mais quente, seu trabalho deixa uma sensação de paixão pelo que faz, o que se reflete diretamente na trama. É como se estive completamente apaixonado pela história e a retratasse em cores, movimentos e planos.
Outro destaque é o figurino completamente representativo e característico para as personagens. Umas das coisas mais elegantes e interessantes é que, por a personagem não ter uma renda alta, em diversos momentos o figurino dela se repete, algo que dificilmente acontece nos filmes, mesmo que o personagem seja pobre. Salvo algumas exceções.
Talvez os melhores momentos do longa se passem durante os jantares na pensão onde Ellis mora com outras mulheres. Sua anfitriã, Mrs. Kehoe (Julie Walters), apresenta um humor ácido e despretensioso, que junto com as demais personagens tornam os momentos passados lá memoráveis. Outro destaque é a ceia de Natal, organizada pelo Padre Floot, onde um grupo de irlandeses sem família se reúne e um deles canta uma música do país de origem inegavelmente emocionante.
Obviamente a interpretação da atriz Saoirse Ronan, que dá vida à dócil jovem, é a divinamente notável. Ela é tão presente no filme, que não é possível imaginar outra atriz para esse papel. Sua química com Emory Cohen nos deixa presenciar o início de um amor construído na base do respeito e admiração, nos levando ao desejo de viver algo semelhante.
“Brooklin” é uma romântica história de uma menina que aprendeu a ser mulher. Sensível, dramático e bem realizado, o longa tem seu mérito por usar habilidades acessíveis e transformar um possível clichê em uma saborosa história.
https://www.youtube.com/watch?v=bFJTioHCV9k
Paulo Olivera é mineiro, Gypsy Lifestyle e nômade intelectual. Apaixonado pelas artes, Bombril na vida profissional e viciado em prazeres carnais e intelectuais inadequados para menores e/ou sem Ensino Médio completo.
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