Adaptação de “Devil May Cry” parece que não tentou muito
Lançada dia 4, havia uma parcela da comunidade que estava ansiosa pela estreia de “Devil May Cry” na Netflix, expectativas alçadas pela trilha sonora e outros títulos bem recebidos, como a adaptação de “Castlevania”, mas a série não foi tão bem recebida assim. Depois de um tempo, e com os ânimos das redes sociais mais controlados, resolvemos dar nosso veredito: é bom ou é bomba?
Sobre a Netflix, de novo

No nem tão cor-de-rosa mundinho das franquias adaptadas, há dois principais tipos de adaptações: aquelas que tentam seguir a risca a própria obra (“Jogos Vorazes”, “Shigatsu wa Kimi no Uso”, “Éramos Seis”), e aquelas livremente inspiradas (“10 Coisas Que Eu Odeio em Você”, “Pokémon”, “O Cravo e a Rosa”), além de, claro, aqueles que é melhor classificá-los como no meio do caminho.
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Faz parte de uma ilusão, ainda muito presente, acreditar que seja possível transpor mídias na “perfeita fidelidade”, afinal, deturpações já estão sendo feitas nessa tentativa de transmigração, mesmo entre os casos citados no parágrafo anterior. É papel do diretor tomar liberdades para modificar a linguagem (em sentido amplo) original para uma que faça mais sentido a da nova proposta. E é aí que as infinitas discussões começam.
Seja por inabilidade e canastrice — caham, Zack Snyder — ou por ordens executivas, é possível se perder no meio do caminho buscando essa perfeição inalcançável por uma escala de 1:1. Mas não é nenhum demérito escolher uma forma sobre a outra, são escolhas artísticas que podem funcionar bem, até tentar mesclar as linguagens. Em adaptações de doramas e quadrinhos, por exemplo, formas “chibi” e efeitos hiper-exagerados são artifícios comuns para trazer o próprio charme à produção. Sabemos, contudo, que na indústria do entretenimento são raras as vezes que propósitos meramente artísticos são a única motivação.
E lá vamos nós.
Limp Bizkit – Rolando (ladeira abaixo)
“Devil May Cry” (2025) é uma dessas empreitadas na zona cinzenta, isto porque os personagens dos jogos estão lá, mas a construção narrativa tem um gosto diferente àqueles que já tiveram contato com a franquia, os que devem ser a maioria dos interessados.
Sabemos que a Netflix tem um histórico preocupante ao trazer obras de outras mídias para seu streaming, não por acaso saíram crimes contra a humanidade como “Death Note” (2017), e os motivos para falha são sempre muito particulares — não caiamos em lugares comuns — ao passo que outros queridinhos logo nos vêm a mente (“One Piece” [2023], “Arcane” [2021], “Castlevania” [2017]). Ao menos para o público mais apaixonado, contudo, este trabalho não figurou entre os mais excepcionais.
Escolhendo não a maratonar e, ao invés disso, consumi-la aos poucos, foi difícil não fugir da enchurrada de críticas sempre que “Devil May Cry” se tornava pauta na internet, o que tentamos fazer para não atrapalhar em nosso julgamento. Essa foi decididamente uma boa ideia, tanto por não se render à lógica do consumo irracional de entretenimento, quanto porque a série é… decepcionante.
Destarte este quem vos fala não sendo um daqueles que aguardava ansiosamente para ver o que é que a Netflix nos daria, assistir “Devil May Cry” é a experiência de um projeto que não sabe bem o que quer, que só piora quando assistido em forma de maratona, sem pausas — o que fizemos com os últimos três episódios; quando você acredita que a trama deslancha, ela continua ali.
Não que não estejam acontecendo coisas na tela, contudo de alguma forma o telespectador não poderia se importar menos com o destino dos personagens, que parecem apenas arquétipos caricaturais. A produção tenta (e muito) disfarçar e abraçar o estilo trem desgovernado para cativar o espectador, seja pela trilha, quanto pelo protagonista Dante, que é o próprio Pica-Pau Biruta de Nova Iorque e — surpresa! — parece mais um coadjuvante.
Um adendo: pode soar até cansativo quando repetimos que adaptações não devem uma fidelidade (ao pé da letra) ao material original, ao contraditório que isto possa soar, mas este é um bom exemplo de como tentar subverter as expectativas e fazer algo, quando muito, medíocre.
Por um lado “Devil May Cry” é uma série de jogos muito mais focada em construir clima através das relações do que um contexto e crítica geopolítica, por outro a série adaptada não precisava seguir por essa vertente, e de fato não o fez, porém falta muita maturidade para Adi Shankar e Alex Larsen, que aqui fazem as vezes de guionistas (Shankar também é produtor) e parece que estão seguindo as recomendações da Netflix para produção de enlatados.
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O que mais atrapalha a experiência do público é uma tentativa barata de desenvolver um comentário social em oito episódios de vinte minutos enquanto medem quanto tempo de tela será despeindod com uma tentativa de comédia apocalíptica ou com a crítica mais rasa e inofensiva que você poderia esperar até mesmo da sua beata vó Lourdes.
É uma pena que isso ressoe ao coro de profecia autocumprida sobre “produções Netflix”, bem longe de defender uma corporação bilionária, mas sejamos melhores nas nossas críticas. A animação do Estúdio Mir ajudou a levantar as expectativas, e de fado entregou, está bem bonita, mas também não é essa Coca Cola toda.
Ah, e por fim, a abertura! Ela diz muito sobre o show, ambientado nos anos 2000. Com os incríveis Limp Bizkit e uma estética cartoon punk, podemos perceber que houve cuidado redobrado pela representação estética, porém, se olharmos demais vemos como não dá para espremer muita coisa daí. Ao som da trilha final de “American Idiot” do Green Day, talvez nós, público latino-americano, sejamos os palhaços desse circo midiático — que não é ruim, mas muito do medíocre e, para nosso desespero, já foi renovada para uma segunda temporada; salve-se quem puder.
Imagem Destacada: Divulgação/Netflix

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