Nos últimos anos, o cinema mexicano ganhou um selo de qualidade e o interesse dos críticos e dos cinéfilos após o surgimento de Alejandro G. Iñárritu, Alfonso Cuarón e Guillermo del Toro, que trouxeram com seus filmes uma nova onda estética e narrativa às telas. Os três, inevitavelmente, chamaram a atenção da poderosa Hollywood, que lhes deu dinheiro e muitos Oscars por filmes cada vez mais ambiciosos.
Atualmente, há um outro cineasta do México que está mostrando potencial e que pode, no futuro, fazer parte do grupo hollywoodiano: Michel Franco. Ele começou a ganhar relevância quando o seu “Depois de Lúcia” (2012) venceu Un Certain Regard em Cannes. Após isso, levou o prêmio de Melhor Roteiro no mesmo festival francês por “Chronic” (2015), uma obra falada em inglês e estrelada por Tim Roth. Agora, ele lança “Nova Ordem”, também premiado, desta vez no Festival de Veneza, onde levou o Grande Prêmio do Júri.
“Nova Ordem” realmente merece a láureas, já que impacta e traz reflexões caras às sociedades modernas, principalmente no que diz respeito às lutas de classes, que são mais uma vez abordadas depois do excelente “Parasita” de Bong Joon-ho. No entanto, diferentemente da obra sul-coreana, aqui há mais um elemento no jogo: o poder oculto exercido pela polícia e pelo exército.
A história começa com uma festa de casamento de pessoas abastadas, mas ante há a inserção, em cortes rápidos, de imagens de corpos mortos, desespero e muito sangue, que servem como prelúdio do que está por vir. Um quadro com uma pintura abstrata, como as do pintor Jackson Pollock, dá mais uma pista de que aquela comemoração elegante, feita em uma mansão lindíssima e ordenada, será desfeita. O caos, enfim, chegará e destruirá a ordem.
A partir daí, a tensão só aumenta com o passar dos minutos, especialmente porque Franco dirige seu filme sem medo de usar a violência gráfica. Sim, há muito dela nas curtas uma hora e meia do longa, porém ela nunca é gratuita, já que a retratação do cineasta é de uma sociedade selvagem, que usa o sangue das vítimas como uma espécie de política pública.
Entre os pobres – que começam protestos violentos por toda a Cidade do México – e os ricos há interesses escusos vindos de uma classe que é vista como a detentora da honra e da virtude: os militares. A escalada ao poder desses militares, inclusive, faz com que o estômago dos brasileiros conscientes embrulhe ao se lembrarem do atual governo brasileiro composto por centenas de generais.
Afinal, a tal nova ordem do título é a totalitária, mas também é o caos, a quebra das leis, a destruição da justiça por um grupo pequeno de fardados que são financiados pelo dinheiro dos ricos. Ricos esses que também fazem parte das peças do xadrez jogado pelo verdadeiro poder que controla as armas de um país e subjuga a inocência, não importando de qual espectro social ela faz parte. Com isso, Franco constrói sua distopia sem apelar para elementos fantasiosos. Ele trata da realidade a partir de fatos cotidianos do povo mexicano e de uma visão de futuro distorcida e pessimista, infelizmente.
Este filme faz parte da programação da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Vídeo e Imagens: Divulgação/The Match Factory
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