Vivemos em tempos de empreendedorismo. São cursos, palestras, blogs, sites, vídeos, conversas de bastidores, tudo girando em torno desse assunto que, atualmente, é um dos temas mais recorrentes em nossa sociedade. A vontade de empreender exala por todos os lados. Todos os dias centenas de pessoas abrem mão de suas carreiras – muitas vezes há anos consolidadas -, para apostar em um novo projeto, em uma nova ideia, em um novo propósito de vida e até mesmo em abrir o próprio negócio. Para muitos, é abrir as portas para a realização de um grande sonho, principalmente de ser seu próprio patrão.
Agora vamos imaginar esse mesmo cenário mas desta vez em uma viagem no tempo, ao passado, lá nos anos 50. E, como personagem principal, uma mulher, que decide abrir a sua própria livraria. Situação bastante inusitada, não é mesmo?! Pois essa é a história do livro “The bookshop”, de Penelope Fitzgerald – em português, “A livraria” -, que conta as desventuras de Florence Green, uma viúva de meia idade, habitante de uma cidadezinha do interior.
A narrativa se passa na Inglaterra de 1959, quando Florence decide abrir uma livraria na pequena vila costeira de Hardborough, onde vive. Com características bem típicas de cidades mais afastadas dos centros, o local tem aquele clima gostoso e acolhedor onde todos se conhecem. Por outro lado, esse mesmo ponto positivo pode se transformar em algo negativo onde, exatamente pelo fato de todos se conhecerem, é preciso conviver com a ideia de que todo mundo sabe tudo o que acontece na vida de todos. Como por exemplo, o dia em que ela mal saiu do banco pra pedir um empréstimo e em pouco tempo a notícia já tinha se espalhado por toda a cidade. O que acontece é que, por essa proximidade, todo mundo se sente meio responsável pela vida do outro e por suas ações. E aí, quando Florence entra com a novidade de trazer uma livraria pro vilarejo, um certo desconforto toma conta da população. Sua atitude foi considerada, pelos habitantes locais, bastante ousada para uma viúva de uma cidade pequena. Ela não esperava que sua conduta, aparentemente simples, fosse causar tal reação entre os moradores.
Para o contexto da época, a gente até consegue imaginar que devia ser mesmo um comportamento muito arrojado. Mas a nossa protagonista não se amedrontou e não se deixou abalar pelos olhares atravessados e pelos comentários feitos pelo povo. Ela não se preocupa muito se terá ou não apoio dos moradores. E então, contra tudo e contra todos, arregaça as mangas e corre em direção ao seu objetivo. Primeiro, compra um edifício abandonado há anos e que está bem gasto pela umidade. Depois, põe a mão na massa pra reformar o local e assim consegue colocar em prática a instalação da primeira livraria da vila.
Apesar de toda a resistência, com o tempo, Florence consegue virar o jogo mostrando a todos o melhor da literatura da época. Incluindo o escandaloso “Lolita”, de Nabokov e também “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury. Mas o sucesso do seu negócio desperta a hostilidade dos lojistas menos prósperos da região. Muitos se incomodam especialmente porque queriam o local da livraria para começar outro tipo de empreendimento. Uma dessas pessoas é a Sra. Gamart, uma mulher muito amargurada e vingativa que se julga a bam-bam-bam do cenário artístico local.
“A livraria” é uma história bastante envolvente. É uma obra-prima acerca do mundo dos livros, dos sonhos, da vida. Relata as dificuldades e obstáculos que Florence encontra durante todo o processo. Fala sobre Ignorância, inveja e a falsa moral dos cidadãos que vão tentar colocar um fim no sonho dela. Como a narrativa se passa há quase um século, faz lembrar muito os livros de Jane Austen. E todo aquele toque de educação inglesa nos transporta imediatamente para dentro do livro, para o passado da cidadezinha de Hardborough.
O livro, que tem apenas 159 páginas, foi lançado pela 1ª vez nos anos 70 e agora está de volta às prateleiras, com nova capa, para acompanhar sua versão para as telonas. Com estreia marcada para o dia 22 deste mês, o longa da diretora espanhola Isabel Coixet já faturou diversos prêmios e foi inclusive o maior vencedor do prêmio Goya 2018, que é considerado o Oscar do cinema espanhol.
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