“Controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez” (Raul Seixas)
Dos muitos diagnósticos médicos que uma pessoa pode receber, nenhum foi tão mal compreendido que o de Transtorno Mental. Afinal, o que englobaria essa categoria? Bem, o que pudemos pesquisar é que ao menos 20% da população brasileira se encaixa nesse diagnóstico. O que levaria a crer, então, que 20% de nós somos malucos. (?!)
É, Booklanders, nossa resenha de hoje vem contar de maneira engraçada como certas nomenclaturas podem simplesmente arrasar com uma pessoa. E, como essa pessoa deu a volta por cima, mesmo sendo doidinha de pedra. “Alucinadamente Feliz – Um livro engraçado sobre coisas horríveis”, de Jenny Lawson não é só uma biografia bem-humorada dessa autora que sobreviveu a todos os prognósticos sobre a insanidade (mesmo já quando havia desistido); esse também, é um livro essencial para todos àqueles que desejam compreender como conviver com pessoas extremamente alucinadas.
Antes de começarmos – porque Bookland também é cultura – é bom deixar claro que há grandes diferenças entre as palavras “transtorno” e “doença”. E que esses significados não podem ser vistos sob o mesmo prisma. Segundo o dicionário Priberam de Língua Portuguesa, o verbete “transtorno” aparece como sinônimo de perturbação, alteração, mudança – e etecetera – Ah! Há também o “desarranjo mental”. Já a palavra “doença” é associada à falta de saúde.
Logo, uma pessoa que tem transtorno mental pode até estar doente – por razões adversas – mas ela não É doente (!). E fazer essa separação agora no começo de nossa resenha é crucial, justamente, porque parece que voltamos a viver como há 100 anos. E o preconceito volta enraizado naqueles que não conseguem entender explicações que são dadas “tim-tim-por-tim”.
Posto os esclarecimentos acima, vamos então ao que interessa. Vocês já ouviram falar em Depressão, Ansiedade, Síndrome do Pânico, Histeria, Mania, TOC… é claro. Mas vocês já conheceram alguém que tenha todos esses transtornos – e um poquito más – de uma só vez? Pois é, Lawson teve que aprender a lidar não só com o mundo factível do lado de fora, como também a conviver com a realidade inventada por ela na sua cabeça. Portadora de todas essas síndromes, a autora resolveu colocar no livro como lida com seus sintomas. E como as pessoas – os outros– reagem a isso.
“De acordo com muitos psiquiatras que visitei nas últimas décadas, sou uma depressiva altamente funcional com transtorno de ansiedade grave, depressão clínica moderada e distúrbio de automutilação brando proveniente de um transtorno do controle de impulsos.”
Não é uma obra que se resenha com facilidade. Afinal, o mais divertido é ir descobrindo aos poucos tudo que se passa na cabeça de alguém com transtorno mental. Mas o que podemos falar é que Jenny nos dá uma aula de felicidade e riso frouxo. E por assim só, acaba desmistificando todo aura pesada que o assunto engendra. Acima de tudo, é um livro sincero. A autora coloca as cartas na mesa e explica como tudo funciona. Ao leitor, fica a escolha de embarcar ou não nessa loucura.
Ao longo da narrativa vamos conhecendo uma mulher forte, que mesmo com todas as dificuldades opera de maneira bem positiva na vida da filha e do marido. Vemos como coisas simples podem ser impossíveis, como simplesmente sair de casa para ver os amigos, ou fazer aquela viagem dos sonhos. Conseguimos enxergar – quiçá nos identificar – com sua essência. E nos solidarizar, ainda que seja rindo das situações que ela se mete.
Lawson usa Alucinadamente Feliz como uma espécie de expurgatório – ou confessionário – e não esconde as dores e as delícias de ser quem se é. Bem como conta que pode, apesar de tudo, ser casada – nossa… por mais pessoas no mundo como seu marido Vitor –, ser mãe, ter amigos e que cada dia é um leão que se mata.
Aaaah! E a capa? Daí você está andando por uma livraria, procurando um passatempo, uma diversão para horas vagas e dá de cara com a seguinte cena nas prateleiras; uma capa amarelo ovo, como muitas serpentinas brilhantes e um guaxinim extremamente feliz com os bracinhos voltados para cima. Dá até vontade de abraçar. E a melhor parte é quando você descobre que o tal guaxinim da capa – o modelo – é da própria autora. Um, dos alguns bichos empalhados que ela tem.
São 352 páginas, algumas com fotos e/ou ilustrações, e todos os capítulos bem divididos. São situações cômicas que nos fazem refletir apesar de tudo. São coisas terríveis sim, mas extremamente divertidos.
E para quem quiser conhecer mais sobre a autora Jenny Lawson, bem, ela tem um blog super famoso – onde tudo começou – o The Bloggess.
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