O filme “Tarde para Morrer Jovem” pode ser descrito basicamente como uma história pautada em um recorte de vida de uma comunidade chilena logo após a queda da ditadura que assolou o país por dezessete anos. Passado no ano de 1990, o roteiro segue personagens que vivem relativamente afastados da cidade grande, o que faz a cooperação entre eles ser primordial para a sobrevivência. Isso porque, apesar de possuírem carros, rádios e outros objetos mais modernos, ainda dependem de baterias automotivas para ter energia elétrica e de um rio para fornecer a água que sai em torneiras improvisadas. O resto conseguem através de trocas, compras e vendas internas.
Neste cenário, o espectador é convidado a acompanhar prioritariamente os mais jovens, aqueles que entram na nova realidade de um Chile caminhando para a democracia. Uma delas é a bela Sofía (Demian Hernández) – provavelmente a personagem que possui a trama mais significativa, já que algumas iniciativas de ação são de sua responsabilidade – que vive com o pai marceneiro e o irmão, mas tem o incontrolável desejo de ir morar com a mãe, uma famosa cantora. O problema é que a mãe não tem interesse na filha, ignorando sua existência. Então, após várias decepções, Sofía trará involuntariamente algumas mudanças para um local que não presencia uma há anos.
Claro, as mudanças primeiro acontecem dentro dela, e elas são tão intensas que a garota não consegue segurar sua ânsia por algo novo. Isso fica claro quando a diretora Dominga Sotomayor Castillo enquadra, em vários momentos durante a projeção, a grandiosa cidade espreitando ao longe enquanto Sofía, solitária em seus pensamentos, a contempla. Sua inquietude faz com que se envolva com um homem mais velho – porque esse pensa em se mudar – enquanto deixa de lado um amigo de infância por ele estar enraizado na terra onde nasceram juntos. As frustrações são tantas que o clima melancólico toma conta, principalmente durante e depois da triste festa de fim de ano.
Além da jovem insatisfeita, ainda há um foco mais acentuado em outra personagem: uma garotinha que fica boa parte da projeção procurando o cachorro perdido, mas depois que o encontra – na verdade, a sua mãe o compra de outra família que supostamente o achou – se decepciona pelo fato dele não parecer o mesmo de antes, o que a faz pensar não se tratar do mesmo animal. Essas duas, além do amadurecimento e da constatação que não se pode ter tudo, também percebem a força capitalista desfazendo suas antes satisfatórias vidas. Isso explica-se pelo fato da primeira ter a tentação da cidade, que a chama através de suas infinitas possibilidades, e pela segunda tendo que comprar com dinheiro vivo algo que perdeu e que nem sabe se a pertence de fato.
Baseando-se nessas histórias, é possível dizer que “Tarde para Morrer Jovem” analisa a mudança social/política que mexe com a realidade das pessoas e as deixam sem uma visão clara de futuro. Será que negar uma comunidade colaborativa e se entregar totalmente a uma sociedade mais “moderna” é o caminho correto a seguir? Talvez não, mas Sotomayor Castillo e a montadora Catalina Marín Duarte não procuram responder a essa pergunta e sim elucidar o impasse, já que apostam em uma montagem fragmentada, sem seguir uma lógica em relação à organização das cenas, assim tornam-se apenas expectadoras em eventos aleatórios de vidas presas em um contexto histórico de incertezas. Os recortes também servem para que o espectador valorize os momentos monótonos do cotidiano como oportunidades para reflexão sobre a existência.
Portanto, essa boa obra chilena de 2018 consegue discutir satisfatoriamente o processo de amadurecimento que vem com as escolhas que todo jovem precisa fazer quando está começando o caminho para as responsabilidades adultas, que se tornam ainda mais importantes quando o seu país está passando por uma enorme transformação política. Só não é melhor porque não traz em suas entranhas elementos que façam com que o espectador sinta algo além da curiosidade sociológica.
Vídeo e Imagens: Divulgação/Pandora Filmes
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