Não é de hoje que Hollywood enfrenta uma certa crise criativa. Produções fracas e remakes recorrentes dão razão a essa argumentação. É fato também que o público mais jovem vem se mostrando muito diferente do que os espectadores mais antigos. Com tantas mudanças, a indústria do cinema vem enfrentando o dilema de como produzir filmes que sejam sucessos de bilheterias. Nesse sentido acabou surgindo um filão que vem rendendo bons faturamentos aos estúdios responsáveis: os filmes de Heróis!
Este subgênero não é exatamente uma novidade, haja visto que desde a década de 1970 foram produzidos alguns filmes baseados em personagens de Histórias em Quadrinhos. A questão é que nos últimos dez anos essa temática ganhou um impulso incrível, sobretudo liderado pela intensa produção de personagens da Marvel pelos estúdios Fox e Disney. Como não podia deixar de acontecer, a eterna rivalidade entre as duas maiores editoras de HQs (Marvel e DC) acabou sendo transportada para as telonas. Essa disputa não começou bem para a editora capitaneada pela Warner, mas será que esse cenário pode ser modificado?
A principal característica dos novos filmes de super-heróis é fugir das histórias fechadas, focadas em um único personagem, para abordar um universo mais amplo. Uma vez que nos quadrinhos originais esses personagens já interagiram de diversas formas, fica claro que material para ser trabalhado existe de sobra. Seguindo essa linha, a Marvel saiu na frente ao se focar na franquia dos Avengers, tanto em conjunto quanto isoladamente. “Homem-Aranha”, “X-Men” e “Defensores” seguiram em paralelo por conta de direitos autorais, mas essa situação já está sendo contornada. Nesse mesmo período a DC investiu em uma trilogia isolada do Batman, um desastre com Lanterna Verde e uma produção obscura do Superman. E foi justamente o super-herói de Krypton, sob o comando de Zack Snyder, quem abriu a temporada tardia abordando o multiverso DC.
Entretanto o que parecia ser a solução para os dilemas da DC se tornou um grande problema. O estilo do produtor e diretor não foi bem recebido nem pela crítica nem pelos fãs. “Batman vs Superman” e “Esquadrão Suicida” foram rejeitados pelo público e lançaram uma grande interrogação sobre como dar continuidade à franquia que mal começou, afinal a DC também tem expectativas de explorar boa parte de seu multiverso.
E não é tão simples quanto parece, pois engloba questões que normalmente o grande público ignora. De um lado Zack Snyder tem um contrato junto à Warner e DC que lhe dá amplos poderes sobre a franquia durante um bom tempo. De outro lado, o cineasta decidiu apostar em um estilo próprio que foge bastante à formulinha consagrada (e em vias de saturação) da rival Marvel. Pode-se até dizer que Snyder exagerou no clima sombrio dos primeiros filmes ou pecou pelo excesso de personagens simultâneos. Mas também é verdade que ele tem bom domínio da narrativa e possui um estilo que funciona muito bem nas cenas de ação. E ainda arrisco a dizer que, apesar disso tudo, ele está flexível a mudanças.
Prova disso é que “Mulher Maravilha” veio com uma pegada bem diferente dos filmes anteriores. A fotografia e a estética em geral oferecem momentos de contraste entre cenas escuras e luzes bastante saturadas. As sequências de ação se intercalam num ritmo bom com passagens mais intimistas. E finalmente o clima obscuro cede passagem a pequenos alívios cômicos. Sim, quem assina a direção é Patty Jenkins, mas não se esqueçam que a história e produção ficaram sob a batuta de Zack Snyder.
O fato é que “Mulher Maravilha” foi bem recebida, acalmando o furor de fãs e críticos. Com isso a DC conseguiu estabelecer alguma confiança para o lançamento seguinte: “Liga da Justiça”. O filme que reúne pela primeira vez no cinema os principais heróis da editora chegou aos cinemas cercado por muitas expectativas. Além do filme em si houve a situação em que Snyder deixou a produção por problemas familiares, deixando a cargo de Joss Whedon concluir o longa.
“Liga da Justiça” peca por introduzir 3 heróis novos, 1 vilão e as Caixas Maternas (que são o motivo da trama do filme) sem explicar muito sobre todos eles. Embora sejam velhos conhecidos dos quadrinhos e suas origens tenham sido guardadas para os filmes solo, é necessário lembrar que boa parte do público é leiga neste universo. Outras passagens que ficaram mal contadas foram o retorno do Superman, as citações a Darkseid e a fuga de Lex Luthor. Mesmo com algumas falhas, “Liga da Justiça” é um bom divertimento e traz alguns sinais de mudanças no universo DC.
Aqueles contrastes de fotografia e clima já apresentados em “Mulher Maravilha” estiveram mais presentes no novo longa, fato que indica a flexibilidade de Snyder sobre o tom obscuro adotado inicialmente. As cenas dirigidas por Joss Whedon, embora sigam as diretrizes de Snyder, conseguiram dar uma oxigenada em termos gerais. Vale destacar que Whedon já dirigiu 7 filmes do universo Marvel e possui vasta experiência nesse subgênero.
O que esperar dos próximos filmes?
Embora a Marvel tenha conseguido abrir uma longa dianteira, não significa que essa vantagem seja perpétua. Os filmes produzidos pela Disney estão seguindo um padrão que tende a se esgotar pela mesmice. “Thor: Ragnarok”, embora divertido, foi um filme muito fraco. A estratégia de entregar repetidamente o “mais do mesmo” que tem agradado aos fãs não vai funcionar durante muito mais tempo.
De seu lado a DC, que possui um multiverso bem mais complexo, começará a entregar filmes solo de figuras importantes intercalados por reuniões de heróis e vilões, fazendo com que cresça a empatia do público para com seus personagens. Para 2018 já temos garantido o lançamento de “Aquaman”. Em 2019 virão “Mulher Maravilha 2” e “Esquadrão Suicida 2”, além de rumores sobre um filme solo da Harley Quinn. Fora estas produções já agendadas, também estão no radar Ciborgue , Flash Shazam, Batgirl, Asa Noturna, Exterminador e alguma liga de vilões liderada por Lex Luthor.
Na produção, roteiro e direção destes filmes estão Zack Snyder, Patty Jenkins e Joss Whedon, cineastas de grande capacidade e experiência. Por trás deles está um grande estúdio pressionando por sucessos de bilheteria que façam frente à concorrência. De modo geral “Mulher Maravilha” e “Liga da Justiça” abriram precedentes que mesclam o melhor de Snyder com inovações necessárias trazidas pelos diretores mais recentes. O fato de estar tudo nas mãos de um trio, pode indicar uma unidade e identidade formidável entre todas as produções. Resta saber se estas cartas serão bem aproveitadas.
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