“Sabe quem dançou?” foi escrita na década de 1980, mas continua mais atual do que nunca. Escrita por Zeno Wilde, autor prolífico em temas sobre marginalidade, a peça pode ser considerada uma dramédia, pois retrata temas críticos, como corrupção policial, crimes e prostituição, com doses de humor.
Maravilhosamente interpretada por Hermes Carpes, a protagonista da peça é Madonna, receptor de objetos roubados e que abriga jovens em sua casa. A peça está com temporada simultânea no Teatro Vanucci, no Rio de Janeiro e no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo.
Para entender mais sobre a montagem dupla, a peça e a carreira, a Woo! Magazine conversou com Hermes, que além de atuar, também é diretor do espetáculo. Confira a entrevista na íntegra!
Thais Isel – Você se considera mais um ator de teatro ou televisão?
Hermes Carpes – Eu sou um ator que ama o ofício de atuar. Não importa se no cinema, TV ou teatro. Faço mais teatro, pois os convites com personagens interessantes são bem mais frequentes.
Quais as principais diferenças entre as duas possibilidades, especialmente em se tratando de comédia?
Na televisão você consegue fazer rir com apenas um levantar de sobrancelhas. Qualquer deslize a mais, se torna exagero! Já no teatro, você está com todo o corpo e a alma expostos, tem que se jogar mesmo. Não dá pra fazer meia boca.
Como se deu a decisão de voltar com a peça “Sabe quem dançou”?
Este espetáculo toma conta da minha alma de uma maneira que eu não consigo abandonar. Se eu parasse de fazê-lo agora, ficaria muito decepcionado. Cada vez eu descubro um prazer diferente, ele cresce a cada dia e seria um crime parar. A peça tem milhões de motivos para ficar em cartaz por muitos anos. E tem muitas cidades deste país que ainda não viram, não seria justo com eles (risos).
Como é a preparação, ou laboratório, ou de onde você tira inspiração, para seus personagens (especialmente para o Madonna da “Sabe quem dançou?”)?
Este espetáculo caiu nas minhas mãos há muitos anos, logo depois que eu saí da CAL (Casa de Artes de Laranjeiras). Na época eu não tinha idade nem maturidade para fazer um personagem tão complexo como o Madonna (que na época se chamava Vanusa). Então eu decidi esperar o momento certo, pois, quando eu li, parecia que eu estava ao lado do Zeno Wilde quando ele escreveu. Eu entendia cada personagem de dentro pra fora e cada personagem era rico demais.
Eu não queria fazer um teatro de forma descartável, só entreter, eu queria mostrar que aqueles personagens, escritos há 30 anos, ainda estavam bem vivos na nossa sociedade. Então eu parti para laboratórios bem complexos. Frequentei boates de shows de Drag queens (acabei fazendo grandes amizades) e Gogo-boys, saunas e cinemas pornôs.
Convivi com moradores de rua, cracolândia, praças… tudo isso sem um pingo de olhar de julgamento. Apenas com a mente e alma abertas para captar desde o toque que um garoto de programa te aborda, assim como a posição de um personagem como o Madonna tem na sociedade. Devo ter sido considerado louco nestes lugares, pois eu só ouvia e nunca fumava ou transava… só ouvia…(risos). E como estas pessoas querem ser ouvidas!!! As histórias muitas vezes se repetem, mas ninguém é 100% bom ou mau nesta vida.
A peça é ambientada nos anos oitenta, mas algumas características remetem aos dias de hoje, especialmente em relação à milícia e violência urbana. Houve alguma adaptação no roteiro em relação à versão dos anos 90, a fim de gerar mais identificação do público?
Infelizmente não. Mantemos o texto original. O que é triste, pois descobrimos que o país não evoluiu neste assunto por mais de 30 anos. Naquela época já se falava de ” ficha limpa” , “arrego” , “extorsão” e “proteção” de grandes políticos.
Qual a sua parte favorita da peça? Por qual motivo?
A hora que tomo banho. É muito bom dançar pelado! (risos) Mentira! Eu gosto de cada momento do espetáculo, pois nada é gratuito e faz parte de um grande contexto de conscientização e diversão.
Como é se apresentar simultaneamente no Rio e São Paulo?
Todo mundo fala que o Teatro em São Paulo é melhor, mas quem tá em São Paulo acha que no Rio é melhor. Então resolvi tirar esta dúvida. Eu só descobri que gostava mais de Coca-cola ou Pepsi, tomando as duas juntas.
É um prazer gigantesco, mas, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade, ainda mais sem patrocínio. Só desejo que o público aproveite esta oportunidade. Pois tudo é feito com muiiiittoooo trabalho e dedicação para eles.
O que motivou essa ideia de “temporada em dose dupla”?
A loucura que tenho neste espetáculo e na confiança que tenho nos meus primeiros produtores. Até hoje foi uma luta solitária junto aos meus amigos. Mas agora encontrei produtores tão loucos quanto eu que me disseram “vamos lá!”. A frase que os motiva se encaixa totalmente comigo: temos um pé no chão e uma mão nas estrelas… mais ou menos isso (risos)!
Existe previsão da peça ser levada a mais lugares do país?
Desejo muito isso! Já fizemos Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina… mas quero voltar com esta nova montagem e rodar todas as cidades. Todo dia recebo pedidos para levar o espetáculo para vários lugares do país, como Bahia, Goiás, Belém, etc e para fora do país também. Imagina o Madonna se apresentar na terra da Madonna (risos)!?
Quais seus projetos para 2019, para a gente já dar uma palhinha ao público?
Já tenho a autorização e estamos preparando o roteiro do filme “Sabe quem dançou?”. Farei uma comédia de grande sucesso no mesmo papel que foi da Fabiana Karla, chamada “Balaio de Gatos”. Além disso, vou dirigir um espetáculo delicioso chamado “Terapia Doméstica”. E aguardando mais convites para a televisão.
A peça “Sabe quem dançou?” estará em cartaz até o final do mês de setembro. Todas às terças no Teatro Vannucci e às sextas no Teatro Ruth Escobar.
Por Thaís Isel
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