Estreia na Netflix em 29 de setembro o documentário “O Grito – Regime Disciplinar Diferenciado”, dirigido por Rodrigo Giannetto, que lança um olhar crítico sobre o sistema prisional brasileiro, suas mazelas, meandros, mecanismos e principalmente os efeitos nos familiares daqueles que aguardam a possibilidade de visitar e acalentar seus entes queridos, privados da liberdade pelos crimes cometidos.
Esse regime é o mais rígido do código penal brasileiro e tem como características, o aprisionamento de pessoas que são líderes de facções, que participaram de uma rebelião, ou suspeitos de envolvimento em organizações criminosas, quadrilha ou bando, ou seja, tem a função de controlar os presos de maior periculosidade.
Na pré estreia no dia 26 de setembro o próprio diretor, Rodrigo Giannetto, elucidou sobre o título do filme, que o grito é o que sucede agonia, o medo e no caso do filme, sobre os gritos que não são ouvidos sobre a situação temerária do sistema prisional brasileiro.
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Filmado de forma clara e competente, traz à tona um assunto raro na cinematografia brasileira, mesmo se mencionarmos os documentários e o faz de forma sóbria como a fotografia e cinematografria, bem organizadas nos espaços, impedindo qualquer espetacularização ou arroubos melodramáticos, ou seja, é cinema sério e pungente.
Ao longo dos depoimentos, apresentados de forma intercaladas durante a narrativa, tece uma sucessão de causa e efeito que vai e volta durante o filme, de acordo com o assunto abordado no momento, bem como as pautas que o diretor insere na narrativa à medida que pessoas novas aparecem no documentário e vão contando suas histórias.
Em exemplo, quando um novo familiar, teórico ou uma pessoa que foi liberta pelo sistema aparece pela primeira vez no documentário, outra pessoa às vezes inclusive de outro estado que já prestado seu depoimento, retorna e dá continuidade a mesma linha de raciocínio.
Resumindo, o filme consegue trazer com clareza os assuntos de forma circular em uma forma curiosa de elipse, demonstrando de forma efetiva que as dores e sofrimentos nessa situação são sentidas da mesma forma e atingem variadas gamas de pessoas.
Falando sobre os depoimentos, que time foi reunido pelo diretor e pela produção!
Temos claro, mães, filhos, parentes dos presos, advogados, agentes penitenciários, como as partes mais afetadas nessa situação, mas também pessoas abnegadas ligadas ou não à ONGs (Organizações Não Governamentais) que visam a conquista de direitos humanos à população carcerária, assim como ex internos que se regeneraram e seguiram sua vida, políticos que tem como causas identitárias combater o racismo estrutural e que leva à constatação óbvia de que a parcela da população mais carente é a que lota os presídios no país.
E também o Ministro e Presidente atual do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, que discorre de forma supreendentemente franca sobre o “moedor” de gente que permite a lotação descontrolada nos presídios, mencionando também dos regimes de aprisionamento normais, e o quanto estamos longe de conseguir o mínimo de dignidade à imensa população carcerária.
A se admirar, em nenhum momento, o filme que inesperadamente tem uma carga política que parece atenuada, prega a impunidade e inclusive, uma das mães que presta recorrentes depoimentos sobre seu filho encarcerado neste regime mais rígido é veemente em afirmar que antes de morrer não espera que ele seja liberto, quer somente poder vê-lo e abraçá-lo.
Mas também reivindicam condições que permitam o que inclusive a Constituição, lei maior do país prega, o direito a ressocialização dos presos, a humanização da situação daqueles que pelas leis que foram criadas para proteger a nossa sociedade, estão privados de sua liberdade, mas que tem direito enquanto seres humanos e sobre a tutela do Estado, de terem uma chance de verdadeiramente se redimirem, e não serem meros instrumentos ou ferramentas de outros criminosos para aumentar suas fileiras e causar mais dor, desespero e desalento aos familiares e à sociedade de forma geral.
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E ao final quando descobrimos sobre os filhos presos das mães que tiveram maior participação no documentário, é o que o diretor Rodrigo Giannetto nos dá o golpe final para ficarmos com a obra na cabeça e nos impulsionar a começarmos a pensar no arcabouço em que o país se colocou nessa questão, o que queremos e mais importante, o que precisamos fazer, pois essa questão é de suma importância até para questão da nossa segurança como cidadãos.
Imagem Destacada/Divulgação: Real Filmes
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