Cuidado, este texto possui vários SPOILERS
Com a estreia de “Duna 2”, Dennis Villeneuve literalmente dobra a aposta na continuação de sua versão do livro clássico de Frank Hebert, continuando a saga dos Atreides, para controlar a produção da commodity mais valiosa do universo, melange ou como prefiram, a especiaria, até a queda dessa dinastia pelas artimanhas políticas e de guerra dos ambiciosos Harkonnen, que eram os regentes do planeta.
Começando exatamente de onde terminou o primeiro filme, com Paul Atreides e sua mãe, Lady Jessica, seguindo seus caminhos pelo deserto na companhia dos Fremen, o diretor expande de forma exponencial todo o conflito derradeiro para o destino final do planeta Arrakis.
Após um início muito turbulento entre Paul, sua mãe, Lady Jessica e os Fremen, cada vez mais eles se adaptam ao lugar desértico e aos costumes, em que o diretor detalha em closes as reações espantadas do Líder Stilgar e dos nativos a cada conquista dos dois, com uma ótima condução de atores e ambientação.
Após batalhas e incursões de sabotagem das colheitas de especiaria em grandes cenas de ação, o teste final de Paul é a icônica primeira cavalgada em um verme de areia em que os presentes, inclusive Chani, sua companheira e os demais se espantam não só pelo tamanho da criatura, como pela destreza em que o jovem passar a dominar a fera.
Essa sequência como a grande maioria no filme é de rara beleza e imersão, com uso de CGI de forma necessária em mais um triunfo de toda parte técnica da equipe capitaneada por Villeneuve, além de vir com o recado nada sutil, de como o fanatismo supersticioso e religioso pode corroer uma nação e a percepção das coisas .
Enquanto isso, Lady Jéssica prossegue com suas maquinações para adicionar à lenda de Paul mais elementos divinos, para que ele se consagre como Muad’Dib, o Messias da profecia dos Fremen e nesses momentos, o filme traz todo o subtexto religioso e os perigos deste se embrenhar na política como forma manipulação, com um paralelo sempre atual e fazendo jus aos alertas contidos na obra original de Frank Herbet.
Ela é muito bem sucedida, inclusive se tornando a Madre Superiora e líder espiritual do planeta, o maior cargo que uma Bene Gesserit pode alcançar naquele universo, não sem antes colocar a sua vida e da filha no seu ventre em risco, tomando a Água da Vida, um elixir em que a matéria prima é feita do líquido de um verme da areia, contendo a mais pura forma da especiaria que aumenta em níveis impressionantes os poderes já temerários de uma feiticeira.
Então se descobre que a criança de nome Alia (vista no futuro pela interpretação da atriz Anya Taylor-Joy), fala mentalmente com a mãe e inclusive, tem acesso também aos sentimentos de seu irmão.
Quanto os Harkonnens, após sucessivos e bem sucedidos ataques de Paul e dos Fremen que provocam a queda de produção da especiaria, gerando cobranças ameaçadoras pelo Imperador Padixá Shaddam IV, destituem Rabban, a Besta da função de “gerente” de Arrakis pelo seu primo, na grande revelação e interpretação do filme, Austin Butler como Feyd-Rautha, um psicopata, letal, maldoso e muito habilidoso em combate, a quem o Barão Harkonnen faz a proposta de nomeá-lo Imperador caso tenha sucesso na eliminação do líder Fremen, em um novo plano de usurpação do poder.
O núcleo dos Harkonnen é filmado com uma paleta em preto e branco que impressiona pela riqueza de detalhes e pela aflição de um mundo amoral e sem misericórdia.
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Com Paul cada vez mais confuso e hesitante pelas visões de um futuro genocídio caso se torne o Messias, após um ataque que destrói a base dos Fremen é cooptado por sua mãe a também ingerir a Água da Vida o que expande totalmente sua percepção e transforma o jovem idealista em um guerreiro implacável e pronto para assumir seu lugar de direito no comando militar e religioso do planeta.
A partir dessa parte e da aceitação e imposição de um Paul Atreides movido pela vingança, seguem-se sequências de tirar o fôlego em que o diretor mostra todo potencial dessa aventura que serviu de molde para muitas obras que vieram através dos tempos e foram influenciadas por esse fenômeno.
E essa é a virada de chave do ator Thimothée Chalamet como o grande protagonista, onde todo o filme recai em seus ombros e ele executa a tarefa com louvor e seu personagem não só vence a batalha pelo planeta Arrakis como humilha o Imperador e toma a filha deste, até então narradora passiva da conspiração, como sua esposa para governar a galáxia.
Apesar de ser um espetáculo grandioso, primoroso e usando tudo que um cineasta de primeira linha como Dennis Villeneuve pode realizar, Duna 2 termina novamente de uma forma que pode-se considerar incompleta, pois Paul sugere um acordo reconhecendo sua herança e regência de Arrakis que é recusado pelas Grandes Casas planetárias, e ele ordena ao seu exército Fremen, que “mande ao Paraíso”, todos o(a)s nobres que estavam chegando em suas naves à Arrakis, para testemunhar os acontecimentos, considerando a importância vital do planeta, mas esse embate não é mostrado.
O filme termina de forma melancólica com Chani montando um verme de areia no deserto se afastando de Paul, que irá desposar a Princesa Irulan para começar seu reinado na Guilda dos Planetas.
Com esse final poderoso, o diretor consegue o impossível e entrega uma obra que por muitos anos com certeza, será referência em termos de espetáculo blockbuster consistente e com significados atuais no estado da sociedade de hoje.
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