No fim, o trabalho do escritor se torna mais do que escrever
Ao observar o atual mercado literário nacional, pode ser difícil imaginar uma época em que os livros não eram comuns em nossa sociedade, mas essa era a realidade até a mudança da Família Real Portuguesa, de Lisboa, para o Rio de Janeiro, no século XIX.
Com a criação da Imprensa Régia, a informação começou a ser difundida entre os alfabetizados, e com ela, veio a literatura. Antes de virarem livros, muitos romances eram publicados em formato de novela nos jornais, pois era mais barato e o público leitor já estava garantido.
Com o passar do tempo, nasceram as editoras privadas, focadas na publicação de livros literários e não literários, o que fomentou mais ainda a produção nacional. Vale ressaltar que as únicas pessoas que escreveram e publicaram naquela época eram intelectuais, uma parcela muito ínfima da população brasileira que conseguia alcançar o sucesso por talento e poder monetário.
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Já no século XX, com a constante melhoria na educação, a arte de escrever foi se democratizando, se espalhando pelas mãos de todas as pessoas que puderam aprender a ler e escrever.
Porém, por mais que escrever tenha se tornado acessível, publicar ainda não era uma realidade possível para todos – não sendo até hoje. Os custos de uma publicação física são altos e ficam mais altos ainda a depender da inflação, portanto, a dificuldade de efetuar publicações físicas desvinculadas de grandes editoras era o maior dos obstáculos para aqueles que não faziam parte das camadas mais abastadas – além do pouco retorno financeiro.
Atualmente, essa questão ainda persiste, mas pode ser atenuada por uma série de alternativas que foram sendo desenvolvidas ao longo dos anos. Primeiramente, houve a criação de editais de cultura que possibilitaram a criação de concursos literários, a realização de projetos textuais pré-estabelecidos, como o PROAC, ou projetos culturais de fomento à literatura no geral.
Em segundo lugar, com o avanço da internet, houve a criação de sites onde as pessoas poderiam publicar seus textos gratuitamente de forma online, como o Wattpad e o Spirit. Apesar de não ser considerado uma publicação factual e de não oferecer qualquer retorno em dinheiro, criou-se uma nova cultura: a cultura “fanfiction” (ficção criada a partir de um universo literário já existente).
Muitos best-sellers nasceram dessa cultura, como as sagas “Crepúsculo” e “After”, o que prova a funcionalidade desse mecanismo, que transformaram pessoas comuns em grandes escritores, mas ainda sob a lupa das grandes editoras que comandam o mercado.
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O terceiro ponto é o mais recente: o Amazon Kindle Direct Publishing, que é nada mais, nada menos do serviço de publicação gratuito vinculado ao Kindle (plataforma de ebooks da Amazon).
É fato que após a Amazon, toda a lógica do mercado editorial foi mudada, visto que a empresa norte-americana consegue vender os mesmos produtos que uma livraria convencional por um preço muito menor. Mas associado a isso, a loja virtual apresentou a possibilidade de publicação em um veículo comercial grande de forma gratuita e com retorno financeiro.
Essa nova alternativa tem inovado o mercado literário, pois agora há uma enorme quantidade de livros circulando como objetos de compra, e não mais como meras “fanfics”. O número de autores independentes que têm conseguido espaço e reconhecimento vem crescendo cada vez mais devido a facilidade de encontrá-los na maior loja virtual do mundo.
Dois exemplos são o escritor Victor Marques e G.B. Baldassari que, após longos anos publicando de maneira independente, conseguiram se filiar à editora Naci, que produziu o primeiro livro físico de ambos nesse ano de 2024.
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A realidade é que o mercado editorial literário está em constante mudança, conservando certos métodos e revolucionando em outros, mas independente de qualquer transformação, ser escritor no Brasil não é tarefa fácil. É preciso determinação e boas estratégias de marketing para se sobressair e alcançar o público desejado; às vezes é necessário detectar tendências e trabalhar em cima delas, no fim, o trabalho do escritor se torna mais do que escrever.
Imagens: Divulgação/Canva
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