“Nem toda beleza será capturada”
Se nos fosse permitido apenas uma palavra para definir a obra “O Jardim das Borboletas”, “perturbador (!)” talvez se aproximasse um pouco do que estamos tentando expressar. Afinal, até onde pode ir uma mente doentia? Qual é o limite de crueldade do ser humano? E até onde uma pessoa é capaz de aguentar?
Todos nós, em algum momento de nossas vidas, já passamos pela fase do “colecionador”. Selos, moedas, chaveiros, canetas… álbuns de figurinha… alguma coisa, grande ou pequena, de valor ou não; já foi – ainda que por pouco tempo – alvo da nossa pequena obsessão.
Mas o Jardineiro… o Jardineiro colecionava borboletas. Lindas, belas, exuberantes… de todas as espécies e de todos os tamanhos. Das mais raras, às mais populares. O Jardineiro era um homem incrível – só que não (!).
Maya é uma dessas borboletas. E é ela quem narra os terrores vividos no Jardim. O lugar mais lindo em que já esteve na vida. E também o mais cheio de segredos e armadilhas. O Jardim é o “lar” das borboletas. O espaço onde o Jardineiro as deixa “livre” para voar.
Quando Maya e as outras meninas foram resgatadas, os agentes do FBI, Victor Hanoverian e Brandon Eddison tinham apenas uma vaga noção do que havia acontecido dentro daquele lugar afastado. Mas enquanto Maya empurra-lhes a verdade nua e crua goela abaixo, eles, (e nós também) são (somos) levados para dentro de uma mente onde a loucura já havia feito abrigo.
As borboletas, na verdade, eram jovens meninas/mulheres que foram arrancadas da normalidade de suas vidas e sentenciadas a viver sob a posse do Jardineiro e de seu filho (lunático!!!) Avery. E quando chegavam ao Jardim, elas passavam por um ritual macabro. Uma a uma, eram tatuadas nas costas com borboletas gigantes. Para cada menina uma espécie diferente. Ao final da tatuagem – que levava dias – elas recebiam seus novos nomes. E os de batismo deveriam ser completamente esquecidos e jamais comentados. E ao final de tudo, para comemorar o êxito de mais uma borboleta na gaiola, o Jardineiro as estuprava.
É perturbador ler/ ver/ ouvir a palavra “estupro”. Se isso fosse a única coisa que acontecia naquele lugar, talvez tivéssemos mais estômago para a leitura. Mas a medida que íamos avançando, que participávamos do depoimento de Maya, que conhecíamos os outros personagens a fundo. Pudemos notar que era um caminho sem volta. O estupro (que sozinho já é bem, bem ruim) era o menor dos seus problemas.
A autora Dot Hutchison trançou a história tão perfeitamente, que até podíamos abandoná-la. Mas isso significaria que seríamos cúmplices de um dos personagens mais hediondos que já apresentamos nessa coluna. Afinal, a história começa pelo fim. Logo, ficamos presos na leitura porque nos compadecemos de Maya. Porque queremos ver como as “borboletas” foram resgatadas e principalmente, se o antagonista desse triller macabro pagou por todas as coisas que fez a elas.
“O Jardim das Borboletas” é realmente uma leitura para quem tem estômago. A narrativa não é fácil e Hutchison deixa bem claro que “incômodo” é o que ela quer provocar em seus leitores. Além do mais, ela coloca em pauta outros assuntos bem pertinentes e discutidos hoje em dia como; sororidade, amizade, valores, respeito, união…
Ponto baixo da obra?! Seu final, mas final mesmo… aquele finalzinho-inho-inho deixou a desejar. Pode ter sido proposital? Sim, pode! Afinal, “O Jardim das Borboletas” é o primeiro de uma trilogia chamada “O Colecionador”. Então, se a história de Maya, de Avery, do Jardineiro, e dos demais personagens tiver uma continuidade, pode até ser que esse final seja justificado e faça todo sentido. Mas por enquanto, ficamos no aguardo.
Agora, o destaque do livro está realmente em sua diagramação. Lançado aqui no Brasil pela Editora Planeta (no final de 2017), a obra está linda. Capa dura, impressão perfeita e detalhes que fazem toda a diferença na estante de uma pessoa. Visualmente, não temos do que nos queixar.
Se você é um leitor corajoso, bem-vindo ao “Jardim das Borboletas.”
“‘Eles foram às guerras, confiando nas estrelas, todas as noites de suas azuladas torres, para vigiar as flores’” (Input: POE, E. A., p.55)
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