eu venho antes de mim
nela
no que ela queima e é queimada,
bruxa, Medéia,
santa
cruza e descruza as pernas
eu venho nela
que sangra e é doce
que pinga e goza
que mata e morre
nele
neles
nelas
eu falo por elas
mecanicamente
um oi
uma obediência que não vesti
mentira,
elas que arrancaram
antes
antes de mim
antes do útero da minha mãe
ai, antes do cebo e do grito
AI
sou delas
todas elas
putas
sagradas no meu santuário
me dão essa tinta
é com a veia delas que escrevo
ainda
por quê?
é uma velha dívida de honrar
suas cordas vocais e seus cortes
seu gás ligado
e seus filhos
seu cabo de aço
e os maridos
aqueles que não alimentei
eu grito ainda
mesmo que a minha voz abafada
só deixe chegar um ruído
sou poluição
um cisco no teu olho
entrave no campo de visão
desembelezo tuas frentes
e nua sou feia
te escarro orgulhosa
desonro sua ceia
mas não por nada,
por elas,
não sou tua.
jamais.
Por Érika Nunes
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