Baz Luhrmann cria conto de fadas sombrio em cima da história do Rei do Rock
Todo mundo conhece a história de Elvis Aaron Presley, o rapaz branco que transformou o rock n’ roll, ritmo criado pelos negros e temido pelos brancos de classe média, no maior fenômeno musical da segunda metade do século XX. O cineasta australiano Baz Luhrmann é conhecido por levar às telas em cores quentes histórias de estrutura fabular. Em Elvis, assim como fez com Romeu + Julieta e O Grande Gatsby, encontrou na trajetória do Rei do Rock o mote perfeito para alinhavar um conto de fadas com viés sombrio.
A trama é contada sob a ótica do Coronel Tom Parker, o empresário de Elvis, aqui vivido por Tom Hanks. Vemos como Parker com seu tino para negócios (e jogatina) vislumbra no jovem uma verdadeira galinha dos ovos de ouro. E como Elvis se torna prisioneiro da fama e da voracidade do showbiz.
Luhrmann usa sua lente de forma matreira para reforçar o maniqueísmo da proposta. Elvis não pode ser considerado uma cinebiografia, ao contrário do que se pensa à primeira vista. Trata-se de uma ópera dramática, seguindo a escola italiana (Francesco Bellini deve abrir um sorriso lá de cima), algo muito caro à filmografia de Luhrmann. Não é absurdo estabelecer um paralelismo entre Elvis Presley e Satine de Moulin Rouge.
Ciente dessa opção narrativa, não é pertinente criticar incongruências com os fatos reais, ao contrário de Bohemian Rhapsody, que se vendeu como uma transcrição da vida de Freddie Mercury e da trajetória do Queen. Aqui vale a máxima de que entre o fato e a lenda, conte-se a lenda. Por isso roteiro escrito pelo diretor junto com Sam Bromell – que foi assistente de script de O Grande Gatsby -, Jeremy Doner e o parceiro de longa data de Luhrmann Craig Pearce, desvia-se de questões mais espinhosas ou controversas. A proposta é clara: Elvis é uma Cinderela com o violão no lugar do sapatinho de cristal, e Parker é uma fada madrinha do mal.
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O diretor aqui se mostra em plena forma, para acalmar os fãs que acreditavam que ele já tinha dado seu melhor. Nada que lembre o vazio de ideias visto em Austrália, talvez apenas um pouco da gordura de O Grande Gatsby. Mas o deslumbre está lá, revestido das cores (na fotografia espetaculosa de Mandy Walker) e da hipnótica direção de arte.

Austin Butler consegue surpreender, mesmo a quem percebeu, no trailer, que encarnaria o rei do rock de forma convincente. A composição dentro do tom, vai ficando cada vez mais próxima do original à medida que o personagem vai chegando à maturidade. Na fase Las Vegas, na qual há sempre o risco de se cair na caricatura, é onde Butler mais brilha.
Tom Hanks adiciona mais uma atuação marcante para a sua galeria, e consegue contornar até mesmo o (d)efeito da pesada maquiagem, ponto negativo da caracterização. Parker funciona na trama como “vilão” e mestre de cerimônias e Hanks se sai bem ao se alternar entre ambas as facetas.
Por fim, Elvis é o triunfo de um cineasta autoral, que conseguiu conferir frescor a uma história contada à exaustão, uma tarefa inglória. Se é a versão cinematográfica definitiva do Rei do Rock ainda não se pode afirmar. Mas sem dúvida é a que por mais tempo grudará na retina.

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