É inegável a forma com que o Rio de Janeiro é vista dentro e fora do Brasil, por questões de violência, crime organizado, corrupção institucionalizada e tantos outros males que são da realidade da cidade. Ainda que não se restrinjam somente a ela, sendo características do país todo, num geral, esse tipo de conexão é praticamente automática, indissociável. Tudo se tornou ainda mais massivo depois do sucesso internacional de “Tropa de Elite” que apresentava o BOPE e a realidade da polícia carioca, bem como de outros setores da sociedade, através de forte crítica de José Padilha, diretor da obra. Mesmo assistindo o filme e sabendo que se trata de uma ficção, ficam questionamentos mais profundos, até por sua verossimilhança. Quem quer entrar para a polícia? Por que? Como é formada a corporação da cidade do Rio de Janeiro?
“Rio do Medo” procura responder, ou ao menos fomentar essas perguntas. É um documentário que explora questões que levantamos pelo cotidiano, ou pela ficção, fazendo um estudo de caso da situação policial na cidade do Rio de Janeiro. Há de se ressaltar que ele é bastante atualizado, contando com as perspectivas e situações mais recentes que ocorrem e ocorreram na cidade, mas jamais abandonado o legado de seu passado. Assim, seu formato é de entrevistas que vão guiando os temas que aparecem, juntamente com algumas filmagens em quartéis e academias de polícia. Não é um longa que se propõe a ser complexo, inovador, mas faz muito bem aquilo que mantém sempre com simplicidade e sobriedade. É possível entender um pouco de quem forma a polícia e de sua psicologia.
Seu problema mais presente é, no entanto, se tornar bastante unilateral naquilo que expõe. A segurança pública é tratada pelos policiais, e somente. As poucas críticas que se faz a instituição são tímidas, podendo até passar despercebidas por um espectador mais inocente. Aliás, esse tipo de espectador pode até comprar o discurso de algum dos depoimentos do filme dentre os quais há por alguns a tentativa de naturalização ou justificativa da forma como a polícia age. É claro que é importante dar a palavra a essas pessoas para entendê-las, mas não parece haver grande questão por parte dos realizadores de problematizar tais falas a fundo. Seria interessante ver o ponto de vista dos moradores de periferias, por exemplo. Dessa forma, haveria uma visão mais ampla e justa de muitas das situações que se passam pela projeção. Nesse sentido, assistir a “Rio do Medo” munido de senso crítica é muito importante, e até essencial para poder entendê-lo. Isso porque até mesmo os indivíduos entrevistados que se posicionam de forma mais branda, sensata, acabam reproduzindo mentalidades perigosas que se originam de suas formações.
“Rio do Medo” é um filme simples, sem grandes pretensões e que alcança bem aquilo que promete. É um documentário que retrata como pensam e como funciona a polícia militar no Rio de Janeiro – pela visão dela própria. Não é um ponto de vista definitivo do assunto, e nem deveria ser, por sua parcialidade que existe pela própria natureza da realização desse filme. Ainda assim, pode ser considerado um documento de época importante e relevante, justamente para que se possa entender a tão polêmica instituição do Estado, no que diz respeito a segurança pública, e a partir dele, poder gerar críticas e discussões.
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