Há dez anos surgia na grade da televisão brasileira um programa diferente de qualquer outra produção jornalística ou humorística. No dia 17 de março de 2008 estreava na Band o “CQC – Custe o que custar”, um programa que tinha como essência tratar diversos temas em formato de jornal irreverente com um toque de humor.
O CQC tinha uma estrutura inovadora, uma bancada comandada por Marcelo Tas na companhia dos comediantes Rafinha Bastos e Marco Luque. Eles agiam como âncoras, que são apresentadores de jornais que opinam sobre as reportagens mostradas. Apesar do programa ser classificado como de humor, ele ia muito além disso. Tratava de política, esporte, celebridades, cidadania, entre outros. Não existia algo parecido na grade da TV brasileira e desde o seu “fim”, um programa como o CQC faz falta.
O programa contava com um time de repórteres que exerciam bem a sua função: informar e divertir. Entre eles estavam Danilo Gentili, Rafael Cortez, Felipe Andreoli e Oscar Filho, na primeira temporada. Eles tinham quadros e faziam matérias de forma única e isso conquistou o público. Até então, não existiam repórteres que iam até Brasília questionar os políticos de forma objetiva. Por que não perguntar se alguém realmente tinha dado ou aceitado alguma propina quando a população sabia que sim? Ou então, testar os conhecimentos gerais daqueles que nos representavam, como perguntar termos políticos, localização de países ou estados, ou até conversar sobre algo que estava acontecendo no Brasil. Indagar os políticos como eles faziam é algo que não existe mais.
Além de estarem sempre em Brasília, o CQC também abordava outros temas e possuía quadros relevantes para os telespectadores. Felipe Andreoli, por exemplo, sempre fazia matérias esportivas. Tinha o “Repórter Inexperiente” em que Danilo Gentili fingia ser um repórter que não sabia como entrevistar as personalidades e um pouco atrapalhado. O “Proteste Já” era o momento mais sério da atração, no qual Rafinha Bastos ia a diversos lugares do país pedidos pela população e denunciava o descaso dos políticos, e ainda ia nas prefeituras pedir uma resposta para os cidadãos. Um dos quadros mais aguardados do programa era o “Top Five”, que trazia os momentos mais cômicos da semana na televisão brasileira.
O formato do CQC não surgiu assim do nada, muito menos brotou na TV. O programa, em 1995, foi ao ar na emissora argentina América TV, o “Caiga quien caiga” que é a versão original do CQC. Não eram os mesmos quadros e muitos menos as mesmas piadas, mas o objetivo e a forma de tratar os fatos era igual. O Brasil não foi o único país a adotar este modelo, Portugal, Itália, Espanha e Chile também apostaram na ideia. Recentemente, um repórter do CQC chileno foi preso após questionar o presidente Temer a respeito da corrupção na política brasileira. Quantos cidadãos do país não quiseram perguntar o mesmo? Esta é uma das razões do programa existir: fazer algo que ninguém faz. Sendo assim, a atração faz muita falta no cenário da TV brasileira.
Uma frase que Marcelo Tas sempre falava no programa: falar e perguntar o que ninguém tem coragem. Uma vez chegou a dizer que o CQC era “como uma mosquinha que queria incomodar”. E fazia muito bem isso. A princípio foi comparado ao “Pânico na TV” por causa do humor escrachado e pela forma que os repórteres abordavam as celebridades em eventos que cobriam. Mas aos poucos essa visão do público foi mudando. O CQC trazia um humor inteligente, com boas sacadas e momentos de seriedade. Além de divertir e informar, a atração também era uma prestação de serviço, batiam de frente com políticos o tempo todo em nome do interesse público e poletimização. Ser polêmico e bastante comentado nas redes sociais também era o objetivo da produção. Pena que vive um hiato de intervalo.
Mas afinal, um programa bom, único, diversificado, com elenco talentoso e que já deu certo em outros países, acabou por quê? A Band, emissora que exibia a atração, informou em 2016 que o CQC teria um ano sabático para que fosse reformulado e voltasse para a grade da programação no ano seguinte. Bem, já estamos em 2018 e isso ainda não aconteceu. E o real motivo para esse fim determinado, ou não, nunca é um só. Em 2011, começou a troca de elenco partindo de Rafinha Bastos, que foi suspenso do programa. Ele declarou em uma piada após a exibição de uma matéria com a cantora Wanessa Camargo que “comeria ela e o bebê”. Ninguém achou muita graça e muito menos a cantora, que processou o comediante e ganhou a causa. Mas, antes disso, a produção do programa e alguns colegas repudiaram os dizeres de Rafinha e não teve como ele continuar.
A verdade é que não teve como manter um programa durante oito temporadas com o mesmo público. Alguns quadros ficaram saturados e depois de um tempo as piadas podem não surtir mais o mesmo efeito. A troca total de elenco também foi fazendo a audiência diminuir aos poucos. Depois de Rafinha, saiu Danilo Gentili para comandar seu próprio talk show. Daí em diante foram só mudanças, tanto que em 2015, última temporada do CQC até o momento, apenas Marco Luque e Rafael Cortez do elenco original ainda estavam no programa – sendo que esse ficou uns dois anos fora da atração. Nomes como Monica Iozzi, Maurício Meirelles, Lucas Salles, Dani Calabresa e Dan Stubach estiveram na atração, mas para muitos nunca seria igual às primeiras temporadas.
A Band declarou que esse ano chegaria ao fim o “ano sabático” do CQC. Principalmente, pelo fato de fazer 10 anos que o primeiro programa foi ao ar. Bem, pode ser verdade, mas por enquanto ainda não há uma data certa para isso acontecer. Enquanto isso, os fãs fiéis que não abandonaram a atração nem mesmo quando a polêmica sobressaiu mais que o humor e a prestação de serviço, aguardam o retorno do programa, que será repaginado e pelo visto possuirá um novo elenco, uma vez que a maioria dos jornalistas ou atores que compuseram a atração durante as oito temporadas estão trabalhando em outros projetos. Que possamos ter na TV brasileira algo tão único e inteligente como o CQC.
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