Atualmente, a veia, digamos, autoral de Christopher Nolan se tornou motivo de discussões acaloradas entre cinéfilos e especialista. Alguns acham o cineasta britânico uma farsa, outros o veem como gênio. Provavelmente, não é nem uma coisa e nem outra. Nolan é, de fato, superior a muitos de seus pares de Hollywood, e filmes como “Amnésia”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, “A Origem” e “O Grande Truque” provam isso. No entanto, ele não consegue chegar ao nível de Spielberg, Scorsese e Coppola, mesmo que ele tente isso desesperadamente ao fazer filmes cada vez mais grandiosos e com tramas pretensamente complexas, como no caso de “Tenet”, seu novo trabalho.
Antes de começar a falar dele, contudo, é preciso lembrar que as críticas mais comuns sobre os filmes de Nolan são sobre o excesso de explicação que ele coloca em seus roteiros. Há sempre um ou vários personagens que possuem uma única função: explicar questões científicas. Isso acontece no já citado “A Origem” e em “Interestelar”. Pois bem, em “Tenet” esse personagem também está presente, mas a história é tão confusa que nem mesmo ele consegue explicar o que quer que seja satisfatoriamente. Para piorar, em vários momentos a montagem de Jennifer Lame corta as explicações antes que elas terminem, como se Nolan tivesse tanto medo de receber as mesmas críticas, que pediu que a montadora resolvesse o problema.
Além disso, o filme é apenas um exercício de estética, técnica e artificio. Não há uma mensagem a ser decodificada no roteiro. Tudo soa vazio e sem propósito na história do protagonista (John David Washington) – o nome do personagem é “protagonista” – que se vê em uma trama que envolve regressão no tempo, ou como soa mais bonitinho nas palavras do roteiro do próprio Nolan, entropia invertida. Vilões do futuro estão usando uma tecnologia para “inverter” pessoas e objetos a fim de destruir o planeta. Os motivos para tudo isso, assim como qualquer outra informação, é jogada na cara do expectador em diálogos esdrúxulos e pouco elucidativos. Ou seja, são mais de duas horas de muito caos, com carros e prédios sendo invertidos, como se estivessem em uma fita de vídeo que é rebobinada. Essas cenas, inclusive, são tão patéticas que parecem saídas de uma comédia pastelão ruim.
Há até tentativas de fazer com que “Tenet” não seja totalmente descartável quando determinadas referências visuais ao tema do filme são usadas por Nolan, como quando os personagens ficam em meio a trens que vão e voltam nos trilhos, ou quando algumas sequências são executadas em meio a torres de energia eólica que giram interminavelmente. A câmera também gira em torno dos protagonistas, dando a ideia do fluxo constante de ida e volta no tempo. O problema é que o filme não possui um propósito além da necessidade de seu diretor em mostrar como ele pode ser inventivo na construção de uma narrativa.
Nem mesmo para diverti o longa se presta. São incontáveis as missões impossíveis que o protagonista precisa fazer, mas nenhuma delas é competente em sua mise-en-scène de ação. Talvez seja o pior trabalho de Nolan neste quesito. Claro que a fotografia se aproveita do 4K em IMAX para proporcionar um bonito aspecto de realismo límpido ao filme e agradar os espectadores, como nas outras obras do cineasta, por outro lado, ela também acaba se tornando excessivamente artificial e insípida.
Para terminar e não se alongar na enorme lista de equívocos, é importante dizer que as atuações são sofríveis, principalmente as de Washington e Kenneth Branagh: o primeiro tenta criar uma personalidade austera e elegante, mas fracassa miseravelmente, dando ao seu protagonista um ar de charlatão de quinta categoria, já o segundo usa todos os estereótipos de vilões da história do cinema para construir seu personagem, tornando-o irritante e motivo de piada. O sotaque russo criado pelo experiente ator só piora a situação. Robert Pattinson e Elizabeth Debicki são razoáveis, e só.
Por tudo isso, “Tenet” acaba sendo uma grande perda de tempo e dinheiro do estúdio que o financiou. A batida frase “In Nolan We Trust”, tão repetida pelos fãs, agora pode ser mais fortemente contestada pelos detratores.
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