A religião é um das armas de manipulação de massas mais influentes no mundo. Guerras e terrores foram (e ainda são feitos) em nome da fé. No entanto, a humanidade não precisa de religião para ser maldosa, a maldade é inerente, a fé é apenas uma arma de disfarce para justificar o pior lado de muitas pessoas. De certo que nem a melhor das pessoas é boa o suficiente que nunca cometerá algo mau. Assim como, nem todo aquele que é mau, é tanto que nunca tenha feito o bem. Sempre existirá o meio termo, pois a vida não se resume a um dualismo, de preto e branco, bom ou mau, as nuances são mais profundas, causa, consequência, motivação, julgamentos. No fim, cada pessoa que sabe qual é em suas vidas “O Diabo de Cada Dia”.
Baseado no livro de Donald Ray Pollock, o novo longa da Netlfix, acompanha histórias de vários personagens diferentes, mas que se convergem em uma só. Ele trata assuntos que variam, contudo, os principais deles são a maldade humana e como a religião pode manipular e cegar. Dessa forma somos conduzidos para dentro de um ambiente frio, violento, sanguinário e por muitos momentos, de fanatismo exacerbado. Narrados pelo próprio Donald Ray Pollock no decorrer do filme.
A direção do pouco conhecido Antonio Campos foi um das grande surpresas. Isso porque, o mesmo, soube impor um tom pesado, difícil de ser levado em tela. Ao mesmo tempo, também foi retirado o melhor dos atores em cena. Vale ressaltar que há grande mérito no roteiro adaptado pelo mesmo Antonio em parceria com o estreante Paulo Campos. Por sua vez, o roteiro divide as várias histórias antes de convergir tudo em uma só, de maneira natural, na qual disseca os personagens, suas motivações e seus papeis na trama e conforme faz isso, vai nos dando dicas e deixando coisas que conecta um ponto ao outro.
Como dito anteriormente, os atores dão o melhor de si durante o longa, mas os destaques vão para Bill Skarsgård que vive um homem atormentado pela guerra e ao mesmo tempo é um fanático religioso, que se apega na fé tentar salvar sua esposa doente. Já Tom Holland, é um jovem que viveu uma infância problemática, e teve perdas significativas na vida – talvez aqui seja a melhor atuação de Tom desde “O Impossível”. Enquanto isso, Harry Melling se destaca em cenas enérgica como um pregador fanático religioso. Por ultimo, podemos citar também o experiente Jason Clarke, que junto a Riley Keough, vivendo um casal de psicopatas.
Talvez, o grande problema do longa seja o ritmo empregado no filme, principalmente em sua parte inicial – momento responsável estabelecer a base da história – que traz poucos momento instigantes e podem afastar um pouco espectadores. Principalmente porque o longa ter mais de duas horas de duração. Mas vale ressaltar que não há demérito do filme nesses pontos, é apenas um problema em relação ao costume do consumo de filme atuais, que são mais curtos ou recheados de ação e comédia – algo que não é a intenção desse.
Por fim, “O Diabo de Cada Dia” é recheado de acertos, e isso é ainda mais relevante por se tratar de um filme escrito e dirigido por roteiristas e diretor menos conhecidos, deixando para os mesmos um vislumbre de mais trabalhos futuros trazendo renovação, ideias novas. O longa também discute assuntos relevantes como o domínio que a religião pode empregar sobre as pessoas, inclusive abordando o abuso por parte de religiosos, além de discutir a maldade inerente ao ser humano. Dessa forma, é um bom e incomum entretenimento disponível no streaming Netflix.
Imagens e vídeo: Divulgação/Netflix
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