O filme é, para o olhar atento, uma teoria sobre a necessidade da guerra; uma forma de existencialismo da guerra. Baseado no livro “The operators” de Michael Hastings, “War Machine” é dirigido e roteirizado por David Michôd (The Rover – A Caçada) e protagonizado por Brad Pitt.
Lançado agora em 26 de Maio, a Netflix mostra um novo olhar – mas nem tanto assim – sobre a guerra com sua nova produção. David Michôd não tem uma produção extensa, mas promissora por seu outro filme “The Rover – A caçada”. Esta parece ser a aposta da empresa em dar oportunidade para novos talentos em produções grandes para a tevê.
A história narra a vida do general MacMahon (Brad Pitt) administrando a guerra do Afeganistão e, em última instância, tentando solucioná-la.
O filme é dividido quase sutilmente em duas partes: a primeira, na vida pessoal dos soldados e numa teoria da guerra, ou melhor, teorias; a segunda, na ação – necessária em (quase) todo filme de guerra.
A primeira parte mostra a vida na guerra, a irmandade formada pelos soldados que estão ali para seguir ordens, mas, acima de tudo, a solidão. Num ambiente hostil acompanhado de pessoas desconhecidas, as quais sua vida pode depender todos os dias de sua estadia em território inimigo, um laço maior do que a amizade, do que a família se forma: um laço do desespero. Constantemente esse grupo se esforçará em não ter um elo fraco e em comemorar em rituais “sociais” que apenas guerreiros compreenderiam. Sua luta é contra sua própria condição. Não em vão, para si mesmos, seu trabalho tem de ser o mais importante do mundo, pois não são soldados, mas no universo da ilusão que precisam criar para terem importância em matar, (insurgentes ou civis) são heróis do mundo. Só eles têm a coragem para trazer a paz, só seu país se dispõe a se sacrificar “pelos outros”.
No entanto, tal véu de heroísmo é fino demais para o resto da comunidade diplomática, política e jornalística, como mostra bem o filme com a incrível atriz Tilda Swinton (“Precisamos falar sobre Kevin”) e com outros personagens no mesmo. A lógica da guerra emerge, inclusive, com uma voz off. Os soldados entram para caçar um terrorista, depois o país invasor impõe um líder de sua escolha para apaziguar por quaisquer meios possíveis. Num terceiro momento, tenta-se vez após vez acabar com todos os insurgentes (soldados que não têm uniformes). Mas é claro a didática de tal esquema: O exército estado-unidense procura treinar tropas afegãs que não estão empenhadas na guerra dos outros em sua própria terra e, na equação do próprio general MacMahon 20-8=30. Isso, pois todos aqueles que estavam em dúvida em aderir às milícias quando tiverem um parente ou amigo morto será o último argumento para entrar na guerra. Não há como diminuir o número por mais mortes. Todavia, é justamente isso que o exército faz – além, claro, de muitos diálogos com líderes de vilas.
O que o exército ou o general MacMahon não conseguem ver é que não há método para a paz, a não ser a retirada da própria razão, a invasão. De fato, se ignora todo o mal que o talibã faz na região, proibindo pessoas de estudarem, dançarem, cantarem etc. Em sua auto-afirmação por importância no mundo e em seu trabalho, o general não vê – ou apenas precisa negar tal possibilidade – que ele é uma das causas da desestabilização da região e apenas tem seu orgulho como âncora da negação. Afinal, todo o sacrifício que faz ficando longe de sua esposa, assim como de todos os soldados, deve ter algum sentido, quando não.
Apesar da segunda parte do filme não ser tão emocionante, chegando até a um anti-clímax por assim dizer, o filme vem com uma política ou uma visão de mundo muito interessante e aberta à compreensão de todos. Mais uma vez a Netflix vem com uma produção de discussão de temas importantes e de qualidade.
Por Paulo Abe
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