A artista sonora Kenya20HZ abriu os trabalhos no Palco New Dance Order no sábado, 9, no The Town. A DJ, sonoplasta e investigadora cultural carioca, vem numa crescente na cena eletrônica mundial, com seu estilo muito particular. Ela conversou com a Woo! Magazine sobre a sua trajetória, o set caos sonora, elaborado especialmente para o festival, e ainda os planos para o futuro. Confira a entrevista completa:
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Amanda Moura: Primeiro eu queria falar da sua aproximação com a academia. Você é sonoplasta, tem graduação. Como essa vivência trouxe alguma experiência para o seu fazer de música?
Kenya20HZ: Assim que eu dei o passo de estudar sobre sons, sobre áudio de uma maneira mais profunda, de uma maneira mais técnica. É o que eu consegui, né? Estando na academia, foi um espaço para experimentar. Porque uma coisa é você fazer em casa sozinha. Outra coisa você ir ao palco fazer para as pessoas e outra coisa é você ter um ambiente no qual você pode trocar, o qual você tem um momento pra chegar e falar assim, isso aqui está bom? com seus colegas, porque todos estão com o mesmo intuito de aprender, né?
Então eu, durante esse tempo na academia, estudando sonoplastia, tive esse espaço para errar, tentar e eu acredito que isso trouxe uma profundidade, trouxe uma solidez muito maior pro meu trabalho, porque é diferente, não é? Quando você está num ambiente que literalmente essa troca é estimulada, de uma forma crítica sempre construtiva para academia. É sobre isso, é uma crítica construtiva através de uma pesquisa embasada.
A.M.: Eu não posso conversar com você sem falar no seu protagonismo, enquanto uma artista preta, carioca e tal. Tanto sobre esse ponto de vista da pessoa, quanto o ponto de vista musical, onde você traz para eletrônico suas investigações, o afro-brasileiro, sempre presente. Como você encara essa responsa no meio da música eletrônica?
Kenya20HZ: É uma responsa e eu te digo que foi uma coisa que eu fui trabalhando, porque de início, eu não queria, estender uma Bandeira sem estar totalmente, segura em relação a isso. Então quando eu amo música eletrônica, amo música intensa, mas só que quando eu trago percussão quando trago a sonoridade afro, a intensidade da música afro, dos tambores, eu estou assumindo tem uma resposta que eu demorei para entender um pouco, e aí quando eu fui cada vez mais encontrando a identidade do meu som e vendo o quanto o meu som estava conectado a isso, falei assim, tá bom, gente, estamos aqui e é sobre isso.

É sobre alcançar alguns espaços onde não é só sobre uma música eletrônica que é ali quadradinha, que tá ali dentro. Porque pelo menos quando eu comecei, eu tinha um arquétipo do que era a música eletrônica. De quem podia tocar música eletrônica, quais lugares, e aí, eu sem perceber, fui eu para mim mesma, quebrando esses paradigmas, fui quebrando esses arquétipos e de certa forma fui influenciando outras pessoas que, sendo para elas a imagem que eu precisava no começo e a que eu tive que construir.
A.M.: Eu queria falar um pouquinho do sobre o seu set no Boiler Room, que eu imagino que deva ter sido uma experiência impressionante para você. Como você montou aquele conceito e chegou naquele set maravilhoso?
Kenya20HZ: Então, o Boiler Room é uma plataforma que eu acho que é o sonho de todo DJ, e quando eu recebi esse convite, foi realmente uma grandessíssima conquista. Eu tive um mês para pensar exatamente em tudo o que eu queria fazer, porque eu queria mostrar toda a minha história musical, porque eu sou uma artista conhecida não só por ser versátil, mas por ter uma curiosidade e uma vontade de mostrar para as pessoas diversos tipos de fazer, né? Dá para você fazer música eletrônica, dá para você incrementar, dá para você misturar. Eu tinha vontade de colocar isso no meu set, mas ao mesmo tempo eu tava, tá é o Boiler Room, como é que a gente vai fazer isso? E acabou que eu fiquei um mês construindo uma coisa que no dia, eu fiz totalmente diferente.
Porque eu senti que devia ir por outro jeito, porque eu estava querendo fazer um set para X e Y, mas aí no dia eu acordei muito emocionada, com uma vontade de falar assim, eu sou uma ouvinte tão crítica, eu sou uma ouvinte tão verdadeira, que eu vou tentar me agradar um pouco. Aí eu fiz esse set que foi extremamente especial para mim, é um set que eu ouço de vez em quando, quando eu estou em casa eu ouço tipo, eu quis colocar ali realmente, todas as minhas influências passando pelo House, pelo Dubstep e pelo Footwork, pelo funk dos anos 90. Então, tipo, eu quis mostrar tudo isso, mesmo sendo uma pessoa carioca, mas ao mesmo tempo eu me sinto uma pessoa no mundo, então o Boiler Room para mim foi um pouco disso, a visão de uma de uma mulher carioca, mas com uma mente do mundo. E eu acho que eu consegui mostrar isso.
A.M.: Agora eu gostaria de conversar um pouco sobre o set que você trouxe para cá, o caos sonora. Eu achei impressionante, com uma performance incrível. Como você investigou culturalmente para trazer esse conceito para o The Town?
Kenya20HZ: Quando recebi esse convite, eu pensei muito em colocar a sonoplastia, que eu estudei na Escola de Teatro de São Paulo, então a minha investigação passa muito pela primeira coisa que eu quis trazer, que é as artes cênicas para dentro slot, para dentro desse momento. Porque caos sonora não é só sobre o meu som, é sobre o meu som em ressonância com dois instrumentistas, sendo coroado pela atuação da Okofá, que é a performer.
O que eu quis trazer foi a minha linguagem digital, com muita intensidade, muito grave, porque essa sou eu, misturada às influências do Bica, que é o percussionista, multi-instrumentista, e da Dharma Jhaz, que é uma multi-instrumentista muito fabulosa e eu queria ver como ia ser, trazendo, essa regência através dos meus equipamentos, essa regência digital em consonância com os instrumentos. E basicamente, esse foi o pontapé da ideia e aí disso eu comecei a construir exatamente o que eu o que eu queria fazer, pensando no The Town, pensando no Palco New Dance Order, pensando no horário, pensando em tudo, e aí a gente chegou nesse resultado que foi muito legal e, enfim, fiquei muito feliz.
Eu consegui mostrar para mim um trabalho, porque foi uma experimentação totalmente, foi um show inédito que eu trouxe aqui para o The Town. Então foi uma experimentação que eu pude ver em primeira mão que deu certo, e eu estou muito feliz por isso.
A.M.: E para finalizar nosso papo, eu queria saber os seus planos, você está numa crescente, tem Tomorrowland vindo aí. O que vem por aí na sua carreira?
Kenya20HZ: Eu acredito que a gente possa explorar a arte de diversas maneiras, né? E eu digo novamente, o fato de ter estudado, ter me formado na Escola de Teatro, me fez ver a necessidade de agregar cada vez mais a imagética, cada vez mais simbolismo para a minha arte. Então, o meu próximo passo com certeza é avançar para o audiovisual, é levar a minha música para um outro patamar, no qual eu possa não só vim ter a minha identidade, representando a minha música, como todo o simbolismo em volta dela, através do estudo imagético, através de tudo que dê movimento a algum som, e trazendo um outro lugar, levando a um outro patamar.
O The Town aconteceu durante os dias 2, 3, 7, 9 e 10 de setembro, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. A segunda edição do festival será em 2025.
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