James Byron Dean nasceu no interior dos Estados Unidos, em 08 de fevereiro de 1931, em uma cidade chamada Marion, em Indiana. O sobrenome “Byron” foi dado em homenagem ao poeta inglês Lord Byron, já influenciando um lado artístico de berço. Sua mãe morreu de câncer aos 28 anos, James tinha apenas 7. E não foi apenas essa notícia ruim que ele teve naquele dia – seu pai o abandonou, e o entregou para ser criado por seus tios, em uma cidade vizinha, Fairmount.
Essa cidade até hoje é um museu à céu aberto do ator: souvenirs, réplicas de seu carro, quadros, pôsters e tudo que for imaginável tem o seu rosto ilustrado. É o mínimo que esta cidade pode oferecer a um garoto que, com apenas 24 anos, deixou um legado que já dura mais de seis décadas.
Para entender o segredo de sua atemporalidade, temos que fazer um parâmetro de como a juventude era retratada nos cinemas na década de 50. Os jovens eram vistos como inocentes, sem poder ou qualquer influência na sociedade, apenas meros telespectadores do que os “adultos” realizavam e afirmavam que era certo. O vazio da primeira geração pós-guerra era completamente ignorado, não só pelos grandes estúdios, mas pelas famílias e pela sociedade majoritariamente patriarcal.
A persona de James Dean em seus 3 filmes ajudou muito a expor as feridas dessa geração, tal como apontar os culpados, assim como seus três personagens – muito parecidos com a real personalidade do ator – faziam.
A sua biografia virou uma espécie de bíblia para vários artistas, como Bob Dylan, Elvis Presley e John Lennon, que já falaram publicamente o quanto a vida do ator influenciou em suas obras. A biografia em questão chama-se James Dean, The Mutant King – ou o Rei Mutante. O título faz uma alusão pertinente à sua personalidade, que baseado em dezenas de depoimentos de amigos próximos, era mutável, densa, atrevida, complexa e, claro, rebelde.
Segundo o compositor Leonard Rosenman, um de seus amigos mais próximos, ele era um desajustado e bem temperamental, o que isso incomodava em demasia todos os atores e diretores com que trabalhava:
“Ele enfrentava os diretores, quase enlouqueceu Elia Kazan e George Stevens, os maiorais da época. Nenhum ator fazia isso. Marlon Brando não fazia isso”, disse o compositor e amigo.
No entanto, Marlon Brando foi uma perseguição à imagem de Dean, que sofreu comparações – injustas -, segundo Dennis Hopper e Sal Mineo, que contracenaram com o ator em Juventude Transviada, seu filme mais épico: “As comparações eram mal feitas. Brando sempre foi pesado, dentro e fora das telas. Dean era leve, sua atuação era ligeira e bastante corporal”, comentaram uma vez.
O passado de Dean com certeza foi uma peça chave na construção de sua personalidade magnética. O ator não tinha muito a perder, e foi com este pensamento que saiu de Fairmount para Los Angeles, aos 18 anos, para viver com seu pai. O que não durou muito tempo pois, além de seu pai ter casado novamente, ele havia o obrigado a frequentar a faculdade de direito, qual Dean o fez por 3 meses. Quando decidiu de vez seguir a carreira como ator, o pai imediatamente disse que ele estaria “por si só” – e não seria a primeira vez.
Após isto, ele se matriculou na faculdade de artes cênicas, na UCLA, na Califórnia. Dividiu quarto com diversos amigos, passou fome e finalmente foi parar em Nova York, onde contou com a ajuda de um diretor de teatro bastante relevante no Show Business, Rogers Brackett – com quem manteve uma relação homossexual, cheia de idas e vindas, por anos. A sua sexualidade – bastante libertária para época – o ajudou a se tornar um ídolo da juventude, mas não havia começado nesse episódio. Ao ser convocado para guerra aos 18 anos, James alistou-se com um parêntese em seu cadastro – declarava-se como gay. Ao ser colocado à prova, beijou o general na frente de todos. Por conta desse fato, veteranos de guerra retiraram duas vezes o busto do ator, que fica na entrada do cemitério onde está enterrado na cidade onde nasceu.
Controverso desde sempre, Dean também colecionava traumas. A atriz Elizabeth Taylor, a quem se tornou amigo durante as gravações de seu terceiro e último filme “Assim Caminha a Humanidade”, após a sua morte liberou para a imprensa a informação de que James havia sido abusado sexualmente por um reverendo quando era criança, e que aquilo era um dos fatores que mais o atormentava. A atriz jurou para o amigo que o segredo não chegaria a imprensa até sua morte, que ocorreu em 2011. E assim o foi.
Recém saída de uma época austera para Hollywood, o “Studio System” e a “Warner Brothers” arriscou tudo ao assinar com o ator, que não compareceu a estreia de seu primeiro filme, “Vidas Amargas”, com a justificativa de não conseguir lidar com a imprensa. A personalidade excêntrica de James foi, de fato, um problema para os estúdios, que chegaram a obrigá-lo a assinar um contrato que o impediria de dirigir carros de corrida durante a filmagem de seu último filme, com Elizabeth Taylor e Rock Hudson, até que ela estivesse concluída. O que não adiantou muito, pois o ator morreu no dia 30 de setembro de 1955, antes mesmo da estreia do filme – enquanto dirigia para amolecer o motor de seu Porshe Spyder para uma corrida que faria no mesmo dia. Como compensação, o estúdio arrecadou muito mais do que esperado nas bilheterias, além de Dean ter sido indicado ao Oscar de melhor ator pelo filme, o que trouxe mais ainda visibilidade ao ocorrido, aumentando gradativamente a sua lenda, que teve enorme influência nos movimentos de libertários dos jovens na década de 60.
Sobre sua morte, Humphrey Bogart logo disse:
“Morreu na hora certa. Nunca teria vivido o suficiente para fazer jus à sua lenda”.
Claramente a morte caiu bem para sua fama, culminando em um fenômeno quase mórbido, o qual o estúdio recebia milhares de cartas de garotas do mundo inteiro. Foram confirmados 3 suicídios de meninas da Alemanha, após a notícia de sua morte ser divulgada.
Amante da fotografia, Dean nos deixou com uma incrivelmente vasta galeria de fotos que ele tirava de si próprio, ou seus numerosos amigos fotógrafos tiravam dele – em praticamente todos os dias de seus 24 anos de vida. Dono de citações incríveis, como:
“Sonhe como se fosse viver para sempre, viva como se fosse morrer hoje”
(…), Martin Sheen disse sobre ele uma vez: “Quando eu estava na escola de atuação em Nova York, havia um comentário geral de que se Marlon Brando mudou a forma das pessoas atuarem, James Dean mudou a forma das pessoas viverem”.
Opiniões à parte, James Dean merece a relevância que conquista a cada nova geração, que redescobre seus filmes e sua vida. O ator carregou nas costas as dores imortais da juventude, além de vivê-las à flor da pele em seu íntimo. E também brincou de fantoche com o tempo, que está ao seu lado até hoje.
Por Thayane Maria
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