É fato que “Cuphead” é um dos maiores lançamentos do ano de 2017 – e isto porque temos nomes de peso nesta mesma época, como “Shadow of War”, “Wolfenstein II” e “Assassin’s Creed Origins”. E o que mais poderíamos dizer sobre nosso pequeno gigante? Já sabemos agora, que seu estilo vintage não é apenas estético, mas também se estende à jogabilidade, no grande desafio que o jogo apresenta. Falando diretamente: você vai morrer muito e passar muita raiva. E é aí que queremos chegar no texto de hoje. Naquele momento em que você pode estar xingando a tela, ao mesmo tempo pode estar fazendo-o com um sorriso no rosto. É porque “Cuphead” resgata um prazer no desafio, que na última década se perdeu.
Não queremos aqui fazer o que facilmente se encontra em comentários pela internet: como o gamer veterano que se gaba “ah, mas estes jovens não sabem jogar, estão acostumados com a moleza…” aquela típica saga das reclamações nas redes sociais do #TeamRaiz contra o #TeamNutella.
“Cuphead” é difícil sim, mas não é apenas isto que agrega valor ao seu primeiro milhão de cópias, vendidas atingidas cerca de duas semanas após seu lançamento. Sua maior qualidade está no resgate do prazer de jogar qualquer coisa. Em matar aquela inércia existencial-virtual de apertar botões e querer terminar logo a história, que havia começado tão interessante e depois caiu na repetição, só para saber que fim o protagonista levou. É algo que pode fazer você redescobrir também a experiência antiga de sentar na frente de um videogame e persistir. Além, é claro, de valorizar a possibilidade de jogar localmente com um amigo no outro controle.
Quando falamos de jogos difíceis, o primeiro título contemporâneo que vem à cabeça é provavelmente o hack’n’slash masoquístico, “Dark Souls”. Assim como na aventura animada e 2D de Cuphead, há inimigos inesperadamente fortes, com padrões de ataque que variam, conforme estes se transformam ao serem atacados fazendo com que você precise ter uma rápida reação. E se você morrer… Bom: é basicamente segurar a vontade de atirar o joystick na parede (até porque os de consoles hoje em dia são bem caros) e começar… tudo… de novo. É claro que “Souls” ainda deixa você se curar e usar esporádicos checkpoints, mas a generosidade acaba aí. A adrenalina dos dois títulos é simples e realista: você erra, você morre. E ambos sabem compensar a punição – superar aquela fase ou aquele boss é uma sensação de superação sem igual. Daquelas que se aplicadas na vida real… Bom, deixem esse papo para seus parentes.
O perigo, quando falamos de jogos desafiantes, é que automaticamente vemos por aí a pessoa dividir jogadores entre novatos e veteranos. É uma polaridade chata, e que termina fazendo com que a nova geração crie resistência a algo que pode realmente ampliar seus horizontes. Parece um papo #motivacional de internet, mas é verdade.
E o legal é justamente esta possibilidade de abertura: seja para gamers novatos, ou seja para veteranos, que desacostumaram com o nível dos jogos dos anos 1980 e 1990. “Cuphead” é onde cada um pode se permitir a redescobrir os games clássicos de “run-n-gun” (traduzido ao pé da letra como “correr e atirar”), como “Mega Man” ou “Metal Slug”. É uma oportunidade para pegar em novos games, da mesma levada nostálgica, como “Shovel Knight” ou “Slain: Back to Hell”, que reúnem a estética e mecânicas clássicas, refinadas com as possibilidades dos títulos contemporâneos.
Se você já tentou “Shovel Knigt” ou “Slain”, que acabamos de mencionar, mas desistiu por julgá-los difíceis demais, mas conseguiu persistir e passar de algumas fases em “Cuphead”, fica a nossa dica: experimente voltar para eles e veja como a experiência se transformou.
É claro que os jogos da infância ocupam um espaço em nossos corações, afinal, memória afetiva! Mas os novos jogos que prestam homenagem aos clássicos, costumam ser mais polidos, onde sua morte é culpa de uma escorregada do jogador, e não de uma jogabilidade ineficiente ou limitada às possibilidades de sua época. Basta superarmos a memória afetiva que temos com certos títulos antigos, e talvez perceber que muitos deles são ainda sensacionais. Mas observar também muitos também envelheceram mal.
No final das contas, você vai jogar o que quiser. Mas a ideia fica aqui, e ela é boa, então, escutem (com “Imagine” do John Lennon ao fundo): não é sobre uma polaridade de velho contra o novo, difícil contra fácil. Mas nosso personagem “canecudo” pode lhe ensinar, tudo de novo, a observar, a reagir… E a lição mais valiosa de todas: entre os gigantes lançamentos que temos atualmente, ainda tem muita coisa para se jogar… E sem precisar gastar uns quase quatrocentos reais nisso. Como que nossas avós, daqueles tempos que inspiraram “Cuphead” diriam? Às vezes, menos é mais.
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