Mostra da ACCRJ foi um preparativo para a reinauguração em maio.

O Ponto Cine, em Guadalupe, é o cinema mais simpático do Rio do Janeiro e não é à toa, basta chegar na recepção que já encontra um sorriso da equipe com um bom papo. O que move a todos que já passaram por lá, seja na equipe ou como público, é o brilho no olho de quem leva o Ponto Cine no coração e nas mãos, afinal é bastante luta. 

Para quem não sabe, o cinema completa 18 anos em maio e está fechado desde a pandemia. É o maior exibidor de cinema nacional no país, com vários prêmios neste sentido e tem como premissa difundir o cinema nacional e democratizar o acesso, seja através da exibição ou dos demais projetos como o ProSocial, Diálogos com o Cinema, por exemplo.

A escolha do Ponto Cine para abrigar a mostra da ACCRJ, segundo Breno Lira Gomes, coordenador de produção do evento, foi pela necessidade de expandir a mostra “Os Melhores Filmes do Ano”, fazendo com que chegasse além da zona sul e/ou centro do Rio de Janeiro. E o melhor lugar é o Ponto Cine por toda importância que o cinema tem, por seu trabalho na comunidade que está ao seu redor.

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Público é o diferencial do Ponto Cine 

Para Breno, a contribuição do Ponto Cine para a mostra da ACCRJ se deu através do público que frequenta o local : 

“São outros olhares e outras perspectivas a respeito dos filmes apresentados. Muitos deles nem sequer foram lançados em cinemas da zona norte do Rio de Janeiro. O Ponto Cine, por ser uma sala de cinema diferenciada, com uma programação bem específica, já atrai por si só um espectador mais crítico e interessado, curioso em assistir filmes fora do circuito comercial.”

Ele não tem meias palavras pra dizer se gostou ou não do filme. E aponta muito bem os pontos positivos e negativos da obra exibida. Por isso que o Ponto Cine era o cinema da zona norte que deveria receber o projeto “Os Melhores Filmes do Ano 2023”. 

Entrevista com Léo Barros e Jonathan Barroso

Conversamos com Leonardo Barros e Jonathan Barroso, produtor executivo e coordenador de exibição do Ponto Cine, respectivamente. Falamos sobre a importância da mostra “Os Melhores Filmes do Ano” para o espaço e o subúrbio e, claro, a retomada das atividades!

Joana D’arc Souza | Qual a importância da mostra para a nova fase do Ponto Cine?

Léo Barros | Vimos que após 4 anos fechados, a Mostra seria uma ótima oportunidade para fazer esse “test drive” com o Ponto Cine, dizer que a gente tá voltando, ofertar filmes que a gente não oferta na nossa programação normal, que é exclusivamente de filmes brasileiros. Além disso, o público daqui também não tem chance de ver. Porque, por mais que as salas multiplex estejam nos shoppings que permeiam a Zona Norte e a Zona Oeste, a programação é quase a mesma em todas as zonas. 

Por exemplo, o filme “Assassino Da Lua das Flores”, do Martin Scorsese, o mais longe, o mais dentro da Zona Norte que ele chegou foi até o Norte Shopping, que fica no Cachambí. No restante da Zona Norte e Zona Oeste não entrou. Ontem, às três horas da tarde, tivemos 50% de ocupação da sala numa sessão terça-feira, três horas da tarde. Um filme inédito para a região. Entendeu?

Sábado vai ser outra explosão, porque o vai ser o “Oppenheimer” e a “Baleia”. Dois filmes consagrados nos festivais, e o Ponto Cine nunca exibiu um vencedor do Oscar, vai ser a primeira vez.

J.D.S | O que essa mostra representa para o Subúrbio, levando em conta essa escolha dos filmes? 

L.B | Não existe um circuito de cinema de rua mais no subúrbio. Geralmente o cinema de rua são as salas que fazem uma programação mais diversificada. Nos cinemas multiplex, a programação é esse cinema norte-americano. Então você vê, para você assistir um filme que não seja norte-americano – não precisa nem ser brasileiro – um filme não norte-americano, um filme europeu, um filme latino, no Rio de Janeiro, só vai ter no Estação, em Botafogo. 

J.D.S | E aí você fica naquele círculo vicioso: As pessoas não gostam desse tipo de filme porque não chegam ou não chegam porque as pessoas não conhecem?

L.B: A existência do Ponto Cine prova que as pessoas não gostam porque não tem acesso. A gente tava conversando com jovens universitários que só sabiam do Ponto Cine como notícia, porque quando chegaram à universidade, aqui estava nesse hiato e hoje vieram para assistir a primeira sessão e ficaram. 

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Aqui na nossa programação do dia a dia só filme brasileiro. Filmes de outras nacionalidades só em mostras específicas. Mostra e festival, a gente participa de todos os da cidade. Por exemplo, esse ano o Festival do Rio vai voltar para Guadalupe. 

Esse público sedento já começou a bater de novo na nossa porta. Então, a gente vê a importância da democratização no acesso a filmes não norte-americanos.

J.D.S | Como está a expectativa para a nova fase? 

L.B | Ah, muita expectativa! Primeiro que é um trabalho de completa reconstrução: todos os nossos relacionamentos com instituições parceiras; nos nossos trabalhos de formação de plateia como o de promoção social de cinema e o diálogos com o cinema vão voltar. Também vamos retornar com as atividades do Polo Audiovisual, que é nosso polo de formação audiovisual em parceria com o IFRJ também, então a expectativa é a melhor possível. 

Estamos pensando formas de transformar o ponto de cinema mais inovador ainda, mais amplo ainda. Ganhamos editais da Lei Paulo Gustavo, isso garante a gente um ano de funcionamento. Ou seja, a partir da reabertura, a gente tem 12 meses garantidos por ele, e os da Rio Filme e da Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro. Enquanto isso a gente vai trabalhando.

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J.D.S | E como tá o coração de vocês com o Ponto Cine voltando?

Jonathan Barroso | Acelerado, eu acredito que as pessoas estavam com saudade do Ponto Cine. E agora, nesse momento, ainda que seja breve, poder ter esse abraço das pessoas no balcão. Inclusive nas redes sociais, demonstra que não somos só nós que estamos carentes do público. O público está carentes do Ponto Cine também.