Curta-metragens sempre me causaram fascínio. Não apenas por conseguirem contar uma história com inicio, meio e fim em apenas alguns minutos, mas por serem uma ótima ferramenta para os apaixonados pela sétima arte. Por mais que um longa-metragem possa ser independente, os custos que gera tem de pelo menos dar algum retorno e é ai que entra o padrão da indústria cultural; onde obras artísticas são transformadas em meros produtos, e os que não o são não tem a mínima chance de entrar nessa disputa. Sendo assim, os curtas são peça fundamental para aquele cineasta apaixonado e sem dinheiro botar as ideias para funcionar.
São mais ousados, arriscam uma linguagem fora do padrão, algo impensável para um longa, além de trazerem consigo uma alma. Tudo isso encontramos no curta chamado “O Emprego”. Feito na Argentina, com apoio da fundação de artes e acumula em seu currículo vários prêmios, entre eles: O grande prêmio do júri no festival ANIMA e o prêmio do público no festival de Hiroshima. A história é simples, um homem se levanta para ir trabalhar, porém ao fazê-lo notamos que todos seus objetos são pessoas fazendo aquele papel, e até táxi são pessoas levando outras nas costas.
No começo pode parecer estranho, mas com o passar dos poucos sete minutos notamos toda sua genialidade. Com uma paleta de cores cinza para representar a tristeza de seus personagens, e a primeira cena na qual a câmera sai de um relógio, são elementos essenciais que o curta passa para nos falar como estamos totalmente dependentes de nosso serviço e tempo.
Não por menos, o personagem do qual estamos seguindo não é nem o personagem central do pôster, como também não é alguém em um cargo muito bom nesse mundo onde pessoas são objetos. Ninguém, na verdade, é o personagem principal na vida. Assim como em “O Emprego” todos somos objetos de uso para alguém, seja você usando outras pessoas para um prazer pessoal e ao contrário. Até mesmo ficamos chateados com nosso gerente naquele emprego chato do qual sempre reclamamos, mas esse mesmo gerente também está sendo usado por outro e esse outro por mais alguém. É uma roda incansável de pessoas que estão dispostas a qualquer coisa para se darem um pouquinho melhor.
Quantas vezes você notou que o troco que recebeu estava a mais e não devolveu? Isso é uma forma de utilizar os outros para se dar bem. Talvez esse curta nada mais seja do que um espelho de todos esses anos de sociedade moderna, na qual temos raros exemplos de bondade e empatia. Tão raros que quando o temos são noticiados pelos jornais do mundo todo, e o mais engraçado é que são noticiados não como uma simples ajuda, mas um ato de sacrifício de quem o fez.
Por fim, “O Emprego” é cinema em sua essência. É devastador, feito por pessoas apaixonadas pelo que fazem, além de uma crítica direta a nossa sociedade. É incrível como 7 minutos sem fala alguma pode causar tanto impacto e reflexão. Além de nos deixar uma dúvida no ar, será que existe algo no qual use várias pessoas para se dar bem e nunca seja usada? Acho que não.
Confira o curta:
Por Will Bongiolo
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