Uma verdade que pode ser um tanto incômoda sobre videogames: os títulos são quase sempre sobre violência. Sobre matar. Não estamos condenando este tipo de jogo, afinal, entendemos que é uma forma de entretenimento. Tampouco acreditamos que videogames formam pessoas violentas. Mas vale a pena questionar porque tantos envolvem o ato de matar – outro humano, outra criatura, qualquer coisa. Pode soar estranho, ou até “mimizento”, mas até jogos de Mário são sobre matar. Para resgatar a princesa? Sim. Mas você sabe o que faz para chegar lá, não? Por mais cartunesco que seja. Lembre-se: não estamos criticando, estamos contando um fato. E é preciso que isso fique bem claro antes de irmos ao assunto principal de hoje. Vamos?
Num mundo dominado por games “assassinos” (isto não é ruim e não estamos condenando, e vamos repetir isso, quantas vezes forem necessárias), a Guerra é um dos temas favoritos. Também é nas demais formas de entretenimento, como no cinema, mas nos videogames, parece ser frequente o lançamento de títulos como os das franquias “Battlefield” ou “Call of Duty”. Estes war games são geralmente focados no combate – você assume o controle, seja na visão de primeira pessoa (ou FPS – First Person Shooter, ponto de vista do seu personagem) ou na terceira pessoa (você vê o personagem controlado na tela, como em “Tomb Raider”, por exemplo). Há também os games de estratégia de guerra, como “Age of Empires” ou a série “Command & Conquer”. Temos jogos de guerra realista, histórica, intergalática… todos envolvendo a conquista e/ou eliminação do inimigo. No entanto, há alguns games que fizeram diferente em sua abordagem da guerra: o ponto de vista da vítima.
Listar games de guerra relevantes que cubram este tema não foi fácil. De fato, nossa lista mencionará apenas dois, que fizeram grande sucesso, mas é claro que você lendo pode ficar a vontade e sugerir outros títulos nos comentários ao final do post.
Valiant Hearts: The Great War (Ubisoft, 2014)
Inspirado por cartas reais, escritas durante a Primeira Guerra Mundial, “Valiant Hearts: The Great War” é um game de plataforma e aventura desenvolvido e publicado pela Ubisoft. O jogo é protagonizado por quatro personagens, numa jornada de amor e sacrifício pela Europa devastada.
Pode-se dizer que o jogo é uma espécie de puzzle-plataforma, e caberá a você utilizar as habilidades e equipamento dos diferentes protagonistas para sobreviver. O jogo diferencia por não haver uso pronunciado ou constante de armas de fogo, sendo essencialmente sobre sobrevivência, escapando dos mais variados perigos: soldados armados, bombas, armas de gás e outros horrores utilizados na guerra.
Enquanto o jogo graficamente pareça – se olhado rapidamente – um tanto caricato, a história é contada de forma comovente. Há bastante conteúdo para ser lido (opcionalmente, e de forma nada invasiva, o que é um grande plus), desde cartas dos personagens, até relatos verídicos. A música conversa com a época e com os momentos do jogo, e o desenvolvimento da história é envolvente e emocionante.
“Valiant Hearts” foi reconhecido com dois Game Awards, o “Oscar” da indústria gamer, em 2014: Melhor Narrativa e Jogos Por Mudança (categoria de jogos de impacto social, sobre a qual já falamos, com os premiados de 2016). Os Annie Awards – premiação americana exclusiva da indústria da Animação – também prestigiaram o título, que venceu Melhor Animação em Videogame.
“Valiant Hearts: The Great War” pode ser encontrado nas seguintes plataformas: Windows, PlayStation 3, Playstation 4, Xbox 360, Xbox One, Android e iOS.
This War of Mine (11 Bit Studios – 2014)
Enquanto “Valiant Hearts” retratava ainda alguns soldados, “This War of Mine” teve seu foco completamente voltado para os civis. O jogo foi inspirado pelo cerco de Sarajevo – quando a cidade ficou cercada por quatro anos, de 1992 a 1996, durante a guerra da Bósnia.
Baseado numa guerra relativamente recente, neste game de sobrevivência e estratégia, controlamos civis que precisam sobreviver em cidades desgastadas, buscando abrigo e comida, e frequentemente tendo que tomar decisões morais difíceis, como roubar de outros grupos que também não tem muito com o que sobreviverem.
Com a cidade fictícia de Pogoren sob cerco, é impossível sair de dia em busca de itens sem ser prontamente morto por atiradores de elite, logo, é nesta hora que você poderá fabricar novas ferramentas, fazer a manutenção de seu abrigo e cozinhar. A caçada pelos recursos para a sobrevivência do seu grupo deverá ser feita à noite.
Os personagens que podem ser escolhidos, são em grande maioria pessoas comuns, com diferentes histórias e profissões antes da guerra, cada qual afetando de forma diferente suas capacidades e fraquezas nesta situação extrema.
“This War of Mine” pode ser encontrado para Windows, MAC OS X, Linux, Android e iOS. Já no PlayStation 4 e Xbox One, o jogo vem com a expansão “The Little Ones”.
Depois da batalha…
Já dissemos antes? Não? Não estamos condenando os outros jogos de guerra tradicionais. Eles são divertidos, felizmente muito deles bem trabalhados, com roteiro, direção de arte e trilhas sonoras impecáveis. (Oi, Battlefield 1!). No entanto, pode ser engrandecedor termos alternativas. Um outro ponto de vista. Os games citados acima, não são apenas histórias sendo contadas, para você ter pena ou reagir da forma esperada a um suposto vitimismo. São histórias bem contadas e excelentes games: com mecânicas, gráficos e música bem executados. Tão passatempo, quanto propostas de reflexão. E uma ótima “granada” para jogar na cara dos próximos infelizes que se atreverem a dizer que videogames não são uma forma de arte.
Há um tempo falamos também sobre outros ótimos jogos com propostas além da diversão, não deixem de conferir! E não se esqueçam de sugerir outros jogos que também se encaixam na premissa do post de hoje!
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Que bom que vocês repetiram várias vezes que não condenam jogos violentos iuahudiahu Mas é uma coisa para se pensar, mesmo. Acho que é porque em geral nos jogos procuramos duas coisas: “vencer” e se “distanciar da realidade”. Jogos de luta/guerra/tiro/etc são algo fora da nossa realidade, tem toda uma adrenalina (que eu não entendo muito, mas vá lá) e você precisa matar inimigos para vencer. Eu não sou muito do gênero porque sou mais casual, mas o único jogo de tiro que eu gosto é Bioshock justamente porque tem uma história muito bacana por trás. Quanto aos jogos de guerra indicados, me interessei bastante pelo primeiro, vou procurar (:
Beijos, Vickawaii
http://www.neverland.com.br
Vick, pode procurar o Valiant Hearts sim! É uma jornada linda!
E quanto a precisar repetir: infelizmente a comunidade gamer é MUITO defensiva, num ponto que não aceita críticas. Então, precisamos realmente deixar claro que propomos aqui uma reflexão. Quem quiser, pega ela, quem não quiser… vai lá jogar!
Obrigado por ter tomado um tempo para comentar!
Oii, tudo bem? Adorei a forma como você apresentou jogos de guerra diferentes, não tenho muito conhecimento por jogos, por isso não conhecia os dois, mas como amante de Historia fiquei muito curiosa para tentar jogar-los um dia. As propostas são bem interessantes, ainda mais por mostrar o lado das vitimas desses conflitos, pelo fato de Valiant Hearts: The Great War se inspirado em cartas reais ganhou mais pontos comigo. (rsrs).
Ótimo post, parabéns pela sua escrita. ^-^
Oi Ana! Busca conhecer eles sim! Se você não tem muito conhecimento por jogos, vai no “Valiant Hearts”, que realmente tem uma gameplay mais amigável, além de ter o material histórico que te interessou. Você pode achar eles no Steam e similares, mas também, se preferir, pode dar uma olhada nos vídeos que sempre têm pela internet antes.
Abração e obrigado por vir comentar!
Eu nunca tinha pensado muito a fundo sobre isso da maioria esmagadora de games serem sobre basicamente… matar. É bem incômodo pensar nisso realmente, apesar de ser só um entretenimento inofensivo. E eu não tinha pensado no outro lado disso, que seriam games que não tivessem disso. Interessantíssimo propor jogos que não se resumam a matar, ainda mais com temas de guerra.
http://www.sextadimensao.com/
Pois é, Yuri! Realmente acho que é uma diversão inofensiva, mas é sempre válido pensarmos qual opção estamos nos dando… se é sempre a mesma! Fico grato em ver que você entendeu a proposta do post e pensou sobre o assunto. Acredito que temos que tomar cuidado quando consumimos “demais do mesmo”, para que aquilo não molde nossa visão sobre o mundo.
Muito obrigado por comentar!
Eu nunca fui fã de jogos de guerra, mas também já tinha parado para reparar o quanto os jogos que jogamos são sobre morte quando minha sobrinha está do lado me vendo jogar, algum jogo bobo como Mario, Crash ou Klonoa, e quando ela pergunta o que aconteceu e eu fui obrigada parar para pensar antes de soltar as palavras “matei o bichinho”. É realmente tenso, sempre falo que eu só bati ou tirei ele do caminho XD
Nunca tinha pensado sobre esse tipo de jogo de guerra que mostra o outro angulo, já vi filmes e li livros que mostram a situações de civis e sobreviventes durante a guerra, mas nunca pensei em jogos do gênero, e realmente, não acho que conheço nenhum que se encaixe.
Bites!
Olá de novo, Tary!
Essa situação com sua sobrinha é justamente algo que passo com a minha, de 4 anos. Eu percebia o impacto disso, além de ter me deparado com alguns conteúdos na internet (raros) que também questionavam a necessidade dessa centralização das narrativas em violência, cartunesca ou não.
Sempre houveram realmente, bons filmes e livros mostrando outro ângulo, e felizmente isso poderá ser mais explorado nos games. É outra prova de que eles são tão ferramenta de expressão quanto as outras formas de arte!
Obrigado pelo comentário, um grande abraço.
Seguindo essa premissa, lembrei do Haunting Grownd que é basicamente só fugir e se esconder na maior parte do tempo até atingir os objetivos. Mas também não deixa de ser um game super violento, ainda mais psicologicamente. Tentei pensar em jogos realmente conhecidos por serem divertidos e que não tenham essa lógica de matar/morrer, mas é bem difícil…