O queridinho franco-nipônico chegou aos cinemas brasileiros nesse dia 13. “Belle“, que quando estreou no festival de Cannes foi aplaudido por catorze minutos, é uma refrescante releitura de A Bela e a Fera em uma terra em que tudo é possível. Ao longo de duas horas e quatro de uma mágica viagem para o futuro, o telespectador de todas as idades há de encontrar o seu próprio motivo para se encantar com o deslumbre do Mundo de U.

Talvez explicar sobre o que Belle é não seja uma tarefa simples à primeira vista. Se para os ouvidos brasileiros o título talvez não ressoe tanta familiaridade, para quem cresceu vendo os clássicos da Disney em inglês — ou francês — Belle é uma clara referência ao conto “A Bela e a Fera”, também com paralelismo no título do longa em japonês “O dragão e a princesa sardenta”. Então, eis mais uma adaptação da fórmula que já foi repetida à exaustão, sim? Definitivamente não.
As referências ao conto aparecem como motifs mais ou menos sutis, e como a audiência há de perceber, o romance definitivamente não é o foco dessa fábula ultramoderna. Suzu, uma garota sem quaisquer atrativos que a retire da assustadora mediocridade, através de um convite embarca para “U”, um ambiente virtual onde cada pessoa assume um avatar único e pode refazer sua vida — até mesmo mudar o mundo.
Deve-se dizer que o filme adota uma postura mista diante desse “metaverso”. Em sua construção de mundo não há necessidade de uma polícia virtual — e como resposta há a presença de um grupo paramilitar — também não há claras hierarquias e o telespectador deve preencher essas lacunas com a suspensão da descrença. Por outro lado, Belle opta por problematizar a individualidade a despeito do coletivo, sobre a alienação do sujeito e o poder de uma voz na multidão, tal como a velha discussão do mito da caverna.
Se não há algo que se pode apontar um dedo para Belle diz respeito a sua produção artística. Os cenários e design de personagens de encher os olhos são uma amostra de horas de trabalho primoroso pelos detalhes, em um estilo que mistura o tradicional traço de anime com uma clara intervenção ocidental. Soma-se a isso a trilha sonora que é um show a parte, muito eficiente em cativar o público — é de alguma forma curioso que “Lend me your voice” não tenha recebido uma indicação para o Academy Awards.
Não seria de se estranhar que o tempo voe enquanto o filme esteja passando: as duas horas são de modo geral muito bem aproveitadas, sem exageros subestimando a inteligência do público e tampouco uma trama apressada; ao menos nos primeiros três quartos do longa. Sem revelações de enredo, o que pode ser dito do final é que embora condizente com a mensagem do filme, exige muita boa vontade do público mais cético pela forma como é conduzido, inclusive com um questionável Deus ex machina — ou ex Belle, sendo mais preciso.
São vários os trabalhos de ficção que tentam captar os limites da essência humana frente a inovações tecnológicas, como “Eu Robô” e até “Avatar” (2009). Belle parece ser mais um desses casos, mas ao invés de simplesmente focar na tecnologia, esse novo universo, completamente lúdico, que surge a partir da mente humana no digital, poderia ser palco para recriar qualquer clássico super espirituosamente, e por não se exaurir em si mesmo torna o filme especial dentre outras tentativas de retratar um futuro hiperconectado — e qual seria mesmo efetividade real dessas conexões, ao fim do dia? — e embora seja cedo para dizer, não parece um conto de fadas que há de ficar datado nos próximos anos, diferente da produção de James Cameron acima citada.
No Brasil recebendo a classificação indicativa de doze anos, Belle é uma ótima pedida para passar uma tarde de cinema com toda a família, amigos ou interesse romântico. Ainda que com seus problemas pontuais, mesmo no tratamento de uma específica questão social, o enredo relativamente simples dá margem para que o espectador tire suas próprias conclusões sobre diversas minúcias da trama, além de fascinar o público integralmente por duas horas com um pouco do melhor que a indústria da animação ofereceu nos últimos anos.

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