Começa hoje, 8 de novembro e vai até dia 13, a 5ª edição da FLUPP (Festa Literária das Periferias). Com programação gratuita e mais de 100 nomes da literatura mundial presentes como , Nadifa Mohamed (Somália), Pamela Lightsey (EUA), Heloísa Buarque de Hollanda (Brasil) Patrick Chomoiseau (França), a programação deste ano é extensa e irá debater temas relacionados às minorias periféricas, como racismo, transfobia, feminismo e comemorar os 50 anos da Cidade de Deus.
O evento, idealizado pelos escritores Ecio Salles e Julio Ludemir, conta com uma programação diversificada, em seis dias, incluirá debates entre autores nacionais e internacionais, shows, espetáculos teatrais, realidade virtual, gincana literária e poetry slam (competições de poesia falada).
“Chegamos à Cidade de Deus com o desejo de fazer as misturas mais heterodoxas no bolo com que estamos celebrando os 50 anos da mais emblemática das comunidades populares do Rio de Janeiro, a começar pelo nome”, comenta Julio Ludemir.
O autor homenageado desse ano será Caio Fernando Abreu, escritor gaúcho que morreu de AIDS há exatos 20 anos. Para os idealizadores do evento, homenagear Caio Fernando Abreu na Cidade de Deus é uma forma de mostrar que os elementos que compõem a periferia vão muito além do território.
“Não se pode falar de periferia sem falar em questões raciais, de gênero e políticas”, afirma Ecio Salles.
A quinta edição da FLUPP será uma plataforma contra o racismo, o machismo e a homofobia, em particular contra a morte em escala industrial dos jovens negros e pobres da periferia. Ela foi construída com a ajuda das duas mulheres negras que fazem a curadoria da FLUPP, que não à toa escolheram importantes mulheres negras para a programação. Uma delas é a cineasta Yasmin Thayná, jovem, negra e moradora da baixada fluminense, responsável pelos autores do que está sendo chamado de FLUPP Trans.
“Vamos imergir na forma como pessoas trans pensam seus processos criativos, considerando que ainda vivemos um país onde a população LGBT morre muito todos os dias. Não estamparemos lésbicas negras sendo assassinadas pelo ódio. Na FLUPP elas falarão de amor”, declara Yasmin Thayná.
Uma das atrações mais aguardadas deste ano é o coletivo Be another lab, pela primeira vez no Brasil. O público da FLUPP vai poder vivenciar diversas histórias de moradores da favela com óculos de realidade virtual, em um sistema que combina técnicas de neurociência com teatro imersivo para criar uma ilusão cerebral que faz a pessoa ver-se e sentir-se no corpo de outra pessoa.
“Colocar-se no lugar do outro é o melhor lugar não apenas para entender o drama alheio, mas para despertar o desejo de resolvê-lo”, afirma Philippe Bertrand, um dos criadores do projeto.
As narrativas gravadas e apresentadas pelo coletivo envolverão familiares de jovens negros e pobres mortos pela polícia nos últimos 25 anos.
Entre os destaque da FLUPP de 2016, está a mesa “Dando uma pinta na produção”, na qual Marcelo Caetano, Amara Moira e MC Linn da Quebrada discutirão os processos criativos na literatura, nas artes e na música do ponto de vista trans. Em “Modos de ver o amor”, Jéssica Ipólito, escritora do blog Gorda & Sapatão, e Pamela Lightsey – pesquisadora norte-americana, negra, pastora e lésbica –, vão falar sobre as representações desse sentimento no cinema ou na literatura, sempre enquadradas num perfil eurocêntrico e heterossexual. A conversa vai circular entre militância lésbica negra, teoria queer e teologia. A atriz escocesa Jo Clifford, trazida para a FLUPP por intermédio da consolidada parceria com o British Council, apresentará o espetáculo “O Evangelho segundo Jesus Cristo – A rainha dos céus”. A encenação propõe uma das mais radicais discussões sobre identidade sexual da realidade, em que mostra Jesus Cristo voltando à Terra na condição de uma mulher trans. O espetáculo contará com o suporte do coral Uma só voz, formado por moradaores das ruas da região central do Rio de Janeiro.
A mesa “Quilombos de papel”, com os escritores Patrick Chamoiseau (França) e Conceição Evaristo (Brasil), discutirá a situação do negro nas sociedades pós-coloniais. Nadifa Mohamed (Somália) e Ana Maria Gonçalves (Brasil), que estarão na mesa “Quando me tornei negra”, falarão da complexa construção da identidade da mulher negra em um mundo a um só tempo machista e racista.
Nesta edição, a FLUPP – que venceu o Prêmio Excellence Awards de melhor festa literária, conferido pela London Book Fair –, traz três competições diferentes de poesia falada: internacional, nacional e, pela primeira vez, intercolegial. O III Rio Poetry Slam vai reunir poetas de 16 nacionalidades na disputa pelo título mundial, mais uma vez com a curadoria da slam-master Roberta Estrela D’Alva. Poetas de diversas periferias brasileiras ainda vão competir no FLUPP Slam BNDES, de que participarão slammers de estados como Sergipe, Minas Gerais e São Paulo. E o FLUPP Slam Colegial será formado por poetas de escolas estaduais de cinco regiões populares do Rio de Janeiro. As seletivas aconteceram em outubro e 16 jovens foram escolhidos para competir na FLUPP.
Programação completa no site.
Por Bruna Tinoco
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