Em alguns países, ser da comunidade LGBT+ pode significar a morte. Frases deste tipo estão relacionadas a sociedades atrasadas de décadas passadas, e não ao supostamente progressista século 21. No entanto, há lugares, (o Brasil está entre eles), em que a violência contra lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais é evidente e em números absurdos, mesmo que o preconceito seja velado. Por isso que é cada vez mais importante que as denúncias sejam feitas pela imprensa ou por formas de expressão, como o cinema, para que a justiça seja feita e a reforma de pensamento chegue a todos.
Denunciar e buscar justiça, além de mostrar o sofrimento de uma minoria tão maltratada, é o que pretende o ótimo documentário “Welcome to Chechnya”. O filme, do cineasta norte-americano David France, segue um grupo de ativistas que trabalha para ONGs responsáveis em esconder e pedir asilo para pessoas perseguidas por causa de suas orientações sexuais. Suas atividades concentram-se especialmente em dois países: Chechênia e Rússia. O primeiro é comandado por Ramzan Kadyrov, que é praticamente um serviçal do famoso déspota Vladimir Putin, obviamente, líder do segundo. Os dois pregam sociedades voltadas às famílias, com a religião e os bons costumes em suas bases. Por isso, ser da comunidade LGBT+ é ultrajante e merece punições como a humilhação, tortura e morte. Algo parecido acontece em um enorme país da América do Sul, inclusive.
“Welcome to Chechnya” é corajoso ao mostrar como as vítimas são abordadas, presas e torturadas até a morte, ou quando elas simplesmente desaparecem em nações que são regimes autoritários amparados pela violência. É difícil segurar o choro ao ver todas essas situações, principalmente porque há a inclusão de vídeos caseiros e de câmeras de segurança com todos os tipos de atrocidades, inclusive um contendo o assassinato de uma jovem, provavelmente lésbica, que é morta pelos membros de sua própria família. O ato em sim não é mostrado explicitamente, é claro, mas choca da mesma maneira.
O perigo é extremo, no entanto, os realizadores do documentário escolheram não tampar totalmente os rostos das vítimas e sim alterar suas feições por uma técnica digital, o que não retira totalmente a identidade de pessoas que já perderam tudo. A alteração dos rostos pelo computador ainda gera uma cena emblemática: quando o jovem gay Maxim Lapunov decide denunciar os crimes do governo checheno para a imprensa e para a justiça Russa, a manipulação digital é retirada de seu rosto lentamente enquanto ele dá uma entrevista coletiva. É emocionante o momento da libertação de uma de suas prisões, já que antes ele vivia com medo e mudando de esconderijos para poupar sua vida e de seus familiares.
“Welcome to Chechnya” deveria ser mostrado em escolas e universidades e servir como material de apoio à educação moral, política e humana. Porque só com a educação e a empatia que o sofrimento terminará. De outra forma, haverá um novo tipo de refugiados. Um que também pode emigrar por causa de guerras e da pobreza, mas ainda tem que fugir de países cujo governos tratam aqueles com orientações sexuais diferentes das tradicionais como sub-humanos.
Se você quer ajudar, acesse o site lgbtnetwork.org.
Este filme faz parte da programação da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Vídeo e Imagens: Divulgação/HBO
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