Nos últimos anos, o cinema asiático vem sendo reconhecido com força dentro do mundo ocidental. Grandes festivais, como o de Cannes, por exemplo, premiaram com a Palma de Ouro filmes vindos da Ásia em suas duas últimas edições. O japonês “Assuntos de Família” e o sul-coreano “Parasita” são excelentes obras que ganharam o tão mencionado destaque dentro da atualidade. O recente chines “Lago do Ganso Selvagem” pega carona nessa singular leva de filmes asiáticos, mas não consegue ser brilhante como os outros títulos mencionados anteriormente.
Bem como eles, “Lago do Ganso Selvagem” possui sua própria leitura e interpretação da sociedade chinesa, o que fica claro logo nos primeiros momentos de projeção, ao sermos apresentados ao ambiente em que a trama se passa e também aos personagens. O clima é bem construído a partir de tons pastéis, de cores desbotadas e de muito cinza tanto nos locais onde as cenas se passam quanto nos figurinos dos personagens. Parece haver, na China de “Lago do Ganso Selvagem”, todo um cenário de poluição e de sujeira muito evidentes que acabam inclusive refletindo nas pessoas desses lugares também. As vezes em que existe mais cor, e que elas se apresentam mais vibrantes, são por meio de neon colocados tanto em objetos quanto nas lojas, no comércio de rua. A China do longa de Diao Yinan é artificial e sem espaço para o lúdico, para a vivacidade, e onde esses elementos parecem existir, em realidade são ilusórios.
Ainda nessa intenção, a direção e o roteiro parecem mais interessados nos dramas intimistas e pessoais dos personagens que em tratar de uma história policial, de perseguição e suspense. A ideia é até interessante e foge do que seria mais óbvio dentro da sinopse que é apresentada ao espectador. Mas acaba pesando muito fortemente dentro dessa escolha e apresenta algumas cenas de ação pouco tensas, sem certo senso de urgência que poderia ter melhor equilibrado as coisas aqui. Mesmo que a escolha seja o foco no drama e nos personagens, fica pouco crível que a constante fuga de um líder de uma gangue de motoqueiros seja pacata e sem medo, ameaça constante. Tal questão fica ainda mais complicada dada pouca familiaridade que o diretor mostra ao filmar perseguições e a ação propriamente dita. O contraste é muito alto quando compararmos esses momentos de “O Lago do Ganso Selvagem” com aqueles mais intimistas que predominam na maior parte da projeção. É ainda necessário ressaltar que mesmo o drama e as questões escolhidas em maior evidência dentro da produção são feitas de modo muito frio e distante, com confusa construção de personagens através de uma narrativa que opta pela não-linearidade que não sabe trabalhar bem o recurso. No fim, Diao Yinan não consegue fazer nada muito bem em sua nova criação.
A obra chinesa pode não ser um ponto fora da curva como aqueles também vindos da Ásia que entraram em evidência nos últimos tempos, mas ao menos possui algum caráter próprio e foge de muitas opções clichês mais garantidas. São subversões rasas que ao menos existem, porém que não tornam “O Lago do Ganso Selvagem” menos confuso e fraco. O mais interessante, no filme, talvez seja o olhar que ele nos proporciona da própria China e marca também a diferença que o cinema desse país possui perante aquele que é feito na Coréia do Sul, no Japão ou na índia.
* Filme assistido durante o Festival do Rio 2019
Imagens e Vídeo: Divulgação/Memento Films International
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