Publicado no ano passado, em 2016, pela editora Malê – uma editora que publica apenas textos literários em língua portuguesa de autores negros, brasileiros, africanos e da diáspora – “O Tapete Voador” é o quarto livro da atriz e escritora Cristiane Sobral, que desenvolve textos focados na construção de uma identidade negra contemporânea e a exposição de preconceitos raciais e/ou sociais.
Seguindo sua linha de trabalho, Sobral nos traz um livro com contos de fácil leitura e compreensão. Tendo dezenove histórias, a obra é uma espécie de tapa social alinhado ao bom entretenimento literário, com exposições narrativas que facilmente poderíamos ver, ouvir e conviver, oscilando entre um humor irônico ao drama humano, passando pela pobreza e pela riqueza social, assim como a de espírito.
Existe um lirismo muito pessoal em sua escrita, que nos acolhe como leitor da mesma forma que nos afasta, dada algumas situações em que nós somos inseridos. Entrando nos quesitos negativos do livro, podemos dizer que a escolha da ordem em que os contos nos são apresentados não foram a melhor, uma vez que a conectividade entre eles é subliminar. Não existe uma sequência em que somos encaminhados a narrativas específicas, que nos induz a manter o clima. Reviravoltas climáticas podem ser incríveis quando bem organizadas, mas no caso foram poucas vezes que essa ocorrência se fez eficiente.
Dentre os contos podemos destacar alguns, em sua grande maioria presente na primeira metade, como o que dá título ao livro. “O Tapete Voador” é um exemplar bem construído, que nos atinge de uma maneira tão assustadora, no melhor sentido da coisa, pelo modo como as circunstâncias em que o empoderamento negro ali se apresenta, que é um deleite. Particularmente, acredito que esse era o texto ideal para encerrar a obra e não para abri-lo. Outro texto incrível é “Elevador a Serviço”, a forma como a protagonista lida com o preconceito enraizado em nossa sociedade, durante uma conversa no elevador com uma Sra. que não se diz racista, mas que suas palavras dizem o contrário, é excepcional.
Dois ótimos contos que se dialogam indiretamente e são mostrados de maneira diferentes são “Lélio” e “Afrodisíaco”. Existe uma crueldade lírica no estilo que se apresenta os personagens, que ambos nos fazem mudar de opinião sobre seus protagonistas durante a narrativa. Esses contos em particular, são um dos poucos em que a presença masculina tem uma importância maior, pois no geral os homens são personagens de composição e não de relativa importância. E isso é uma das coisas que torna a leitura de todo o livro mais interessante.
Por fim, temos dois textos que poderiam ser narrados em um mesmo ambiente e que são os mais tocantes, dentro da tristeza em se ler uma ficção que nos prega e expõe o quão preconceituosa nossa sociedade é. “O Galo Preto” e “Bife Com Batata Frita”, são literalmente uma surra de humanidade. Ambos apresentam a pobreza econômica, exposta de maneiras diferentes, e não se emocionar, não se sentir verdadeiramente tocado com os contos, principalmente “Bife Com Batata Frita”, é uma prova de que lhe falta humanidade dentro do seu ser.
Cristiane Sobral nos dá de presente uma obra bem trabalhada, com expoentes necessários para uma reflexão profunda sobre os tipos de pessoas que somos, como nos empoderamos, como amamos e, principalmente, como respeitamos as diferenças apesar das adversidades sociais que, infelizmente, estão presentes em nosso dia a dia.
[divider]Sobre o Livro[/divider]
Sinopse:
O Tapete Voador é uma coletânea de contos em que Cristiane Sobral aborda temas como empoderamento negro, discriminação racial e colorismo. O livro apresenta diversas personagens femininas que lutam por superar as barreiras sociais para alcançar seus objetivos.
Título: O Tapete Voador
Autora: Cristiane Sobral
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Formato: 14 x 21 cm
Páginas: 104
Ano de Edição: 2016
Edição: 1ª
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.