Não é sempre que um seriado com crianças como personagens principais se dá tão bem e agrada a população geral. Porém, isto é exatamente o que “Stranger Things” conquistou. Com uma história que faz referência explícita à realidade dos anos 80, a série também toca em temas e em discussões que faziam parte daquela década, mas que foram esquecidos nos tempos atuais.
Substituindo smartphones por walkie-talkies, vídeo games de última geração por fliperamas, MP3 por fitas cassete, e ainda filmes atuais por “Ghostbusters”, “Stranger Things” nos faz voltar no tempo para um mundo onde crianças brincavam na rua e a amizade era sua mais importante conquista.
E é esse o tema mais esquecido dos tempos de hoje: a amizade. Quais filmes dos últimos anos que têm a amizade como objetivo? É difícil listar ou lembrar de muitos. Porém, pensando sobre filmes dos anos 80 que tenham esta temática, a lista cresce: “Goonies”, “E.T. o Extraterrestre”, “Curtindo a Vida Adoidado”, “Em Busca do Vale Encantado”, ou ainda o próprio “Ghostbusters” possuem esta dimensão, só para citar alguns. E agora “Stranger Things”, que é influenciado fortemente pelo livro de terror de 1986 “It – A Coisa”, de Stephen King, faz o mesmo. E o sucesso mostra que o público agradece.
Mesmo assim, a segunda temporada começa com alguns problemas. Os irmãos Duffer, seus criadores, tiveram anos para escrever a primeira temporada, que conta a história de Will Byers, um garoto que desaparece misteriosamente na realidade sombria do Mundo-de-Cabeça-Pra-Baixo. Seus amigos então entram em uma aventura divertida contra criaturas assustadoras e perigosas para salvar Will, que é interpretado por Noah Schnapp. Contando com personagens engraçados e com atores experientes como Winona Ryder (mãe de Will), o seriado também nos faz voltar às nossas infâncias, onde a lealdade com os amigos e a busca do primeiro amor são parte do dia a dia (mesmo que o “primeiro amor” em questão seja a Eleven, uma garota de nome incomum e com poderes especiais).
Com tamanha complexidade, carinho e cuidado, a obra adentrou no coração dos fãs. Porém, com as pressões do mercado e a necessidade de trazer a segunda temporada em tempo mais curto para o Netflix, os criadores da série tiveram menos tempo para escrever, e isto é visível, especialmente nos episódios iniciais. Por exemplo, o primeiro episódio é bastante anticlimático e lento. Depois de uma primeira temporada que tinha acabado com um final empolgante e que prometia uma segunda aventura sem igual, isto pode até deixar alguns entediados. Há uma grande espera até que algo divertido aconteça.
Porém, depois do quarto episódio, é como se os irmãos Duffer lembraram de sua própria formula e “Stranger Things” volta a ser o seriado empolgante e divertido que todos conhecem. Além disso, personagens novos e divertidos são introduzidos, ajudando a série, que agora pode concentrar seu foco na descoberta de segredos pessoais de seus personagens mais misteriosos, como a garota Eleven. O último episódio é igualmente empolgante e traz mais segredos, indicando uma nova e excitante terceira temporada.
https://www.youtube.com/watch?v=Tqdw_GITLAY
Por Daniel Bydlowski
* Artigo escrito originalmente para o jornal Diário de Pernambuco
Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.