Em “Maestro” somos apresentados à história de Leonard Bernstein, o criador dos aclamados musicais “West Side Story” e “On the Town”, bem como compositor da trilha sonora de “Sindicato de Ladrões” e outras notáveis obras. Bernstein, habilmente retratado por Bradley Cooper, durante o auge de seu sucesso era também reverenciado como o mais eminente maestro norte-americano de todos os tempos. No entanto, todas essas conquistas não são adequadamente exploradas pelo roteiro concebido por Cooper em colaboração com Josh Singer. Além de desempenhar o papel principal e de ser o coautor do roteiro, o famoso ator também assume a direção do filme, no qual prioriza a exploração do relacionamento do artista com Felicia Montealegre, interpretada com competência por Carey Mulligan. Como um indivíduo bissexual assumido, Bernstein se casa com Montealegre, tem filhos com ela, mas também mantém relações amorosas com outros homens.
“Maestro” é concebido para retratar Bernstein como uma espécie de ícone da música clássica, equiparando-o aos astros do rock. Em determinados momentos, ele desperta empatia, enquanto em outros é repulsivo em sua maneira de tratar sua companheira. Além disso, o filme ilustra a genialidade de Bernstein na composição e sua ascensão à fama, marcada por excessos relacionados a drogas, sexo e festas. Toda essa narrativa é envolvida por uma predominante paleta em preto e branco, com uma proporção de tela 4:3, conferindo às imagens capturadas pela lente de Cooper uma sensação de confinamento e melancolia. É como se os personagens estivessem enclausurados em uma caixa, carentes de horizontes, apesar de todo o sucesso, reconhecimento e riqueza que entram em suas vidas. É indiscutivelmente uma maneira eficaz de empregar a linguagem cinematográfica para revelar a psicologia dos personagens; entretanto, esses recursos já foram amplamente explorados em outros filmes com a mesma finalidade, o que os tornam um tanto quanto óbvios.
Embora as escolhas estilísticas da cinematografia sejam narrativamente previsíveis, elas funcionam de forma satisfatória e podem ser consideradas uma das poucas virtudes de “Maestro”. Outro ponto digno de elogio é a maquiagem, que realiza um trabalho excepcional ao utilizar próteses para tornar Cooper quase indistinguível de Bernstein em sua fase mais madura. É praticamente impossível discernir que se trata do astro de 48 anos e não do próprio maestro no auge de sua carreira. No entanto, sem informações da produção, não podemos afirmar com certeza se efeitos visuais não foram utilizados na pós-produção dessas cenas. Por enquanto, vamos considerar que se trata apenas de maquiagem. As atuações de Cooper e Mulligan também merecem reconhecimento. Cooper consegue capturar a linguagem corporal de Bernstein de maneira competente e ajusta a entonação de sua voz à medida que seu personagem envelhece, conferindo-lhe um tom mais pausado e fanhoso. Mulligan, por sua vez, emerge como uma mulher independente e alegre no início do filme, mas posteriormente mergulha em uma angústia que é transmitida exclusivamente através de seu olhar e de como seu corpo se retrai na presença do marido.
Esses dois talentosos intérpretes, inseridos no contexto narrativo construído de maneira óbvia, porém satisfatória, conseguem transmitir sua relevante mensagem e resgatam “Maestro” de tornar-se completamente destituído de importância. No entanto, no quadro geral, o filme padece de falta de profundidade ao narrar a história de um personagem parcialmente arrogante e não amplamente reconhecido pelo público fora dos Estados Unidos, especialmente aquele que não nutre entusiasmo pela música clássica ou pelo cinema. A trama, em si, é excessivamente previsível e segue um padrão característico de Hollywood, agravado pelo fato de ser uma produção da Netflix, que parece favorecer produções que reproduzem fórmulas em vez de inovar. Portanto, não espere surpreender-se ao longo das uma hora e quarenta minutos de projeção. É até irônico mencionar “projeção”, pois boa parcela do público provavelmente assistirá ao filme em telas de celulares, o que prejudicará consideravelmente a experiência de uma produção já sem grandes atrativos.
Este filme foi exibido durante a 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
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