Desde que saiu a lista do homem mais sexy do mundo uma coisa ficou clara: nos últimos 17 anos, todos eles foram brancos. E, provavelmente, se voltarmos até o início da listagem feita pela revista People, poucos devem ter sidos os representantes negros.
Há alguns anos, Lupita Nyong’o foi eleita uma das mulheres mais bonitas do mundo, pela mesma revista. E sofreu uma enxurrada de comentários de pessoas que diziam “não é preconceito, mas ela não é bonita assim”. Pessoas escolheram outras negras, e tentaram provar por A+B que a atriz não é um referencial de beleza, usando argumentos como seu cabelo, seus traços, sua genética, mas sem citar sua cor de pele, uma vez que há uma consciência de que isso seria racismo escancarado. Lupita não pode ser bonita porque seu cabelo não é o usual, ou porque seus traços não são o que normalmente se pensa como algo bonito, ou porque “sua cor não é a melhor, mas a Beyoncé, ou a Rihanna são lindas”. Porém, aqui vai uma novidade: existe um nome para a famosa atitude de dizer que “tal pessoa é linda e quase não têm traços negros, ou tem a cor mais suavizada” e chama-se colorismo racial.
Colorismo pode ser explicado assim: é quando um negro é mais “tolerado” pela sociedade em geral porque sua aparência é mais aceitável. Os traços de Lupita são feios, mas os de Rihanna e Beyoncé não são, seguindo essa ideia. De todo modo, é uma atitude que não deixa de ser racista e ela perdura muito. Mas, não há que se confundir: ainda que as cantoras sejam mais admissíveis, elas ainda serão consideradas pessoas negras e só são mais bonitas que Lupita. Compare-as com outras mulheres brancas e, é bem provável, que elas não serão exemplos e as justificativas serão as mesmas usadas para a atriz: seus traços, seus cabelos…
Muito usualmente, o cinema feito por artistas negros passa por um crivo diferente de qualquer outro. Quando “Moonlight: Sob a Luz do Luar” ganhou o Oscar de Melhor Filme de 2017, as redes sociais passaram a ter centenas, até mesmo milhares de mensagens de pessoas que foram contra. Houve aqueles que apenas estavam tristes por seu favorito, “La La Land”, não terem ganhado, mas grande parte dos discursos mostravam um preconceito devido a história de Moonlight, que conta a vida de um jovem negro. O mesmo discurso inflamado repleto de frases típicas como “não é racismo, mas…” foi visto quando “12 Anos de Escravidão” ganhou o Oscar de melhor filme. O longa disputou com o aclamado “Clube de Compra de Dallas”, e mesmo com direção, produção, atuação, roteiro e diversas áreas elogiadíssimos, o filme, sua história, importância e contexto social foram diminuídos e duvidados.
Inclusive, o diretor Steve McQueen, que entre seus filmes tem obras como “Shame” e “Hunger”, viu sua carreira ser duramente contestada com argumentos de que ele não era interessante o suficiente e nem teria desenvolvido um trabalho bom o bastante para ser indicado aos prêmios e nem ter indicações para seus projetos também. McQueen precisa constantemente provar-se como um bom diretor para ser reconhecido.
Octavia Spencer também não escapou. A atriz, que tem seu Oscar por “Histórias Cruzadas”, falou em um monólogo divertido e repleto de ironia como seu papel mais recorrente e desbocado é sempre enfermeiras. Com uma vasta lista de personagens assim no currículo, Spencer falou sobre como é ter esse “destino”, ironizando o fato de parecer ter uma cara própria pra isso e não para outros tipos de personagens. Anos depois de Hollywood sair da região de apenas colocar negros como escravos ou empregados, o cinema passou a colocá-los como seres milagrosos (a própria Spencer faz Deus em “A Cabana” e Morgan Freeman é o ser divino em “Todo Poderoso”, ainda sem esquecer de Michael Clarke Duncan em “A Espera de Um Milagre”), em papeis de enfermeiros ou cuidadores (Spencer em diversos filmes, Whoopi Goldberg em “Garota, Interrompida”) ou como os engraçadões (todas aquelas comédias dos irmãos Wayans, mais vários personagens que tem esse objetivo em vários outros filmes). Essas são regiões seguras para eles, onde as pessoas aceitam seus personagens e não se sentem ameaçadas. Mas, os coloque em um drama racial e sempre há questionamentos e dúvidas sobre seus talentos.
O Brasil também tem sua cota de preconceito, seja escondido ou não todos os dias. A atriz brasileira Tais Araújo viveu uma situação inusitada e que acabou desencadeando uma enxurrada de xingamentos racistas em pleno 2017. Tais é uma das maiores artistas do país, seu nome é disputado entre várias profissionais de sua área e seu talento é indiscutível. Ela foi a primeira protagonista negra de novelas no Brasil (com “Xica da Silva”) e foi também a pioneira em estrelar uma história das 21 horas na Rede Globo, o canal mais importante do país. Ao ser convidada para um programa matinal, Tais rejeitou o que foi oferecido no café da manhã do dia, porque não gostava, e isso levou a vários xingamentos de baixo calão e cunho racista dos mais variados, que passearam entre uns que diziam “não ser racistas, mas…” até os abertamente preconceituosos, que xingavam e diminuíam a atriz como profissional e pessoa.
No dia 20 de novembro, é comemorado o Dia da Consciência Negra no Brasil, um dia que, em tese, serviria para homenagear a população negra, reconhecendo sua importância. Como essa data, há outras em vários lugares do mundo. Mas, o pensamento parece ter ficado apenas na teoria e quem não tem empatia resume tudo em mimimi, sem realmente pensar no assunto.
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