Gastronomia está na moda. Aqui selecionamos 5 filmes com temática de comida – não necessariamente alta gastronomia, como vocês irão ver. De países e épocas diferentes, valem a pena serem vistos – com ou sem pipoca.
1- Como água para chocolate (México, 1992)
Dirigido por Alfonso Arau e baseado no livro homônimo de Laura Esquivel (que assina o roteiro), conta a história do amor impossível entre os jovens Tita e Pedro. Tita, por ser a filha caçula, é proibida de casar pela mãe, que exige que se dê continuidade à tradição de que a filha mais nova deve manter-se solteira para cuidar da mãe até que esta morra. Para ficar junto de sua amada, Pedro aceita casar-se com a irmã mais velha de Tita, Rosaura.
Tita chorava na barriga da mãe quando esta cortava cebola, e ao nascer inundou a cozinha com uma torrente de lágrimas que, ao evaporar, se transformou em vinte quilos de sal. O filme tem vários momentos de realismo fantástico como esse, o que lhe confere grande beleza, principalmente no que tange aos efeitos da comida de Tita, que vão desde provocar melancolia até excitação sexual nos convivas.
Recentemente, Laura Esquivel resolveu criar uma trilogia e escrever mais dois livros. O segundo será “O diário de Tita” e o terceiro, “Meu passado negro”, narrado pela tataraneta de Pedro e Rosaura.
2- A festa de Babette (Dinamarca, 1987)
Com direção de Gabriel Axel e baseado no conto homônimo de Karen Blixen, ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1988. Martine e Filippa são duas senhoras idosas, filhas de um pastor, que vivem em um lugar remoto e se dedicam à caridade. O ambiente é bastante puritano. Numa noite de tempestade, Babette (Stéphane Audran, ganhadora do BAFTA em 1972 por sua atuação em O Discreto Charme da Burguesia) chega fugida de Paris, com uma carta de recomendação, pedindo abrigo. Tendo perdido marido e filho assassinados na guerra civil, seu único vínculo com a França é um bilhete de loteria que uma amigo renova anualmente.
Eis que depois de anos morando com as irmãs, Babette é premiada e resolve preparar um banquete por ocasião do centenário do pastor. As irmãs aceitam a gentileza mas se sentem culpadas pelo prazer pecaminoso que a comida e a bebida poderão proporcionar e isso acaba por afetar toda a comunidade, que resolve agir de forma bastante curiosa. As cenas de Babette cozinhando, o som do chiado do fogão, a preparação minuciosa dos pratos, tudo isso realmente atiça os sentidos. O filme tem um ritmo lento e merece ser degustado como um banquete. Não recomendado para ansiosos.
3- Julie & Julia (EUA, 2009)
Nora Ephron roteirizou e dirigiu este filme baseado em duas histórias reais: a de Julia Child, americana autora dos livros “My life in France” (“Minha vida na França”) e “Mastering the art of French cooking” (“Dominando a arte da culinária francesa”) e a da blogueira Julie Powell.
Julia Child, ao mudar-se para a França por conta do trabalho do marido, acaba interessando-se por culinária e estudando na escola Le Cordon Bleu. Para levar adiante sua paixão pela arte de cozinhar, teve que enfrentar a resistência inicial de seus colegas de classe (todos homens) e a hostilidade da diretora da escola. Acabou se tornando uma figura importante na história da gastronomia americana.
Julie Powell (interpretada no filme por Amy Adams) era apenas alguém prestes a completar 30 anos, sem objetivos definidos e insatisfeita com o trabalho, até desafiar a si mesma a preparar as 524 receitas do livro de Child no período de um ano, registrando todo o processo em um blog. Isso acabou por transformar sua vida: tornou-se escritora – é a autora do livro que dá título ao filme. Tanto Julia quando Julie tiveram muitas dificuldades até atingirem seus objetivos, e além do prazer de vê-las cozinhar, existe o de vê-las vencer. Há também o prazer de ver Meryl Streep em cena, estupenda como Julia Child.
4- Super Size Me (EUA, 2004)
Morgan Spurlock resolveu documentar sua experiência de passar 30 dias comendo apenas no McDonald’s para verificar as consequências desse tipo de alimentação. Seus exames clínicos estavam excelentes antes de começar o processo; mas em doze dias já havia engordado oito quilos e sentia-se cansado e deprimido – seu estado de ânimo só melhorava ao ingerir mais fast food, o que indicava que estava se viciando na comida. Segundo suas regras, deveria fazer três refeições ao dia e somente consumir o que era vendido no McDonald’s, até mesmo água; provar tudo do cardápio pelo menos uma vez e só optar pelo tamanho gigante se lhe fosse oferecida esta opção – o que aconteceu algumas vezes.
Seis semanas depois da estreia do filme em Sundance, o McDonald’s anunciou que iria eliminar a opção gigante (super size) do cardápio. Morgan felizmente sobreviveu à experiência, mas seus exames clínicos já estavam preocupantes e ele levou catorze meses para voltar ao seu peso inicial. O documentário levanta a questão do que é servido às crianças nas escolas e aborda os perigos da obesidade – sem o costumeiro foco obsessivo no lado estético, e sim na saúde.
5- Tampopo: os brutos também comem espaguete (Japão, 1985)
O filme é japonês, mas brinca com o estilo faroeste. Dois caminhoneiros entram em um restaurante de lamen como se adentrassem um saloon. Um deles, Goro, defende Tampopo, a cozinheira, das investidas de um homem. Acaba por ensinar a jovem viúva dona do restaurante a como preparar o prato de forma que aumente sua clientela. A obsessão pelo lamen perfeito toma conta da vida de Tampopo. Há outras cenas no filme, sem ligação com a trama principal e colocadas de forma independente, mas sempre relacionadas à comida. A reunião de executivos em que o menos privilegiado é o único que entende o cardápio francês, a velha que adora apertar alimentos no mercado, o casal que usa comida em suas brincadeiras sexuais e – com um toque de humor negro – a mãe agonizante que se levanta para preparar o jantar da família antes de morrer.
Uma infeliz coincidência: a atriz Nobuko Miyamoto, esposa do diretor Jûzô Itami, tornou-se viúva como sua personagem Tampopo quando seu marido matou-se em 1997. Há a teoria de que o suicídio tenha sido forçado por uma facção da Yakuza, a máfia japonesa. Uma curiosidade: este é um dos filmes preferidos do ator Edward Norton.
Comer é uma necessidade básica do ser humano. Mas a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. Então escolha o seu filme e aproveite!
Neuza Rodrigues
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