Público lotou o espaço em plena sexta-feira à noite para a roda de conversa
As expressões “fake news” e “desinformação” se tornaram comuns em qualquer bate-papo dos brasileiros desde o ano passado. A fim de influenciar o comportamento de determinado grupo de pessoas, a desinformação é capaz de influenciar até mesmo o resultado de uma eleição. Portanto, a aceitação de informação falsa sem qualquer análise crítica traz consequências sérias para a sociedade ao redor do mundo.
Para discutir esse assunto, a Bienal do Livro reuniu no Café Literário o diretor, escritor e palestrante André Fran, o jornalista Chico Otávio e o professor da ECA/USP Clóvis de Barros Filho no último dia 6. A seguir, apresentamos os melhores momentos dessa conversa, mediada pelo jornalista Leonardo Cazes, coordenador do projeto Fato ou Fake:
Mentiras, exageros e falácias
Logo no início da conversa, Cazes coloca que apesar das fake news serem um problema na atualidade, elas não são uma novidade. E justifica sua fala citando o livro de Chico Otávio, que identificou informações falsas a partir da análise dos discursos de todos os presidentes entre João Figueiredo e Michel Temer. Sobre as diferenças entre as mentiras do passado e da atualidade, Otávio afirmou que é o alcance com o auxílio da internet, após a revolução tecnológica. Entretanto, afirma que “esse livro mostra que a mentira é antiga, que nossos políticos mentem, exageram e caem em contradição há pelo menos um século”.
Otávio contou ainda sobre os projetos de checagem dos fatos dos quais participou como o Preto no Branco junto à jornalista Cristina Tardáguila, e a Agência Lupa. E foi incisivo sobre a responsabilidade de cada um no combate ao problema: “É uma epidemia que tem que mobilizar toda a sociedade. A academia, as instituições públicas, aí eu falo Justiça Eleitoral, Ministério Público, Polícia. Porque é um problema generalizado!”
As fábricas de fake news
André Fran, foi questionado sobre sua experiência na produção do documentário “Fake News: Baseado em Fatos Reais“, que viajou o mundo em busca das origens de algumas fake news e as razões que levam as pessoas a enganar outras. Fran contou que, durante a última eleição dos EUA, os principais boatos eram produzidos por jovens da Macedônia. Sobre as razões que favorecem esses jovens a inventar tais mentiras, a principal é econômica: “é uma galera jovem, sem grana e que sabe mexer em computador”
O escritor contou ainda que eles começaram a espalhar as mensagens em grupos de Facebook com apelos para curtidas e compartilhamentos. A partir disso, foram ganhando dinheiro pelos cliques, já que as páginas são carregadas de anúncios. Daí vemos como pequenos grupos podem determinar os rumos da democracia, seja qual for a motivação. No fim das contas, segundo André, se combate mentira com verdade através de informação e educação.
Responsabilidades individuais e coletivas
Sobre se devemos responsabilizar individualmente quem compartilha fake news, além de quem a produz, o professor Clóvis de Barros Filho estabelece que é necessário entender as trocas simbólicas envolvidas nas interações online: “cada um de nós, ao viver em sociedade, temos eus na manga, definições que damos à la carte sobre nós mesmos” e essas definições estão à serviço das interações e que obedecem à critérios socialmente determinados, ou seja, quem queremos/devemos ser para quem/qual situação. Portanto, as fake news podem ser um circuito para que um indivíduo encontre uma interação e se sinta consagrado socialmente. Para Barros Filho, é preciso preparar os novos indivíduos com pensamento crítico diante dessa realidade, baseado em valores e princípios. Se isso não ocorrer, todas as iniciativas para conter o problema serão como “enxugar gelo”, decreta o professor.
Caminhos e perspectivas futuras
Para não apenas enxugar gelo, os integrantes da mesa foram unânimes no pensamento de que é necessário e urgente o investimento em educação. Segundo eles, é a educação que permitirá que as pessoas assumam uma postura crítica diante da informação que recebem, questionando e verificando a verdade. Por fim, Chico Otávio deixou uma mensagem otimista: “sou um romântico e sempre acreditei na verdade. Persigo a verdade, ela é matéria prima do meu trabalho. […] Pode ser uma busca até utópica, mas jamais vou desistir dela.” Em resumo, o jornalismo ainda tem um papel fundamental na luta em favor da verdade.