Encerrando as apresentações da primeira edição do The Town no palco The One, o ameriliense Jão teve a grande responsabilidade de fechar a noite antes de entregar o bastão para Bruno Mars no palco principal. Confira nossa resenha pessoal do que rolou no show.
Alinhamento milenar
Confesso que muitas coisas passaram por minha cabeça quando fizemos as divisões de cobertura do The Town aqui na Woo. Dentre nós, eu era provavelmente o que mais simpatizava com uma música ou outra — e o próprio estilo musical — do Jão. Posso dizer sem problemas que não mantinha grandes expectativas, confesso.
Muitas vezes o melhor que nos pode ocorrer é estarmos enganados, e esta foi uma das ocasiões. Afastado dos palcos há seis meses para respirar e produzir — palavras do próprio — o show do The Town marcou a abertura para promoção da “Superturnê“, onde Jão celebra seu mais recente álbum de estúdio, “Super“.
Se o começo do concerto com “A Rua“, do início de sua carreira, não dava indícios do que iria por vir, “Escorpião“, que veio logo em seguida, confirmou o que muitos já sabiam: que Jão tem fãs muito dedicados; recém-lançado, a letra dos novos lançamentos não saía da boca da multidão em um dos shows com a plateia mais investida do festival.
“Cães sentem cheiro de medo” — é algo que você escuta se dizer aqui e ali, porém, pouco se fala que o mesmo vale para nós: no perfeito oposto, o show de encerramento do palco The One demonstrou a importância de acreditar no próprio trabalho.
Acompanhado de um dragão gigante no palco, troca de roupa inspirada em Harry Styles, fogo no piano, alçamento ao ar, e atitude extravagante, o paulista parece ter encontrado o tom para sustentar com leveza o repertório de pop-sofrência barra mela-cueca; camp e muito divertido.
…você não acha?
Não há dúvidas que, após bater recorde no Spotify Brasil, essa era a grande tentativa de se projetar midiaticamente como um artista de “star quality” e presença no palco. Não podemos dizer que não deu certo, mesmo com dificuldades técnicas, a espirituosidade deixou os negativos diluídos na maior parte do tempo.
Veja vem: não é fácil fazer música pop no Brasil — há muitas variáveis em jogo que não passam nem pela cabeça do mercado anglófono, tal como o fato do sertanejo — artificialmente — sufocar outros gêneros; o que não quer dizer que não exista mercado/público, e tanto “Super” quanto “Escândalo Íntimo“, este último de Luisa Sonza, têm provado que há uma demanda forte por trabalhos mais herméticos e coesos: além dos números, o engajamento do público na noite de domingo fala por si só.
Nem tudo são flores, no entanto. Destarte uma escolha muito feliz para a setlist, reunindo principais sucessos e promessas do novo álbum — e preterindo faixas, modo geral, mais fracas — se as principais glórias decorrem dessa ousadia em se levar a sério, não dá para não dizer que se peca também pelo exagero e pretensão.
Embora o público estivesse igualmente agitado, a performance de “Maria” é facilmente o ponto mais baixo da apresentação, memorável senão pela duvidosa pirotecnia — valeu a tentativa! — mirando em acordes abertos, não há muito que se possa elogiar da performance entregue no piano.
“E por que um dragão?“, você pode estar se perguntando. “Super” encerra o ciclo de álbuns tematizados nos quatro elementos, encerrando no fogo e, como um isqueiro gigante ficaria literal demais, Jão optou pela segunda coisa mais óbvia para chamar atenção. Funcionou, embora houvesse expectativas de uma interatividade mais carnavalesca — à Beyoncé, ou Ana Castela — especialmente porque a peça tomava conta da maior parte do palco.
Para os aspectos mais técnicos, faltou ao festival tomar mais cuidado com a própria questão do som, que foi problema em outras apresentações (como Pitty e Racionais MC’s & Orquestra Sinfônica de Heliópolis), pois o instrumental estava mais alto que a voz em determinados momentos. Aprendizado para a próxima.
Modo geral, seria muito cômodo fingir que não me diverti. É um pouco triste que se reduza alguns artistas, especialmente aqueles com apelo ao público mais jovem, por senso comum e efeito manada. Jão está fazendo um pop divertido e irreverente — talvez flamboyant demais de vez em quando para o meu gosto, mas qual seria a graça se não fosse autêntico?
Confira a setlist completa
Parte A
- A rua
- Escorpião
- Idiota
- Alinhamento milenar
- Meninos e meninas
- Acontece
- Julho
- Santo
- Imaturo
- Vou morrer sozinho
Parte B
- Se o problema era você, por que doeu em mim? (Interlúdio, áudio)
- Maria
- Essa eu fiz pro nosso amor
Parte C
- Sinais
- Pilantra
- Me lambe
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