“Jurassic Park ” ganhou os cinemas, mas antes de tudo, é uma excelente história escrita por Michael Crichton
Com um modo peculiar de contar suas histórias, Michael Crichton desenvolve o enredo de “Jurassic Park” com uma grande introdução que nos cerca de um mistério subtendendo à existência do Parque dos Dinossauros. Ele o faz, por meio de acontecimentos inerentes a história e nos guia por uma linha tênue que desencadeia no caos.
Contudo, “Jurassic Park” não é apenas um livro sobre dinossauros. Ele, na verdade usa o tema sabidamente amado por Crichton, para expor um a questão tocante a época em que foi lançado: a ética sobre o uso da engenharia genética.
Como o próprio autor afirma: esse é o maior poder que o homem obtinha em mãos naquele momento e parafraseando Ian Malcolm, “… manipulam esse poder com uma criança que encontra a arma do pai.”. E, é dessa forma, que a história é contada. Nos é mostrado a falta de amor e de responsabilidade pelo curso natural das coisas e a mesma leva a própria destruição daqueles que subjugam estarem no poder.
Os personagens colocam em perigo aquilo que amam, e aquilo que construíram. Outra reflexão fica a cargo da pergunta: devo fazer, apenas por poder fazer?! Afinal porque trazer dinossauros de volta a vida séria uma boa ideia.
Já no primeiro capítulo, o livro nos recheia de detalhes sobre as características dos dinossauros. Mas, ao mesmo tempo, tenta mantem a informação oculto aos personagens. Fala-se na saliva, no odor, na forma de agir e tudo serve de informação para quem ler. Dessa forma, a história abre um caminho com fatos anexos que levam à história principal. Muita coisa é discutida, até o momento em que os personagens chegam ao “Jurassic Park”.
Existe, nas primeiras cem páginas, bastante explicações e amarração da história. Mas os protagonistas não ´possuem tanto espaço nesse trecho. Deste modo, Crichton, introduz a história sem massificar aqueles que mais na frente assumem terão destaque. Ele somente nos situa de suas principais características.
Após esse ponto, a trama ganha seus melhores contornos, tanto científico, quanto como thriller de científico. A ilha Nublar se mostrar deslumbrante em suas primeiras descrições. Crichton consegue expor muito bem com suas palavras as formas da ilha vulcânica que automaticamente se desenham na nossa cabeça. Com excesso de detalhe nas descrições, ele também nos apresenta os ambientes internos e externos das instalações do parque. Enquanto, utiliza-se de gráficos e arquivos no meio da história para nos mostra como é feito o controle daquele ambiente e dos seus animais.
E, a partir daí, os protagonistas começam a ser mais incisivos. Allan Grant, Ellie Sattler e Ian Malcolm já apresentados ganham diálogos muito bem trabalhados e começam a debater questão que mais a frente passam a ser fundamentais para a história. Enquanto o excêntrico John Hammond (aqui bem diferente e mais perverso que o velhinho que vemos no filme de Steven Spielberg) passa a ganhar um trejeitos de vilão, mesmo que adiante, isso não se confirme completamente – ele é apenas um velho rico, sonhador e sem escrúpulos.
Há de se ressaltar que os melhores diálogos do livro, se dão nos diálogos entre Sattler e Malcolm. E também entre Malcolm e John Hammond. Sendo Malcolm o personagem mais rico da história e conhecidamente, sendo ele a personificação do próprio Crichton. Enquanto isso, Grant traz a carga paleontológica da história, sendo um prato cheio para os fanáticos por dinossauros.
“Porque a história da evolução é de que a vida escapa a todas as barreiras. A vida se liberta. A vida se expande para novos territórios. Dolorosamente, talvez até perigosamente. Mas a vida encontra um jeito.”
Após o clima ameno da chegada na ilha, a tensão que envolve o passei no parque se inicia. E então chegamos a parte de ação incisiva, e os problemas daquele local começam a ganhar clareza. Após a sabotagem de Dennis Nedry, o caos que Malcolm tanto explica começa a se desenhar. Então leitor, nesse momento segurem-se, os dinossauros estão a solta!
Chegamos a fuga no cercado da Tiranossauro é um divisor de águas no ritmo da história. Especificamente nessa passagem, Crichton, mantem o senso de localização do leitor a máximo com descrições, à medida que inúmeras coisas acontecem quando a T-rex atacas os veículos dos visitantes. O excesso de detalhes, até quando se trata da carnificina, consegue transmitir ao leitor o desespero e tensão da situação.
Enquanto isso, a arrogância humana e as discussões sobre a sensação de controle entram em pauta. Os diálogos aqui são precisos, e ao mesmo tempo, por parte de Malcolm, cheios de ironias e exemplos. Os maiores embates são entre Hammond, Henry Wu, Malcolm e Ellie.
“A ciência, como qualquer outro sistema fora de moda, está se destruindo. Conforme adquire mais poder, mais se mostra incapaz de lidar com esse poder. Porque as coisas estão acontecendo muito depressa atualmente. Há 50 anos, todos ficaram de queixo caído por causa da bomba atômica. Aquilo sim era poder. Ninguém poderia imaginar algo além dela. No entanto, menos de uma década depois da bomba, começamos a ter poder genético. E o poder genético é muito mais potente que o poder atômico. E estará ao alcance de todos.”
Enquanto isso, Grant está com as crianças, perdidos na mata. Aqui Crichton aproveita para trabalhar a parte mais aventureira do livro e, ao mesmo tempo, de análise cientifica em tono daquelas criaturas. Nesse caso, Crichton, coloca o personagem certo, no lugar certo, para trazer o que ele quer. Ou seja, usa o paleontólogo para explicar e dar todos os detalhes sobre os dinossauros. É claramente um facilitador para trazer aspectos científicos, e funciona bem. Em contraponto, temos as duas crianças, Lex e Tim, que servem para questionar e também para motivar o personagem de Grant.
Momentos de tensões e mortes com bastante detalhes dividem o trecho mais próximo ao fim do livro, com um pouco mais de ação. Entretanto, diferente dos cinemas, não é com um ápice que a história acaba. No livro, as pontas soltas são presas. Descobrimos mais um pouco sobre a ilha e os problemas ali contidos. E no fim a despedida é um tanto melancólica.
Preciso deixar claro que “Jurassic Park” não é essencialmente um livro sobre dinossauro. Na verdade, ele nos traz uma discussão sensível sobre o poder da genética e como isso é manipulado, ou mais precisamente, era manipulado pelo homem. Extremamente superior ao filme, o livro apresenta uma enorme riqueza de detalhes. Por esse motivo, “Parque dos Dinossauros” (“Jurassic Park”) é uma obra literária que merece ser lida, e não apenas pelos fãs do longa de Steven Spielberg, mas sim por todos que gostam de um bom livro.
Imagens: Divulgação/Aleph
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